Gustavo Carona em Como é Que o Bicho Mexe?: “Esta doença tritura os profissionais de saúde”

O médico intensivista e cronista do PÚBLICO deixou o alerta para que se entenda que os “comportamentos individuais interceptam aquilo que está a ser o nosso maior desafio colectivo”.

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O médico intensivista deixou o apelo para que se entenda que é no “nosso círculo de proximidade, que podemos fazer a maior diferença”. INSTAGRAM/BRUNO NOGUEIRA

O médico intensivista Gustavo Carona esteve, nesta terça-feira, à conversa com Bruno Nogueira em Como é Que o Bicho Mexe?, o programa do humorista em directo no Instagram. Para uma audiência de mais de 100 mil pessoas, o profissional de saúde deixou o alerta para a gravidade do momento que atravessamos e relembrou, mais uma vez, que “os comportamentos individuais interceptam naquilo que está a ser o nosso maior desafio colectivo”.

Como é Que o Bicho Mexe?, o programa de Bruno Nogueira no Instagram, está de volta e, esta terça-feira, recebeu o médico intensivista e cronista do PÚBLICO, Gustavo Carona. A conversa começou com a pergunta do humorista: “Como é ser médico nesta altura?”. O intensivista ressalvou que nesta altura existe “um grande ruído” que impede “a mensagem de chegar ao receptor” e salientou a importância de plataformas como a de Bruno Nogueira serem usadas como eco da gravidade da pandemia que vivemos.

“Os profissionais de saúde estão a sofrer”, alertou o médico intensivista evocando um relatório do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido que dá conta de que 50% dos profissionais de saúde desse país estão a sofrer de stress pós-traumático. “É importante que as pessoas percebam que esta doença tritura os profissionais de saúde”, sublinhou o cronista do PÚBLICO.

Nos comentários do directo, a audiência manifestava o seu apoio e empatia pelo cenário que Gustavo Carona descreveu estar a viver “há dez meses”. “O serviço de cuidados intensivos do hospital que estou a trabalhar está a 250%”, relatou o profissional, enquanto destacava a importância de se perceber “aquilo que está para além dos números”. “É muito injusto que troquem jantares e passagens de ano por perder vidas. São pessoas que estão a perder os pais, a dizer adeus aos avós e alguns deles aos filhos”, lamentou.

Como nas crónicas que publica no PÚBLICO, o médico intensivista voltou a sublinhar que “os comportamentos individuais interceptam aquilo que está a ser o nosso maior desafio colectivo”: “É muito triste perceber o quão subdesenvolvidos somos enquanto sociedade, o quão egoístas estamos a ser por não pensar no bem comum.”

Para um Bruno Nogueira visivelmente emocionado, Gustavo Carona confirmou a tragédia que se vive nos hospitais portugueses com outras doenças, também elas “prioritárias”, a serem “empurradas para o lado pela covid” e a provocar “danos colaterais” proporcionais à covid-19.

Gustavo Carona enalteceu também outros profissionais de saúde, como psicólogos, cruciais no combate à “epidemia da saúde mental”, nutricionistas e técnicos de imagem, mas sobretudo os enfermeiros e auxiliares de saúde. São estes profissionais, garante o médico, que estão a “absorver o sofrimento dos dois lados”, do doente e das famílias, e que “carregam para casa” as suas “histórias de vida e dores”.

Nos hospitais, de onde profissionais de saúde saem “com as lágrimas nos olhos”, Gustavo Carona relatou que se pergunta ao doente “o nome”, o “clube de futebol” e “a escola onde andam os netinhos”. “Depois quando ligarmos ventilador, vamos dizer ‘não se preocupe, vai correr tudo bem’. É nesta parte que não sabemos se estamos a dizer a verdade”, contou o médico.

Para terminar, o médico deixou o apelo para que se entenda que é no “nosso círculo de proximidade, que podemos fazer a maior diferença”. O médico intensivista comparou a pandemia a um “jogo de roleta russa”, onde “a probabilidade não é um para seis, é muito maior”. 

Na manhã desta quarta-feira, no programa Tubo de Ensaio, da TSF, Bruno Nogueira recorda o programa da noite, que continua disponível na sua página de Instagram, sublinhando algumas das frases que Gustavo Carona disse. O humorista lamenta que a palavra do ano para os portugueses tenha sido “saudade”, em vez de “responsabilidade e empatia”. “Responsabilidade” para não saírem de casa — Nogueira dirige-se aos mais jovens e lembra-lhes que reunirem-se para beber uma cerveja não faz deles “rebeldes” mas “idiotas” —, e “empatia” pelos profissionais de saúde.

Bruno Nogueira termina dizendo que, “a título de excepção” numa década de Tubo de Ensaio, vai dar um conselho: “Aconselho-vos a ouvir o depoimento [de Gustavo Carona] e se não sentirem nada é porque não vão sentir nada nunca.”

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