Quem é Min Aung Hlaing, o chefe dos militares que tomaram o poder na Birmânia

No centro do golpe militar na Birmânia que levou à detenção de Aung San Suu Kyi está Min Aung Hlaing, um general que assumiu o comando do Exército em 2011 e desde então tem ascendido na política birmanesa. Em 2019, foi alvo de sanções por parte dos Estados Unidos devido à perseguição aos muçulmanos rohingyas.

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Min Aung Hlaing assumiu o poder após o golpe militar. Chefia as Forças Armadas desde 2011 LYNN BO BO/EPA

O poderoso chefe militar da Birmânia, o general Min Aung Hlaing, está no centro das atenções depois de políticos do partido de Governo Liga Nacional para a Democracia (NLD) terem sido detidos e o Exército ter assumido o poder.

Os militares da Birmânia são notoriamente reservados e mesmo os analistas mais sofisticados sabem pouco sobre o seu funcionamento interno.

Aqui estão alguns factos importantes sobre o seu líder e sobre o papel duradouro do Exército no sistema político:

Papel dos militares na política

Os militares governaram o país directamente durante perto de 50 anos, depois de um golpe em 1962, e há muito que se vêem a si próprios como os guardiões da unidade nacional.

Enquanto arquitectos da Constituição da Birmânia de 2008, os militares consagraram um papel permanente para si próprios no sistema político. Têm uma quota de 25% dos assentos parlamentares e o seu chefe nomeia os ministros da Defesa, do Interior e das Fronteiras, garantindo um papel-chave na política, o que gerou um estranho acordo de divisão de poder com a NLD.

Muitos membros do partido, incluindo a líder Aung San Suu Kyi, foram perseguidos durante anos por se oporem à antiga Junta.

Ascensão lenta e firme

Min Aung Hlaing, de 64 anos, esteve afastado do activismo político generalizado na época em que estudou Direito na Universidade de Rangoon , entre 1972 e 1974. “Ele era um homem de poucas palavras e normalmente mantinha um perfil discreto”, disse um dos seus colegas à Reuters em 2016.

Enquanto outros estudantes se juntaram a manifestações, Min Aung Hlaing concorria anualmente à principal universidade militar, a Academia de Serviços de Defesa (DSA), sendo bem-sucedido à terceira tentativa, em 1974.

De acordo um membro da sua turma na DSA, que falou com a Reuters em 2016 e que ainda vê o chefe do Exército nas reuniões anuais do curso, Min Aung Hlaing era um cadete mediano. “Ele foi promovido regular e lentamente”, disse o colega de turma, acrescentando que ficou surpreendido ao ver Min Aung Hlaing subir além de cargos oficiais intermédios.

De soldado a político

Min Aung Hlaing assumiu o comando do Exército em 2011, enquanto a transição para a democracia começava. Diplomatas em Rangoon disseram que, no início do primeiro mandato de Suu Kyi em 2016, Ming Aung Hlaind, um soldado taciturno, se transformou num político e figura pública.

Os analistas notaram a sua utilização do Facebook para divulgar as suas actividades e reuniões com dignitários e visitas a mosteiros. O seu perfil oficial atraiu centenas de milhares de seguidores até ser bloqueado na sequência da ofensiva do Exército com a minoria muçulmana rohingya em 2017.

Min Aung Hlaind estudou outras transições políticas, disseram à Reuters diplomatas e analistas, e enfatizou a necessidade de evitar o caos visto na Líbia ou noutros países do Médio Oriente após as mudanças de regime em 2011.

O comandante das Forças Armadas nunca deu qualquer sinal de estar preparado para abdicar dos 25% de assentos parlamentares destinados aos militares, nem de permitir qualquer alteração na cláusula da Constituição que impede Suu Kyi de se tornar Presidente.

As recentes queixas do Exército quanto a irregularidades nas listas das eleições gerais de 8 de Novembro, que, tal como o esperado, deram outra vitória arrebatadora ao partido de Suu Kyi, foram acompanhados por comentários enigmáticos sobre abolição da Constituição.

Min Aung Hlaing prolongou o seu mandato no comando das Forças Armadas por mais cinco anos em Fevereiro de 2016, um passo que surpreendeu os analistas, que esperavam que se afastasse naquele ano durante uma remodelação regular no Exército.

Sanções

A repressão militar na Birmânia em 2017 levou a que mais de 730 mil muçulmanos rohingyas fugissem para o vizinho Bangladesh. Investigadores das Nações Unidas disseram que a operação militar birmanesa incluiu assassínios em massa, violações em grupo e incêndios generalizados, executados com “intenção genocida”.

Em resposta, os Estados Unidos impuseram sanções a Min Aung Hlaing e três outros líderes militares em 2019, e vários processos judiciais em tribunais internacional, incluindo no Tribunal Penal Internacional, estão em curso.

Também em 2019, investigadores das Nações Unidas instaram os líderes mundiais a imporem sanções financeiras direccionadas às empresas ligadas ao Exército.

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