Regime presencial na universidade deve ser “a excepção e não a regra”, diz FAP

Federação Académica do Porto diz que a prioridade é “garantir e salvaguardar a saúde dos estudantes e das suas famílias” e lembra que a Universidade do Porto tem muitos alunos deslocados que terão agora que voltar aos transportes públicos para regressar a casa. “Tem de haver abertura para adaptação para os modelos online” — “já houve tempo para esta adaptação”, afiança a presidente.

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Nelson Garrido

A Federação Académica do Porto (FAP) defendeu esta quinta-feira que o regime presencial no ensino superior “devia ser a excepção e não a regra”, discordando do Governo que decidiu manter todas as escolas abertas, apesar do confinamento, devido à covid-19.

“Face ao anúncio das novas medidas de combate à pandemia de covid-19 para todo o país, a Federação Académica do Porto considera que o regime presencial nas instituições de ensino superior devia ser a excepção e não a regra”, refere a FAP, em comunicado. Ana Gabriela Cabilhas, presidente da FAP, refere ao P3 que há momentos em que a avaliação “pode ser presencial”, por exemplo no que toca a exames laboratoriais, mas considera que “tem de haver abertura para adaptação para os modelos online" e que "já houve tempo para esta adaptação”. Uma posição oposta à manifestada pelo Conselho dos Reitores, que defende as actividades lectivas e de avaliação devem continuar para já a ser presenciais.

Com o surgimento do novo estado de emergência e do novo confinamento, a FAP diz que a prioridade é “garantir e salvaguardar a saúde dos estudantes e das suas famílias”, mas ressalva que é “também necessário que ninguém saia prejudicado no seu percurso académico”.

Na quarta-feira, António Costa anunciou um novo período de confinamento geral, com início previsto para as 00h00 de sexta-feira, idêntico ao que vigorou em Março e em Abril de 2020, mas, desta vez, o Governo decidiu manter abertos todos os estabelecimentos de ensino.

“As instituições de ensino superior devem garantir as devidas condições para realizar avaliações em segurança, o que poderá passar por momentos de avaliação presenciais, mas que deverão ser excepcionais. Face ao esforço e à aprendizagem das instituições em 2020, as actividades de avaliação que se encontram em curso deviam ser adaptadas para meios online, contribuindo, desta forma, para o esforço conjunto que o país terá de fazer neste momento difícil”, lê-se no comunicado.

A FAP lembra que o ensino superior “tem um número elevado de estudantes deslocados”, colocando-os “na rua e em transportes públicos, numa altura em que os números de casos de infecção e mortes têm atingido recordes”, a que acresce ainda “o facto de que 51% das infecções ocorrem em pessoas entre os 20 e os 49 anos”. Para os que ficam no Porto, nas residências ou em casas arrendadas, Ana Gabriela Cabilhas sublinha o facto de os espaços de estudo encerrarem, apresentando consequentemente um desafio aos hábitos de estudo, que podem passar a não ser os mais adequados.

A presidente da FAP assegura que “é importante continuar a desenvolver mecanismos de inovação pedagógica, que permitam superar esta pandemia com sucesso e continuar a apostar na melhoria contínua do ensino superior”.

A academia lamenta ainda que, “numa decisão tão importante” (a de manter o regime presencial nas aulas), os estudantes não foram ouvidos, nem tiveram oportunidade de expor a sua opinião”. A FAP representa mais de 70.000 estudantes da academia do Porto.

Os exames do ensino superior têm causado desconforto junto de alguns alunos que denunciam falta de condições sanitárias no momento da avaliação. O P3 ouviu alguns estudantes que referiram a falta de distanciamento físico e arejamento das salas, que dizem estar sobrelotadas. As indicações dadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior são, contudo, para que sejam mantidas as avaliações presenciais de forma a assegurar um processo transparente. 

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