Desmatamento na Amazónia: só 2019 foi pior do que 2020

Dados anuais mostram que os dois anos em que Bolsonaro está no poder coincidem com os piores em termos de desflorestação na história recente.

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A desflorestação na Amazónia piorou consideravelmente nos últimos dois anos Reuters/Ricardo Moraes
A desflorestação na Amazónia piorou consideravelmente nos últimos dois anos
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A desflorestação na Amazónia piorou consideravelmente nos últimos dois anos JANINE COSTA

A Amazónia voltou a ter um ano desastroso em termos de desflorestação, indicam os dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) revelados esta sexta-feira. Os dois anos desde que o Governo de Jair Bolsonaro está em funções são os piores da última década.

Nos últimos doze meses foram dados alertas de desflorestação em 8.426 km2 da Amazónia, ligeiramente abaixo do recorde de 2019 em que foram registados alertas em 9.178 km2. Os dados do INPE e foram obtidos através de um sistema que recebe alertas no terreno para incidentes de desflorestação denominado DETER (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real).

As estatísticas obtidas pelo DETER não correspondem a áreas desflorestadas, mas servem como uma pista muito aproximada do valor real. No ano passado, a desflorestação calculada pelo DETER acabou por ser mais baixa do que a que foi verificada pelas imagens de satélite.

Desde 2015 que estes dados são coligidos e os últimos dois anos foram aqueles em que a desflorestação foi mais elevada, coincidindo com o mandato de Bolsonaro, que tem desvalorizado os problemas ambientais na Amazónia. Em 2018, foram registados alertas de desflorestação em 4.951 km2, pouco mais de metade do que em 2020.

O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, diz, através de um comunicado de imprensa, que não se trata de “uma coincidência, mas sim o resultado das políticas de destruição ambiental implementadas pelo actual Governo”.

Desde que Bolsonaro está no poder os organismos que tradicionalmente zelavam pela defesa dos ecossistemas brasileiros, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), passaram para segundo plano. Perderam recursos financeiros e capacidade de supervisão e punição, deixando caminho livre para que a desflorestação – promovida por proprietários rurais e produtores agrícolas – pudesse avançar sobre biomas protegidos.

A solução encontrada pelo Governo federal foi enviar o Exército para controlar os abusos na Amazónia, mas a operação para além de ter sido bastante cara parece ter sido um fiasco. Os ambientalistas avisaram desde o início que seria um erro apostar exclusivamente em militares para uma função para a qual não tinham experiência.

Apesar do falhanço da operação do Exército, o Governo decidiu prolongá-la para 2021.

Como maior floresta tropical do planeta, a Amazónia tem um papel fundamental para conter as alterações climáticas. A comunidade científica prevê, no entanto, que a perda acelerada de árvores na floresta está a aproximar o ecossistema do chamado “ponto crítico”, a partir do qual no lugar da floresta irá estar nos próximos anos uma espécie de deserto, com um prejuízo incalculável para a biodiversidade da Terra.

A desflorestação é um problema antigo na Amazónia e nas décadas de 1990 e no início dos anos 2000 foram registados os índices mais elevados de destruição. Um esforço nos anos mais recentes, apoiados pela comunidade internacional que também foi despertando para a importância da floresta tropical, permitiu reduzir a desflorestação para mínimos históricos, mas os últimos dois anos põem em causa esses progressos.

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