Zero máscaras, cem bolhas: os concertos dos Flaming Lips em pandemia

Em Oklahoma, a banda americana protagonizou duas actuações que ficarão guardadas como retrato surreal dos tempos que correm: músicos a tocar, espectadores a dançar, uns e outros enfiados em bolhas de plástico gigantes.

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Os concertos aconteceram na última sexta-feira e sábado no Criterion, em Oklahoma, perante uma assistência de 200 pessoas Reuters/FLAMING LIPS/WARNER MUSIC
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São dois dos versos mais citados de Leonard Cohen. Estão em The future e dizem assim: “I’ve seen the future, brother/ It is murder”. Menos sombrios (ou realistas, dependendo da perspectiva), os Flaming Lips deram corpo a uma variação da profecia de Cohen em dois concertos em Oklahoma, cidade natal da banda americana. “I’ve seen the future, brother/ It is bubbles”. Bolhas, portanto. Dois concertos 100% seguros em tempos de pandemia, ilustrativos como nenhum outro dos tempos que atravessamos. Na sala The Criterion, sexta-feira e sábado passados, ouviram-se clássicos como Do you realize? e Race for the prize, que o público acompanhou dentro de bolhas insufláveis gigantes, e que a banda interpretou enfiada em bolhas semelhantes. Vimos o futuro?

A ideia foi resultado, obviamente, do génio delirante de Wayne Coyne, o vocalista e compositor que, muitos anos antes da pandemia, já tinha por hábito passear-se sobre o público dos concertos dos Flaming Lips dentro de uma bolha semelhante à que agora acolheu os espectadores dos concertos em Oklahoma – inicialmente previstos para Dezembro, foram adiados um mês devido a um pico de infecções naquele estado americano.

À entrada no The Criterion, o público deparava-se com cem bolhas dispostas no chão, cada uma podendo albergar até três pessoas. No interior, uma coluna áudio, para impedir que o som dentro da bolha soasse abafado, uma garrafa de água, uma ventoinha, uma toalha e uma placa para alertar os vigilantes da necessidade de ir à casa de banho ou que a temperatura no interior da bolha subira demasiado. “Vai ser mais seguro do que ir à mercearia”, afirmou Wayne Coyne antecipando os concertos.

A banda, fundada no início dos anos 1980 e um dos nomes mais celebrados, criativos e excêntricos, na vertente psicadélica do termo, da música independente das últimas décadas, testou a ideia pela primeira vez numa aparição no Late Show With Stephen Colbert, em Junho, seguida de outra actuação no interior de bolhas, desta vez no Tonight Show With Jimmy Fallon, em Setembro. Seguiu-se então um concerto de teste na mesma sala a que agora regressaram. “Assim que começou, vias pessoas entusiasmadas, pessoas a serem felizes e a divertirem-se verdadeiramente”, comentou Wayne Coyne na altura, citado pela CBS News.

Aquilo que começara como uma meia brincadeira, com o vocalista a divulgar nas redes sociais uma ilustração, assinada por si, de como imaginava um concerto nesse formato, tornava-se a partir daquele momento uma realidade a que a banda desejava voltar de forma mais consistente. Aconteceu agora.

“É um acontecimento muito restrito, bizarro. Mas a bizarria está lá para que possamos apreciar um concerto sem pôr as nossas famílias e toda a gente em risco”, dizia Coyne em Dezembro à Rolling Stone. E assim, enfiadas em bolhas gigantes, dançando em bolhas gigantes antes de as fazer rolar até à saída da sala, no final, e voltar ao mundo mascarado, 200 pessoas acompanharam as canções do álbum mais recente, American Head, editado em 2020, e ouviram, por exemplo, a supracitada Race for the prize, extraída de The Soft Bulletin, um dos álbuns clássicos da banda.

Canção de abertura de um disco editado em 1999, é estranhamente adequada a este tempo de pandemia, máscaras e corrida às vacinas. Começa assim: “Two scientists are racing/ For the good of all mankind/ Both of them side by side/ So determined”.

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