Conservas com azeite biodinâmico? Só mesmo as renascidas Valflôr

A marca recuperada em 2019 aposta nos produtos biológicos e no azeite proveniente de agricultura biodinâmica. Às oito variedades já lançadas no mercado espera juntar, em breve, outras seis. Confinados que estamos, outra vez, porque não experimentar conservas novas?

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Adriano Miranda

Filetes de cavala em molho de mostarda, polvo em azeite com salsa, atum em molho de tomate, sardinhas em azeite com algas, paté de sardinha e paté de cavala. A descrição já é, por si só, suficiente para fazer crescer água na boca. A lista dos novos produtos que as conservas Valflôr se preparam para lançar, este ano, no mercado faz justiça à filosofia que a marca tem vindo a assumir nesta que é já a sua segunda vida: inovar, sem deixar de respeitar a tradição. Ressuscitada em 2019, a Valflôr já aposta em ligações que não param de surpreender e conquistar os consumidores – os filetes de cavala em azeite com piripíri e os filetes de atum em óleo de coco, sultanas e alecrim, são apenas dois exemplos. Melhor ainda: a marca cuja história remonta aos anos 1960/70 do século passado está agora focada nos ingredientes 100% biológicos.

“O próprio nome, Valflôr, está em consonância com este novo posicionamento”, repara José Nero, o empresário, de 63 anos, que “ressuscitou” a marca outrora produzida na Fábrica Nacional de Conservas, em Setúbal, que chegou a pertencer ao seu pai, Amadeu Rodrigues Nero. A preocupação com os produtos é de tal ordem que no crivo das seis variedades que contêm azeite só passa o Olival da Risca, proveniente de agricultura biodinâmica. “Somos os únicos a ter conservas com este tipo de azeite”, realça José Nero, notando que a agricultura biodinâmica vai além da agricultura biológica, prestando muita atenção a outras questões, como a apanha ou as fases da lua - a agricultura biodinâmica tem como base as energias vitais da natureza, deixando em segundo plano as necessidades materiais.

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Adriano Miranda

Às variedades com azeite, e à opção do óleo de coco, junta-se a não menos nobre proposta de filetes de atum ao natural, com água de Monchique, produto ao qual José Nero junta a cópia de uma carta muito especial. Há cerca de 30 anos, o empresário com uma profunda ligação ao sector das conservas foi desafiado, pelo médico Emílio Peres (1932-2003), “a fazer umas conservas dietéticas”. “Fiz o atum em água; ele gostou muito e escreveu-me uma carta a dar nota de que tinha gostado e as recomendava”, recorda. É essa carta escrita pelo médico que muitos consideram ser o “pai dos nutricionistas portugueses” que surge reproduzida no papel que embrulha a lata, uma vez que o método de produção, garante José Nero, mantém-se fiel ao original. “A única diferença é que, em vez da água de companhia, uso água de Monchique”, aponta.

Outro dos produtos estrela da Valflôr reside na conserva de bacalhau em azeite e alho, assim como na opção de sardinhas sem espinha em azeite. No fundo, repara o empresário de Matosinhos, é também a variedade que a distingue de outras marcas de conservas biológicas. “Além da sardinha e do atum, mais comuns no mercado, nós já vamos com o bacalhau e a cavala”, vinca.

Uma família numerosa

Ainda que seja especial, a Valflôr acaba por ser apenas uma das várias marcas históricas das Conservas Nero, fazendo parte desse lote onde se destacam as Georgette, Catraio, Naval e Açôr. O que as une? “O método de fabrico que se mantém tradicional” e “a utilização de alguns ingredientes que não eram usados normalmente nas conservas”, declara o empresário. A lista de opções disponíveis aí está para o comprovar: atum com algas da ria de Aveiro, atum com presunto de Chaves e azeitonas de Elvas DOP, atum com alecrim BIO da Serra da Arrábida, atum com chicharos de Alváiazere e salicórnia da Figueira da Foz, entre outras. O importante é que sejam produtos genuínos e portugueses. O único “estrangeiro” que teve permissão para entrar na “família” foi o tomate seco da Sicília, Itália.

Para cada marca e gama que ajudou a renascer, José Nero apostou em imagens e rótulos “retro”, honrando a história da sua própria família e que começou por ser protagonizada pelo seu avó - inicialmente em Sesimbra, passando depois para Matosinhos. “Respeitamos sempre as imagens antigas, originais”, testemunha.

O único produto que tem uma imagem contemporânea é o peixe de espada preto de Sesimbra, “porque é, de facto, uma inovação, nascida em 2011”, repara.

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O grupo das Conservas Nero preserva marcas com mais de 100 anos de história. A marca Georgette, por exemplo, pertence à família desde 1912 – antes disso, era propriedade da antiga Companhia Nacional de Conservas, fundada em 1888, em Sesimbra. Já a marca Catraio está na origem da primeira fábrica Nero, sublinha o empresário, que desde 2010 tem vindo a retomar um curso interrompido em meados dos anos de 1990, nesse período em que terão encerrado em Portugal mais de 20 fábricas conserveiras.

Nesta nova fase, José Nero optou por aliar-se à Faropeixe, empresa sediada em Olhão e especializada na produção de patés e conservas de peixe, para fabricar as suas conservas. “Eles preservam os métodos artesanais de produção, com inovação nos processos de fabrico, e têm assegurado uma produção de grande qualidade”, justifica. Outra das empresas com qual tem vindo a trabalhar em parceria é a Vertente dos Sabores, que assegura a distribuição da gama Valflôr para o sector dos produtos biológicos.

Orgulhoso destes dez anos de “renascimento”, José Nero está de olhos postos no futuro, determinado em fazer crescer o negócio. “A aposta tem de passar por inovar, procurar novos produtos, mas obedecendo sempre à lógica da tradição portuguesa”, afiança o detentor das marcas que têm ousado, por exemplo, aliar o atum aos pimentos em vinagrete, ao chouriço de cebola, às amêndoas torradas e feijão-verde e ao alho francês. Neste momento, as Conservas Nero já têm sete marcas activas.

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