Fitch diz que peso das moratórias na banca portuguesa “é extremamente alto”

Agência de rating diz que “a qualidade dos activos será o mais importante” e que será “crucial” encontrar um “caminho de saída credível para os tomadores de crédito, para os bancos e para a economia”.

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Fitch antevê que os bancos mais fracos registem prejuízos durante o ano Antonio Bronic

A agência de rating Fitch crê que 2021 será “um ano fraco para os bancos portugueses” devido à necessidade de provisionamento, disse esta quinta-feira numa conferência online o analista Rafael Quina.

“Esperamos que 2021 seja um ano fraco para os bancos portugueses, e o perfil financeiro de alguns agentes será ainda mais fraco ou mais afectado que em 2020”, disse este analista numa conferência organizada pela Fitch acerca de Portugal e da Grécia.

O analista referiu que em termos de rentabilidade, “2020 já foi um ano fraco”, com a receita dos bancos a erodir “devido às baixas taxas de juro e concorrência feroz”. Para 2021, os lucros operacionais deverão “baixar ainda mais”, com os bancos mais fracos a poderem “registar prejuízos” durante o ano.

“Isto acontece porque nós não esperamos uma recuperação impressionante nas receitas”, disse o analista da Fitch, elencando que as provisões “deverão permanecer gradualmente em 2021, à medida que os bancos gradualmente saem das moratórias”.

Em termos de qualidade dos activos, a Fitch afirma que “as coisas melhoraram bastante desde 2016 e 2020 ainda mostrou algum progresso modesto”, mas em 2021 poderá haver “muitas avaliações negativas devido à proporção de empréstimos em moratória”.

As moratórias “chegaram a um nível incrível de mais de 45 mil milhões [de euros] em Setembro, o que representa cerca de 24% da carteira de crédito à mesma data”, assinalou o analista da agência de notação financeira, com 20% em habitação e 30% para empresas, “o que é extremamente alto”.

Em 2021, “a qualidade dos activos será o mais importante, em particular tendo em conta a última parte das moratórias, sobre a qual há tanta incerteza”, defendeu. “Será mesmo crucial encontrar um caminho de saída credível para os tomadores de crédito, para os bancos e para a economia”, salientou.

Rafael Quina disse ainda que grandes vendas de crédito malparado poderão ter um efeito positivo para os bancos e reduzir o impacto da crise.

Apesar de a banca portuguesa estar “mais resiliente” agora que no início da anterior crise, “as “almofadas” de capital estão mesmo vulneráveis no caso de uma descida prolongada [da economia], cuja probabilidade aumentou com o novo confinamento imposto ao país”.

Em 2020, a capitalização do sistema bancário “correu relativamente bem, excepto para o Banco Montepio e para o Novo Banco”, assinalou o analista, realçando o “ponto de partida mais forte” do BPI, BCP e Santander Totta.

O analista indicou também que os bancos portugueses estavam atrás dos italianos e espanhóis à entrada da crise, e com piores perspectivas por parte da Fitch.

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