Com as urgências calmas, pediatras oferecem-se para ajudar nos serviços de adultos

Infecciologista do hospital pediátrico Dona Estefânia aplaude opção de fechar as escolas sem ensino online e antecipando as férias: “Fico contente. O ensino online agrava as assimetrias. Há pessoas que não têm internet nem computadores em casa. Por isso o melhor é aproveitar as férias da Páscoa, ou prolongar o ano lectivo e, eventualmente, ajustar o programa educativo”.

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Miguel Manso

Com as urgências e os serviços pediátricos calmos e com baixas taxa de ocupação, há pediatras a oferecer-se para ajudar na área dos adultos. “As urgências de pediatria estão calmíssimas, este nem parece um Inverno normal. A grande carga de doença no Inverno são as infecções respiratórias e neste Inverno há menos doença aguda. Na pediatria estamos tranquilos, não há situação de ruptura”, garante o infecciologista Luís Varandas, do hospital pediátrico Dona Estefânia, que pertence ao Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central.

Mesmo havendo mais casos de covid-19 entre as crianças e os adolescentes a chegar aos hospitais e a situação estar pior, “não está descontrolada” como acontece com os adultos, asseverou. Há, aliás, enfermarias de pediatria que estão a ser reconvertidas para tratar adultos em vários hospitais e “há pediatras e internos de pediatria a oferecer-se para dar apoio [nos serviços de adultos]”.

No Dona Estefânia, que está a receber os casos de covid-19 em idade pediátrica (até aos 18 anos) da região Sul, apesar de haver actualmente mais doentes com síndrome inflamatória multissistémica associada a esta doença (resposta anormal ao vírus em que as defesas do corpo começam a atacar todos os órgãos), isso acontece porque há mais casos de covid em geral, mas estas situações “continuam a ser raras”, afirma.

Apesar de não ser adepto do fecho das escolas, perante a actual situação — que “é séria” até porque “a nova estirpe [inglesa] se “transmite mais entre os mais jovens” —, Luís Varandas defende que nesta fase “temos mesmo que as encerrar”, mas “sem ensino online e fazendo férias antecipadas”, a solução que acabou por ser adoptada pelo Governo. “Fico contente. O ensino online agrava as assimetrias. Há pessoas que não têm internet nem computadores em casa. Por isso o melhor é aproveitar as férias da Páscoa, ou prolongar o ano lectivo e, eventualmente, ajustar o programa educativo”, preconiza.

"Fechar tudo"

Perante a situação “caótica” que o país está a viver, a responsável pela Unidade de Infecciologia do Dona Estefânia, Maria João Brito, defendeu em declarações à Lusa que não basta encerrar as escolas, é preciso fechar tudo, e apelou à vacinação de todos os idosos, “os que morrem”. A situação do país é “muito complicada. Ninguém sabe muito bem o que está a acontecer. Provavelmente a estirpe inglesa já estará em grande força no nosso país e, portanto, têm de fechar tudo”, recomenda.

Apesar de as crianças serem menos atingidas do que os adultos, o número de casos de covid aumentou. “Temos casos internados, temos casos em cuidados intensivos e hoje [quarta-feira] estive de urgência e fartei-me de ver crianças com covid-19”, disse a responsável pela unidade de referência para a covid-19 em idade pediátrica (até aos 18 anos).

“Muitos serviços de pediatria estão a fechar para os de adultos começarem a trabalhar, os pediatras estão a trabalhar com os adultos e nós vamos ter de receber a pediatria”, acrescentou.

Actualmente estão também a aparecer mais crianças com a síndrome inflamatória multissistémica associada à covid-19. “Antigamente tínhamos um caso de mês a mês, agora temos quatro crianças internadas” com esta doença. “Portanto, temos de tudo, como seria de esperar. Temos crianças pequenas, recém-nascidos, temos pneumonias covid-19, temos infecções cerebrais por SARS-CoV-2, temos tudo”. No Dona Estefânia, que centraliza agora os casos de covid-19 da região Sul, esta quinta-feira havia uma criança internada em cuidados intensivos, especificou Maria João Brito na SIC Notícias. com Lusa

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