Anthony Fauci fala em “sentimento libertador” após saída de Donald Trump da Casa Branca

Infecciologista que manteve uma conturbada relação com Donald Trump congratula-se por Joe Biden “deixar a ciência falar” e está optimista quanto ao futuro, acreditando que objectivo de fornecer 100 milhões de doses de vacinas nos seus primeiros 100 dias no cargo é “bastante razoável”.

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Conferência de imprensa de Anthony Fauci na Casa Branca Reuters/JONATHAN ERNST

O infecciologista Anthony Fauci, o principal rosto do combate à pandemia de covid-19 nos Estados Unidos, admitiu estar aliviado com a chegada do Presidente Joe Biden à Casa Branca, uma vez que poderá falar sobre ciência sem medo das “repercussões” de Donald Trump.

“A ideia de poder chegar aqui e falar sobre aquilo que se sabe – sobre o que são as provas, o que é a ciência –, de deixar a ciência falar, é, de certa forma, um sentimento libertador”, afirmou Fauci, director do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecto-contagiosas dos Estados Unidos, durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, na quinta-feira.

A relação entre Donald Trump e Anthony Fauci foi bastante difícil desde o início do pandemia, com o reputado especialista a ver-se perante a obrigação de corrigir declarações infundadas do ex-Presidente, que atacou directamente Fauci por diversas vezes.

Durante o pico da pandemia, enquanto desvalorizava o uso de máscara, Trump chegou a dizer que Fauci estava “errado em relação a tudo” e, em plena campanha presidencial, em Outubro, acusou o infecciologista de ser um “desastre”, ameaçando despedi-lo durante um dos seus comícios, uma ameaça recebida em êxtase pelos seus apoiantes.

Na conferência de imprensa, Fauci não referiu uma única vez o nome do ex-Presidente, mas recordou alguns episódios em que os dois discordaram publicamente, nomeadamente quando Trump, contrariando as provas científicas, sugeriu a utilização da hidroxicloroquina, um fármaco utilizado para tratar a malária e doenças auto-imunes, contra a covid-19. 

“Não quero voltar atrás na história, mas é bastante claro que houve coisas que foram ditas – sobre a hidroxicloroquina, por exemplo – que não tinham factos científicos como base”, afirmou Fauci, admitindo o “desconforto” que sentiu diversas vezes.

Assim que assumiu a presidência, fazendo do combate à pandemia de covid-19 uma das suas prioridades, Joe Biden anunciou o regresso dos Estados Unidos à Organização Mundial de Saúde e fez questão de delegar a Anthony Fauci a chefia da delegação norte-americana na organização.

Na quinta-feira, Biden anunciou novas medidas contra a covid-19, entre elas a obrigatoriedade do uso de máscara em comboios, aviões e autocarros, além da obrigatoriedade já imposta nos edifícios federais, e prometeu aumentar o número de testes e acelerar a vacinação no país.

Nos primeiros 100 dias no cargo, Biden prometeu fornecer 100 milhões de doses da vacina, um objectivo que Fauci considera “bastante razoável” – desde que a vacina da Pfizer/BioNTech foi usada pela primeira vez a 14 de Dezembro, foram administradas 17,5 milhões de doses da vacina nos Estados Unidos.

“Se conseguirmos que entre 75% e 85% do país seja vacinado, digamos até ao final do Verão, acredito que, quando chegarmos ao Outono, estaremos a aproximar-nos de um grau de normalidade”, afirmou Anthony Fauci, garantindo que as autoridades sanitárias norte-americanas estão a acompanhar as novas variantes do coronavírus com “bastante atenção”.

Desde o início da pandemia, os Estados Unidos, o país mais afectado em todo o mundo, registam mais de 24,6 milhões de casos de infecção por SARS-CoV-2 e de 410 mil pessoas morreram devido à covid-19.

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