A perda de gelo nas últimas décadas cumpre os “piores cenários” científicos

Estima-se que, para cada centímetro de elevação do nível do mar, cerca de um milhão de pessoas correm o risco de serem deslocadas das zonas mais baixas e costeiras.

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Glaciar junto à estação de investigação argentina Esperanza Reuters

A Terra perdeu 28 triliões de toneladas de gelo nas últimas décadas, o equivalente a uma camada de 100 metros de espessura a cobrir o Reino Unido, cumprindo os “piores cenários” científicos.

Uma equipa de cientistas liderada pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, efectuou um levantamento da perda global de gelo utilizando dados de satélite e constatou que, nos últimos trinta anos, verificou-se uma redução significativa com potenciais reflexos no aumento do nível do mar, que terá “impactos muito sérios nas comunidades costeiras neste século”.

O estudo, que envolveu outras instituições de investigação e que foi publicado na revista científica de acesso aberto The Cryosphere, concluiu que se registou um aumento de 65% na taxa de perda de gelo durante anos da investigação científica, verificando-se aumentos acentuados nas perdas dos mantos polares na Antárctida e na Gronelândia.

“Embora todas as regiões que estudamos tenham perdido gelo, as perdas nas camadas da Antárctida e da Gronelândia foram as que mais se aceleraram”, alertou Thomas Slater, investigador principal do estudo, ao assegurar que essa situação está a cumprir os “piores cenários de aquecimento climático” estabelecidos pelo Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC).

Nas últimas três décadas, tem havido um grande esforço internacional para entender a evolução do sistema de gelo da Terra, que tem sido impulsionado por satélites “que permitem monitorar rotineiramente as vastas e inóspitas regiões onde o gelo pode ser encontrado”.

“Este estudo é o primeiro a combinar esses esforços, observando o gelo que está a ser perdido em todo o planeta”, assegurou Thomas Slater, ao explicar que o aumento da perda de gelo foi desencadeado pelo aquecimento da atmosfera e dos oceanos em 0,26 graus e 0,12 graus por cada década, desde 1980.

De acordo com o estudo, o aumento da temperatura atmosférica tem sido o principal factor para o declínio do gelo do Árctico e dos glaciares de montanhas em todo o mundo, enquanto o aumento da temperatura do oceano acelerou o derretimento da camada de gelo da Antárctida.

A investigação conclui ainda que cerca de metade da perda de gelo detectada verificou-se em terra — em glaciares de montanha, na Gronelândia e na Antárctida —, o que elevou o nível global do mar em 35 milímetros.

Estima-se que, para cada centímetro de elevação do nível do mar, cerca de um milhão de pessoas correm o risco de serem deslocadas das zonas mais baixas e costeiras.

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