Sporting vive os “loucos minutos 90”: o “leão” é perito em golos tardios

Há quem chame “estrelinha” de campeão, atribuindo mais fortuna do que mérito, e quem fale de perseverança e garra. Seja qual for o prisma escolhido, há algo que não depende de interpretações: é que o Sporting é, por agora, uma equipa “viva” até ao apito final dos jogos.

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Matheus Nunes marcou aos 90+3' no derby frente ao Benfica Reuters/PEDRO NUNES

Uma equipa que “baixe a guarda” frente ao Sporting antes do apito final do árbitro presta-se, por estes dias, a assinar uma sentença de morte. Esta conclusão sai da análise à tremenda eficácia finalizadora do líder do campeonato nacional quando os jogos entram nos minutos finais – como provou nesta segunda-feira, frente ao Benfica, e, num exemplo supremo, com a presença na final da Taça da Liga garantida “fora de horas”.

Há quem chame “estrelinha” de campeão, atribuindo mais fortuna do que mérito, e quem fale de perseverança e garra, identificando uma valência importante da equipa “leonina”. Seja qual for o prisma escolhido, há algo que não depende de interpretações: é que o Sporting é, por agora, uma equipa “viva” até ao apito final dos jogos.

“Os loucos minutos 90” são a tendência lançada pelo Sporting em Portugal e é uma “moda” nunca vista nos últimos campeões nacionais. Cinco dos 34 golos dos “leões” no campeonato chegaram já dentro dos 90 minutos – cerca de 15% –, algo que não tem paralelo neste milénio.

Nunca houve equipa assim

Para encontrar um registo semelhante (mas menor, ainda assim) é preciso recuar 16 épocas e olhar para o que foi o Benfica campeão com Giovanni Trappatoni. Em 2004/05, a equipa comandada pelo técnico italiano marcou seis dos seus 51 golos (cerca de 12%) já após o minuto 90.

Registo também ele considerável em matéria de golos tardios, mas ainda assim inferior ao do actual Sporting que, mantendo o actual registo de golos e respectiva distribuição no tempo de jogo, acabaria esta temporada com quase nove golos após os 90’.

Dois outros campeões nacionais andaram perto do Benfica de Trappatoni: foi o FC Porto campeão em 2005/06, que somou cinco golos após os 90’ (cerca de 10% do total), e o campeão da época passada, que obteve também uma mão-cheia de golos nesse período (6,8% do total). Ambos longe, ainda assim, do actual registo “leonino”.

Mas há mais. Alargando a análise aos golos marcados após os 75 minutos, com ajuda dos dados do Transfermarkt, é possível perceber que também não houve, neste século, um campeão nacional tão castigador dos adversários já no último quarto de hora das partidas.

O Sporting leva 12 golos marcados nesse período, que correspondem a mais de 35% do total. Registo semelhante, mas inferior, só mesmo o do FC Porto de Vítor Pereira, que foi campeão marcando 24 dos seus 69 golos após os 75 minutos – um pouco menos de 35%.

Mantendo o actual registo de golos o Sporting acabaria esta temporada com quase 26 após os 75’. Estes seriam registos totalmente inéditos e, tirando este FC Porto, bem longe de todos os outros campeões nacionais deste século de Liga portuguesa.

Ainda no espectro dos últimos 15 minutos, nota para uma equipa que não foi das mais capazes do século nesse capítulo, mas que somou, ainda assim, um registo razoável: o último Sporting campeão, em 2001/02, fez 19 golos no último quarto de hora das partidas (cerca de 26%).

Que peso tem na pontuação?

Alguns dirão que marcar no final dos jogos não é, por si só, um dado contundente, já que o resultado poderia já estar desequilibrado nesse momento.

Em resposta a esse raciocínio, os números mostram que a proficuidade dos “leões” em tempo de compensação (cinco golos) valeu dois importantes triunfos: a já referida vitória frente ao Benfica, por cortesia de Matheus Nunes, e os três pontos somados frente ao Farense, patrocinados pelo penálti de sucesso de Andraz Sporar – jogador que, se quiser marcar golos “fora de horas”, terá de o fazer em Braga, depois de ser envolvido no negócio de Paulinho.

Num exercício especulativo – já que os “leões”, não tendo marcado naqueles momentos, poderiam tê-lo feito nos minutos seguintes –, essas duas vitórias teriam, provavelmente, sido dois empates. Tal equivale a dizer que o Sporting teria menos quatro pontos do que tem e que a vantagem para o FC Porto seria nula e a diferença para Sp. Braga e Benfica seria de cinco pontos em vez dos actuais e pesados nove.

Por fim, o caso supremo que atesta tudo isto: o Sporting já pôde caminhar para um título com recurso à veia goleadora tardia. A meia-final da Taça da Liga foi resolvida por Jovane Cabral, que bisou já dentro dos minutos finais: empatou o jogo aos 86’ e resolveu-o aos 90+2’.

*Artigo actualizado às 12h, com correcção ao jogo resolvido por Jovane Cabral (meia-final e não a final, como inicialmente publicado).

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