Vacinação de idosos com doenças arranca esta semana só no Norte e na região de Lisboa

Pessoas a partir dos 50 anos com patologias mais graves ficam para mais tarde. Cada Agrupamento de Centros de Saúde terá de ter pelo menos um ponto de vacinação, mas médico defende que um só não chega.

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O plano de vacinação da covid-19 entra esta semana numa nova etapa Daniel Rocha

Vai ser um arranque simbólico, tal como aconteceu com o início da vacinação dos profissionais de saúde em Dezembro. Esta semana vai começar a operação de vacinação contra a covid-19 no grupo dos idosos a partir dos 80 anos – serão imunizados primeiro apenas os que têm doenças , mas só nas regiões do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo em alguns centros de saúde, de forma a testar o modelo que mais tarde será alargado a todo o país, até porque as doses de vacinas ainda são escassas.

O coordenador do grupo de trabalho (task force) responsável pela execução do plano nacional de vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos, explicou ao PÚBLICO que nesta nova etapa da primeira fase que inclui vários grupos prioritários a operação vai começar pelos idosos a partir dos 80 anos e doenças associadas, ficando para mais tarde as pessoas a partir dos 50 anos com patologias mais graves. Esta semana, Portugal recebe vacinas da Pfizer e da Moderna, já que as primeiras doses da AstraZeneca só chegam no próximo dia 9. 

Este domingo ao final da tarde, Francisco Ramos não sabia precisar quantas vacinas vão estar disponíveis no arranque da nova etapa, justificando que este é um processo sempre em evolução e com imprevistos. “Ainda hoje [ontem], uma carrinha que transportava 10.800 doses da vacina da Moderna teve um acidente em Madrid. Felizmente acabou tudo resolvido sem problemas e as doses já estão novamente a caminho”, exemplifica. O coordenador da task force adianta que nos próximos dias vai-se testar o sistema de marcação das vacinas nas regiões do Norte e Lisboa e Vale do Tejo, que, para já, vão ser administradas nos centros de saúde.

Depois dos profissionais de saúde e dos funcionários e residentes em lares, esta segunda etapa inclui dois novos grupos prioritários, num universo que é muito grande – são cerca de 400 mil pessoas a partir dos 50 anos com as quatro patologias associadas a maior risco de mortalidade e morbilidade (doença coronária, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doença pulmonar obstrutiva crónica), além de mais cerca de 340 mil idosos a partir dos 80 anos, mesmo os saudáveis.

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No Norte, em cada Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) está já a ser criado um centro de vacinação, mas poderá haver mais do que um e, se as condições não forem suficientes, os ACeS podem pensar em soluções alternativas, que ficarão sob a sua coordenação, explicou ao PÚBLICO a assessoria da Administração Regional de Saúde (ARS).

A ARS de Lisboa e Vale do Tejo confirma também que a vacinação arranca na região esta semana, mas adianta apenas que “os centros de saúde vão organizar-se”, sem mais detalhes. Já a assessoria da Câmara Municipal de Lisboa revelou ao PÚBLICO que a vacinação em mais larga escala arrancará a partir da próxima segunda-feira em sete locais espalhados pela cidade que ainda estão a ser preparados.

Um porta-voz da ARS do Centro avançou que esta nova etapa deverá começar no próximo dia 8, ou seja, na próxima segunda-feira. “Esta semana ainda estaremos a administrar a segunda dose da vacina em lares.”

Ainda assim, no Norte há quem anuncie que se adiantou. A Câmara de Gondomar afirma que vai começar, em princípio já nesta terça-feira, a vacinar pessoas a partir dos 80 anos e a partir dos 50 anos com patologias mais graves no Pavilhão Multiusos da cidade. Serão cerca de 13 mil pessoas no total, ao ritmo de 250 por dia, explica a autarquia. 

Mas o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Manuel Machado, sublinha que o levantamento de equipamentos públicos que poderão vir a ser utilizados no caso dos centros de saúde não serem suficientes ainda está a ser feito. “Estão a ser equacionadas várias soluções, dependendo sempre do ritmo de chegada das doses”, frisou. Coimbra já disponibilizou, caso seja necessário, o Pavilhão Multidesportos Mário Mexia. “Há disponibilidade de instalações, mas é preciso ter disponibilidade de vacinas”, enfatiza.

“Acho bem que deixem ao critério dos ACeS a decisão de onde instalam centros de vacinação, mas um centro não basta, terão que ser três, quatro ou cinco por ACeS porque não será razoável fazer as pessoas deslocarem-se 40 a 50 quilómetros”, defende o ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, que não vê com bons olhos que nesta fase a inoculação seja realizada em pavilhões municipais. “Estamos a falar de pessoas com patologias e com idade avançada, seria absurdo. Depois de Abril, quando a vacinação em massa arrancar, isso já pode fazer sentido.”

Também esta semana deverá começar a ser vacinado metade do quadro activo dos bombeiros e de comando. Até segunda-feira as corporações de bombeiros terão que enviar para as respectivas ARS a listagem de quem vai ser vacinado de acordo com os critérios previamente estabelecidos. “Até sexta-feira vamos vacinar entre 650 a 700 bombeiros”, estima Vaz Pinto, o comandante regional do Algarve. A prioridade vai para os operacionais que fazem emergência pré-hospitalar, transporte de passageiros e para os assalariados que trabalham diariamente nas corporações, além de, pelo menos, um membro do comando. 

Um outro responsável da Protecção Civil explicou que, nesta fase, ainda não é claro se as autoridades de saúde terão necessidade de recorrer a instalações fora da sua alçada para fazer a vacinação. Já foram feitos no ano passado levantamentos de locais disponíveis para utilizar durante a pandemia, que terão que ser avaliados para se verificar se cumprem as regras exigidas. A última palavra caberá às autoridades de saúde.

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