Partidos constatam a inevitabilidade dos números

Líderes políticos admitem gravidade da pandemia, mas querem apoios no terreno. Governo refere grande consenso

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António Costa na manhã deste sábado com Catarina Martins LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

No final das reuniões com o primeiro-ministro, António Costa, cuja segunda ronda decorreu na manhã deste sábado, em São Bento, os partidos constataram que um novo confinamento é inevitável. Os mais recentes números divulgados ao princípio da tarde pela Direcção-Geral de Saúde – 111 mortos, 9478 novos casos, 3555 hospitalizados, dos quais 540 em cuidados intensivos – a isso levaram.

Através da rede social Twitter, António Costa partilhou, este sábado, imagens da ronda de audiências e salientou a necessidade de o Governo “procurar o maior consenso possível” para implementar medidas mais restritivas que tem “mesmo de tomar” contra a covid-19. “Concluímos, nesta manhã de sábado, a ronda de audições a todos os partidos políticos com assento parlamentar. Os números são preocupantes e todos os esforços são poucos para controlar a pandemia”, salienta António Costa. 

“Aquilo que podemos destacar destas audições [entre o Governo e os partidos com representação parlamentar] é um grande consenso de que, face aos números que temos verificado, é de facto necessário tomar medidas adicionais”, sublinhara antes a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, no final dos encontros. O mote já fora anunciado ao princípio da manhã pelo líder do PAN [Pessoas, Animais, Natureza], André Silva: “Do nosso ponto de vista, face aos números [o confinamento] é inevitável.

Catarina Martins referiu, mesmo, que seria mesmo “irresponsável não fazer um confinamento”. Pelo PEV, a deputada Mariana Silva admitiu que “as medidas restritivas têm de continuar”, embora ressalvando que o estado de emergência não é a solução. Já André Ventura admitiu que o Governo não tem tarefa fácil e João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, reconheceu urgência e surpresa pelo aumento da pandemia de covid-19.

No caminho do grande consenso referido pela ministra do Estado e da Presidência há uma estação obrigatória. A reunião da próxima terça-feira com os especialistas no Infarmed, na qual para além do Presidente da República, primeiro-ministro e ministros, dirigentes políticos e sindicais.

Aos especialistas, Cotrim de Figueiredo anunciou ir perguntar quais os motivos para os elevados números de contágio dos últimos dias. “Pela primeira vez vi do lado do Governo e do primeiro-ministro uma vontade de ir ao detalhe e ao pormenor para aprofundar os reais motivos pelos quais estamos perante uma situação, que, repito, a todos está a surpreender”, afirmou.

Contudo, o consenso anunciado passa pelo acompanhamento de medidas sociais ao novo confinamento. Os ecologistas do PEV apresentaram, mesmo, duas sugestões: custos de electricidade subsidiados pelo Estado durante este mês de Janeiro tendo como referência a factura do mesmo mês de 2020, sendo a diferença o valor dessa ajuda; aumento da capacidade do transporte público no dia das eleições presidenciais, porque ao domingo há redução.

Contudo, o essencial são os aspectos que a bloquista Catarina Martins classificou como apoios “mais robustos e céleres, que as medidas de apoio sejam eficazes, efectivas e no terreno”.  A coordenadora do BE recordou que “há apoios de Março, do primeiro confinamento, que ainda não foram pagos” e referiu que nem famílias nem empresas têm já reservas para continuar em confinamento sem apoios. Criticou também o Governo por não ter utilizado “os fundos que tinha disponíveis pelo Orçamento Rectificativo para fazer esses apoios”, considerando que esta situação “não se pode repetir”.

Outra ressalva apontada nas reuniões dos partidos com representação parlamentar com o Governo, foi saber quais os sectores de actividade que vão sofrer o confinamento geral. André Ventura referiu-se à restauração por ter dúvidas que seja um foco de infecção. Contudo, o desenho do confinamento ainda não está concluído.

Para o Governo, desde o início da crise sanitária houve medidas de resposta. "Uma coisa é procurar sempre melhorar a qualidade e capacidade de foco dos apoios. Outra coisa é dizermos que não tem havido apoios”, destacou a ministra Mariana Vieira Silva, elencando vários apoios como o lay off simplificado e o apoio à retoma.

As reuniões do primeiro-ministro com os partidos começaram nesta sexta-feira, com o PSD, PCP, CDS-PP e PS, tendo o líder do principal partido da oposição, Rui Rio, avançado com uma proposta de adiamento da data das eleições presidenciais. O que não teve apoio de socialistas e comunistas e que viria a ser considerado constitucionalmente impossível, porque implicaria uma revisão da Constituição que teria de ser efectuada sem estado de emergência.

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