Vacina da AstraZeneca: Alemanha não quer idosos nas prioridades, Itália recomenda alternativas

Alemanha e Itália estão preocupadas com a falta de dados sobre a eficácia da vacina da AstraZeneca em pessoas com mais de 65 anos. Agência Europeia de Medicamentos acredita que a vacina protege idosos.

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Reuters/LEE SMITH

O governo alemão pondera deixar as pessoas com mais de 65 anos fora do acesso prioritário à vacina da AstraZeneca contra a covid-19 por suspeitar de falta de eficácia neste grupo etário, admitiu este domingo o ministro da Saúde. O mesmo problema levou o regulador do medicamento italiano e recomendar alternativas a esta vacina, que chega a Portugal a 9 de Fevereiro.

Um dia depois da aprovação da vacina pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) – a terceira, após a autorização às vacinas desenvolvidas pela Pfizer/BioNTech e pela Moderna —, o executivo alemão reitera a sua desconfiança, seguindo o conselho dos seus peritos, que alegam que “não existem dados suficientes para fazer uma declaração sobre a eficácia” da vacina nos idosos.

“Teremos agora de rever a ordem de vacina” devido às “limitações de idade da vacina da AstraZeneca”, afirmou Jens Spahn que assegurou querer “aplicar” a recomendação emitida pelos especialistas nacionais, em sentido contrário à posição da EMA, que autorizou a introdução da vacina no mercado sem restrições etárias acima dos 18 anos.

A autorização oficial das autoridades alemãs deve ser conhecida no início da próxima semana, uma vez que a chanceler Angela Merkel convocou uma reunião com as entidades sanitárias sobre o assunto para segunda-feira.

Jens Spahn apontou a administração da vacina preferencialmente aos profissionais de saúde, num momento em que, segundo o Instituto Robert Koch de Vigilância Sanitária, 2,2% da população alemã tinha recebido pelo menos uma dose de vacina até sexta-feira.

Numa atitude semelhante, a Itália recomendou a adopção de alternativas à mesma vacina para os cidadãos com mais de 55 anos, apesar de ter autorizado a administração em todos os adultos. “A Agência Italiana de Medicamentos (AIFA) autoriza a vacina da AstraZeneca para a prevenção da doença covid-19 em pessoas com mais de 18 anos de idade, como recomendado pela Agência Europeia do Medicamento”, adiantou o organismo, observando, porém, “um grau de incerteza” quanto à eficácia em pessoas com mais de 55 anos, uma vez que este grupo etário está “mal representado” nos ensaios.

Nesse sentido, a AIFA preconizou “o uso preferencial da vacina AstraZeneca, na pendência de mais dados, em indivíduos com idades compreendidas entre os 18-55 anos”, e aconselha “o uso preferencial de vacinas de RNA mensageiro para indivíduos mais velhos e/ou mais frágeis”. A mesma preocupação já havia sido expressa pelas autoridades alemãs em relação à eficácia da vacina em pessoas com mais de 65 anos.

EMA acredita que existe protecção

No mesmo dia e que aprovou a vacina, a EMA reiterou que os ensaios clínicos não fornecem muitos dados sobre a eficácia da vacina em pessoas com idades a partir dos 55 anos – a Universidade de Oxford, que desenvolveu a vacina, e a AstraZeneca, o seu parceiro comercial, não incluíram muitas pessoas mais velhas nos seus ensaios clínicos, e este grupo etário é o mais afectado pelo novo coronavírus. “Foram dados difíceis de interpretar”, disse Emer Cooke, a directora da EMA.

“No entanto, espera-se que haja protecção, uma vez que se regista uma resposta imunitária neste grupo etário, com base na experiência com outras vacinas”, diz o comunicado da EMA. “Como há informação de confiança sobre a segurança das vacinas nesta população, os peritos da EMA consideraram que a vacina poderá ser usada em adultos mais velhos.”

A agência europeia baseou a sua avaliação de segurança da vacina essencialmente nos ensaios clínicos realizados no Brasil e no Reino Unido, pois os outros dois ensaios tiveram menos de seis casos de covid-19 cada um. No Brasil e no Reino Unido, os participantes eram todos bastante jovens. Aguarda-se, no entanto, que surja mais informação dos estudos que continuam a decorrer, para confirmar a eficácia e segurança da vacina da AstraZeneca.

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