Duas bolsas EMBO vêm para Portugal para investigar a vida das células

Elias Barriga vai dedicar-se ao estudo da migração das células, enquanto Ricardo Henriques quer observar os momentos-chave de uma infecção viral no interior das células.

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Fernando Veludo/NFactos

Do lote de oito bolsas agora atribuídas a cientistas em início de carreira pela Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO, na sigla em inglês), duas vêm para Portugal, num total (para já) de 300 mil euros. Com estas bolsas EMBO para Instalação, os investigadores Elias Barriga e Ricardo Henriques, ambos do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, vão poder montar os seus próprios laboratórios.

Elias Barriga, que receberá 50 mil euros por ano durante três anos, vai liderar o projecto “Controlo bioeléctrico in vivo da migração celular colectiva direccionada”, segundo explica um comunicado de imprensa do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Este projecto pretende obter mais conhecimentos sobre a migração celular colectiva direccionada – o movimento coordenado de um grupo de células durante a sua viagem nos tecidos, guiado por sinais externos e que ocorre em muitos processos, desde o desenvolvimento embrionário e a reparação de tecidos até à criação de metástases do cancro.

Com este projecto, Elias Barriga propõe-se complementar a visão clássica da migração celular colectiva direccionada, centrada na química, abordando questões relativas a se os sinais bioeléctricos, e como esses sinais, contribuem para a migração celular colectiva direccionada in vivo.

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O investigador Elias Barriga DR

Para enfrentar este desafio, o investigador vai centrar-se no estudo da electrotaxia (orientação eléctrica da migração celular colectiva direccionada) ao nível dos tecidos, ao nível das células e ao nível subcelular. Para tal, utilizará um conjunto de ferramentas inovadoras que permitem medir e modificar inputs eléctricos in vivo e ex vivo.

Demonstrar a electrotaxia e o seu mecanismo molecular in vivo tem sido desafiante, refere o comunicado de imprensa. Agora Elias Barriga, acrescenta-se, espera que a investigação represente um avanço para várias disciplinas e traga novas ferramentas para estudar a orientação eléctrica da migração celular colectiva direccionada in vivo pela primeira vez.

Em Setembro de 2020, o investigador já tinha ganho 1,8 milhões de euros de uma bolsa de arranque do Conselho Europeu de Investigação (ERC), para investigar a migração celular.

“Os embriões são como baterias onde se sabe que emergem campos eléctricos endógenos. Com estes projectos, queremos perceber como se formam estes campos eléctricos, como são sentidos pelas células e qual o seu papel no movimento das mesmas”, explica Elias Barriga, citado no comunicado. “A bioelectricidade é uma disciplina fascinante que tem sido ignorada por causa do cepticismo, mas graças à bolsa EMBO Installation estou agora numa posição excelente para fazer avançar o nosso conhecimento do papel dos campos eléctricos endógenos.”

Também Ricardo Henriques receberá 50 mil euros por ano durante três anos do EMBO e, à semelhança de Elias Barriga, a bolsa poderá ser estendida por mais dois anos. Se tal acontecer, os dois investigadores portugueses terão reunido um total de 500 mil euros vindos do EMBO para a instalação de laboratórios no IGC. Há ainda outra “semelhança” entre os dois investigadores: Ricardo Henriques foi igualmente contemplado com financiamento do ERC, no seu caso recebeu em Dezembro de 2020 uma bolsa de consolidação de dois milhões de euros (destinadas a cientistas a meio da carreira), para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam novas observações do comportamento celular em escalas de nanométricas e dando vai atenção particular à infecção pelo vírus da sida (VIH-1).

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O investigador Ricardo Henriques DR

No projecto que Ricardo Henriques submeteu ao EMBO, intitulado “Desvendar a replicação viral em células vivas à nanoescala”, irá continuar a ampliar a capacidade de desenvolver tecnologia para captar e estudar momentos-chave da infecção viral intracelular. Este novo apoio, sublinha agora, ajudará a acelerar a investigação e a maximizar a capacidade de abordar “algumas das maiores lacunas no conhecimento que temos da biologia da infecção.”

Ricardo Henriques já tinha feito avanços tecnológicos na microscopia de super-resolução (MSR), tornando-a mais compatível com a aquisição de imagens em células vivas, refere o comunicado. Agora estará centrado no desenvolvimento da chamada “imagiologia priorizada de super-resolução” (IPSR), de forma a abordar os desafios do estudo da replicação viral. Serão criados esquemas de imagiologia “inteligentes” através do uso de machine-learning capaz de prever esquemas de imagiologia não destrutivos, explica-se no comunicado, acrescentando-se: “O conceito da IPSR vai permitir observações sem precedentes em estudos de infecção. A tecnologia criada será partilhada de uma forma completamente aberta, democratizando o seu uso.”

Em relação aos restantes seis vencedores de bolsas do EMBO para Instalação, três bolsas vão para a Polónia, duas para a Turquia e uma para a Lituânia. Os oito investigadores que agora recebem estas bolsas vão fazer parte da Rede Jovem Investigador EMBO, além de poderem ter como mentores membros do EMBO e acesso a bolsas de viagens para encontros e organização de conferências, cursos de formação, a serviços técnicos do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL) em Heidelberg, na Alemanha.

“Estamos encantados ao dar as boas-vindas à comunidade EMBO a estes oito investigadores que levam a cabo investigações notáveis”, disse Maria Leptin, directora do EMBO em comunicado da organização intergovernamental fundada em 1969 e que hoje tem 30 Estados-membros, incluindo Portugal. “O EMBO está empenhado em estimular a excelência nas ciências da vida por toda a Europa, assim como fora dela. O programa de Bolsas EMBO para Instalação é um instrumento que encoraja os cientistas a mudarem-se ou a regressarem aos países para participarem nela.”

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