A descolonização passa na RTP2

A Descolonização é uma série documental francesa do ARTE que, em três episódios, conta a história da descolonização em África e na Ásia.

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Como é que a descolonização começou? É a esta pergunta que A Descolonização, uma série documental do canal francês ARTE estreada originalmente em 2019, tenta responder em três episódios, com recurso a narração, imagens de arquivo, animação e excertos de filmes, com música de nomes como Asian Dub Foundation, Kanika Kapoor, Oum ou Leyla McCalla na banda sonora. Conta a história deste processo em África e na Ásia através do ponto de vista dos colonizados, não dos colonizadores, indo contra uma certa narrativa vigente e mostrando como é que as pessoas deixaram de ter medo. A realização é de Karim Miské e Marc Ball, com a ajuda do historiador Pierre Singaravélou. Em Outubro do ano passado, a série deu também um livro.

O primeiro episódio, Aprendizagem, que abrange o período que vai de 1857, com a Revolta dos Cipaios e Manikarnika Tambe na Índia, e 1926, com a Guerra do Rife, em Marrocos, e Abdelkrim el-Khattabi, passou na semana passada na RTP2 e está disponível na plataforma RTP Play. A narração começa mesmo com perguntas: “Em que dia começa a luta?”; “Como é que se inicia?”; “É resultado da faísca que incendeia a revolta?”

A conclusão é que a descolonização começou no preciso momento em que se iniciou a colonização e olha para as justificações pseudocientíficas para a supremacia branca, como a craniologia/frenologia, que media perímetros de crânios e concluía que os do homem branco eram maiores e superiores, e como esta foi desacreditada por Anténor Firmin, o antropólogo haitiano que escreveu Sobre a igualdade das raças humanas. O episódio também nos mostra várias outras figuras. São pessoas como a missionária e fotógrafa Alice Seeley Harris, que ajudou a alertar o mundo para a brutalidade do colonialismo no Congo debaixo do regime de Leopoldo II da Bélgica e a forma como este lidava com a exploração de borracha, a activista queniana Mary Muthoni Nyanjiru e o activista senegalês Lamine Senghor. 

O segundo episódio, Libertação, que vai de 1927 a 1954, saltitanto entre a Argélia, o Quénia, o Vietname e a Índia, passa esta quarta-feira, à meia-noite, sendo que o terceiro e último, que foca a era pós-colonial e as independências a partir de 1956, com o pensamento do psiquiatra e filósofo da Martinica Franz Fanon, é transmitido uma semana depois. A série completa, no francês original, narrada pelo actor Reda Kateb, sobrinho-neto de uma figura mencionada na série, Kateb Yacine, escritor argelino que era activista da causa berbere, e sem legendas, está disponível no canal de YouTube do ARTE – a locução portuguesa da versão que passa na RTP é de João Branco. A cronologia vai até 2013, ano em que os Mau-Mau do Quénia conseguiram fazer com que a coroa britânica os compensasse pela brutalidade da tortura de que foram alvo nos anos 1950, aquando da chamada Revolta dos Mau-Mau.

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