Uma vulva gigante está a separar os brasileiros

Escultura de Juliana Notari está a causar controvérsia entre a extrema-direita no Brasil e desencadeou um acalorado debate nas redes sociais. Com Diva, artista quer questionar a relação entre natureza e cultura numa sociedade “falocêntrica”.

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Uma enorme escultura de uma vulva numa encosta em Pernambuco, no Nordeste do Brasil, tem alimentado uma guerra cultural entre esquerdistas e conservadores no país — incluindo aliados próximos do Presidente Jair Bolsonaro.

Baptizada Diva, a escultura de cimento e resina tem 33 metros e foi desenvolvida pela artista visual brasileira Juliana Notari numa antiga fábrica de açúcar, transformada num museu a céu aberto no município de Água Preta.

Ao apresentar a instalação no último dia de Dezembro, Notari disse tratar-se de uma escavação “em formato de vulva/ferida”, com a qual questiona a relação entre natureza e cultura numa “sociedade ocidental falocêntrica e antropocêntrica”. 

“Actualmente, essas questões têm-se tornado cada vez mais urgentes”, escreveu a artista de 45 anos na sua página de Facebook, acompanhada por uma série de fotos da enorme escultura vermelha brilhante, que uma equipa demorou 11 meses a fazer. “Foram mais de 40 mãos para fazer Diva nascer, mais de 20 homens trabalhando num esforço hercúleo debaixo do Sol a pino”, escreveu. ​"Afinal, será através da mudança de perspectiva da nossa relação entre humanos e entre humano e não-humano, que permitirá com que vivamos mais tempo nesse planeta e numa sociedade menos desigual e catastrófica”, concluiu.

A obra de arte, porém, está a causar controvérsia entre a extrema-direita no Brasil e desencadeou um acalorado debate nas redes sociais, com mais de 27 mil pessoas a comentar a publicação de Notari no Facebook até esta quarta-feira — tanto apoiantes, quanto críticos. 

“Com todo o respeito, não gostei. Imagine eu caminhando com minhas filhas neste parque e elas perguntando... Pai, o que é isso? O que vou responder?”, escreveu um utilizador. Em resposta, uma mulher escreveu: “Com todo o respeito, você pode ensinar suas filhas a não ter vergonha da sua própria genitália.”

Guru político de Bolsonaro, Olavo de Carvalho criticou no Twitter o trabalho de Juliana Notari  — aparentemente propondo uma escultura de um pénis gigante como forma de o desafiar. O comentário teve mais de 800 retweets, muitos deles carregados de críticas contra a esquerda. “Horripilante” e “repugnante” foram alguns dos adjectivos usados. 

“Adoramos a escultura Diva de Juliana Notari e manifestamos solidariedade e amor por todo o ódio que recebeu da extrema-direita”, reagiu, por seu turno, o Museu da Vagina de Londres. Também no Twitter, o realizador Kleber Mendonça Filho felicitou a artista por ter posto 20 homens a criar uma vagina de 30 metros durante a presidência de Bolsonaro. “As reacções à obra são espelho, um sucesso.” Já a cartoonista Laerte Coutinho frisou na mesma rede social que a obra deixa “bastante o que pensar”, sublinhando a alusão da artista a uma ferida na terra.

Dias após a inauguração, a artista confessou-se surpreendida pelas reacções à CNN. “Mesmo sabendo que é uma obra de arte impactante, nunca pensei que as pessoas sentiriam ódio por ela ou que a resposta teria tamanhas proporções nas redes sociais”, disse. E concluiu: “Diva é uma ‘possibilidade’ porque corta com o patriarcado estrutural do Brasil, que é continuamente reforçado pelo discurso de ódio e de extrema-direita de Jair Bolsonaro.”

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