Paredes de Coura acolhe “primeira fábrica de vacinas em massa” em Portugal

A biotecnológica galega Zendal vai ser uma das três unidades industriais a instalar-se no Parque Empresarial de Formariz até ao final do ano. Vacinas covid “podem vir a fazer parte do quotidiano” do concelho minhoto.

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A unidade da Zendal no Parque Empresarial de Formariz Patrick Esteves

A primeira unidade de produção industrial de vacinas vai nascer em Paredes de Coura, anunciou esta quinta-feira a Zendal, empresa de biotecnologia sediada em O Porriño, na Galiza, em comunicado enviado à agência espanhola Efe. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO pelo presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura, Vítor Paulo Pereira, que considera a construção do novo pólo de produção no concelho “de importância estratégica para o país”. Até porque, ressalva, “acaba por colmatar uma insuficiência existente em Portugal [em relação] à produção de vacinas em massa”.

Esta será uma das três unidades industriais a instalar-se no Parque Empresarial de Formariz até ao final do ano e porá em marcha a vontade de “diversificação de sectores” manifestada pelo município previamente. A expansão ibérica da Zendal envolve um investimento na ordem dos 15 milhões de euros e vai criar, numa primeira fase, 30 postos de trabalho, sendo que “50% [dos cargos] serão [atribuídos a] licenciados”, informa a biotecnológica em comunicado. A autarquia afirma que “o processo de recrutamento já começou” e conta com a colaboração de centros de formação profissional e universidades do Norte de Portugal. 

Com investigação a decorrer em várias áreas da saúde, a Zendal tem-se distinguido, mais recentemente, pelo trabalho realizado na MTVBAC, uma vacina contra a tuberculose produzida pela Universidade de Saragoça e a Biofabri que já está a ser testada em macacos, mas Vítor Paulo Pereira não descarta a hipótese de vir a existir uma vacina para a covid-19 produzida em território courense. “As vacinas covid provavelmente vão fazer parte do nosso quotidiano como fazem as da gripe [sazonal]”, refere. Actualmente, a empresa galega já está na primeira linha de produção para criar uma nova vacina para a Europa e tem feito avanços significativos no laboratório de Pontevedra, na sequência de parcerias com a gigante norte-americana Novavax, a Coligação para a Inovação na Preparação para Epidemias (CEPI) e a Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), a maior instituição pública espanhola focada na investigação científica e a terceira maior da Europa.

A criação de uma filial portuguesa resulta de “um processo de aproximação que começou há dois anos junto dos empresários da Zendal” e da “velocidade institucional” da câmara municipal, frisa Vítor Paulo Pereira. As novas instalações do grupo vão possibilitar o aumento da capacidade de “produção e embalagem de vacinas virais para a saúde humana”, afirma o comunicado de imprensa. Segundo Andrés Fernández, CEO da empresa citado na mesma nota, este é “um momento chave para a Euroregião onde o pólo Galiza-Norte de Portugal pode ser a base de grandes projectos de biotecnologia”. Também o autarca socialista admite que o futuro da região pode passar pela “criação de um cluster tecnológico” mais amplo e estruturado.

Vítor Paulo Pereira reconhece que “​esta é uma grande notícia para Paredes de Coura e para Portugal” e salienta a “cooperação institucional do Governo, incluindo do primeiro-ministro António Costa”, no acompanhamento do processo e dos esforços encetados para a sua concretização. Citado no documento referido, o primeiro-ministro considera que “este investimento da Zendal coloca Portugal na linha da frente dos esforços de resposta a crises sanitárias, como a que actualmente enfrentamos da covid-19, garantindo o envolvimento nacional nas cadeias de valor globais do sector da saúde”.

Esta empreitada assume especial relevância para o país, tendo em conta o reduzido número de fábricas de vacinas em todo o mundo. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% das vacinas são produzidas por apenas cinco laboratórios. Embora se encontre em fase de crescimento, o mercado de vacinas ainda permanece restrito devido ao avultado investimento temporário e monetário que acarreta, entre as fases de pesquisa, desenvolvimento, fabrico, aprovação e comercialização.

A primeira tentativa de fundar uma unidade industrial de vacinas em Portugal foi levada a cabo em 2006, durante o primeiro governo de José Sócrates, e previa a construção de um centro de produção de vacinas antigripais da portuguesa Medinfar em Condeixa-a-Nova, Coimbra. Anunciada numa altura em que a gripe das aves tomava conta das manchetes dos jornais, a operação representava um investimento de 27 milhões de euros e pretendia ajudar o país a reforçar os meios para preparar uma nova epidemia e reduzir o seu impacto. Mas o investimento foi suspenso e o pioneiro pólo de produção nunca saiu do papel.

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