OMS recomenda um intervalo de 21 a 28 dias entre as duas doses da vacina da covid-19

Só em situações excepcionais se poderá alargar o prazo até seis semanas, diz grupo de peritos, um dia antes de a Agência Europeia do Medicamento se pronunciar sobre a vacina da Moderna, que deve ter luz verde na União Europeia.

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A vacina da Moderna deve ser autorizada na Europa nesta quarta-feira U.S. AIR FORCE/Reuters

A segunda dose da vacina contra a covid-19 da BioNtech-Pfizer deve ser tomada dentro de 21 a 28 dias, recomendou um grupo de peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, em circunstâncias excepcionais, esse intervalo entre doses poderá ser alargado até um máximo de seis semanas (42 dias). Esse é o limite para o qual existem alguns dados sobre a eficácia da vacina, explicou Joachim Hombach, secretário executivo do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos sobre Imunização (SAGE) da OMS, numa conferência de imprensa online.

Esta decisão surge um dia antes de a Agência Europeia do Medicamento (EMA) dar, ao que tudo indica, luz verde à segunda vacina contra a covid-19 no continente europeu, a da empresa norte-americana Moderna, também baseada na tecnologia de ARN. Mas a União Europeia apenas adquiriu 160 milhões de doses desta vacina, e continuam a fazer-se sentir os estrangulamentos de produção e distribuição. Por isso, vai continuar a debater-se como fazer as vacinas render mais – por exemplo, adiando a toma da segunda dose. Daí a tomada de posição da OMS.

“Faltam dados sobre a segurança e eficácia da imunização com uma única dose para além das três a quatro semanas estudadas nos ensaios clínicos”, disse Alejandro Cravioto, coordenador do SAGE. Mas foi deixada aberta a porta para adiar a toma da segunda dose para países que “tentem maximizar o número de pessoas que podem beneficiar da inoculação de uma primeira dose”, disse. Pelo menos no que toca à vacina da BioNtech-Pfizer, a única analisada porque foi a única certificada pela OMS até agora.

A Dinamarca vai prolongar o prazo entre doses até seis semanas. A Holanda está a considerá-lo, tal como a Alemanha, que anunciou nesta terça-feira o agravamento das medidas de contenção do novo coronavírus. E o Reino Unido, a braços com a variante do coronavírus VUI–202012/01, que é mais transmissível, anunciou que pretendia fazer um intervalo de 12 semanas entre doses, para tentar vacinar mais pessoas. Maria van Kerkhove, da equipa de emergências da OMS, aproveitou para frisar que não há indicações de que a variante identificada na África do Sul, 501Y.V2, seja mais contagiosa que a britânica.

A verdade é que este parecer da OMS tem de ser encarado como provisório, frisou Kate O’Brien, directora do Departamento de Imunização, Vacinas e Medicamentos Biológicos da OMS. “Estamos a fazer recomendações com base em dados imperfeitos, e que por isso podem ser actualizadas”, afirmou, com um apelo firme às empresas que desenvolveram as vacinas para que façam mais investigação. 

Nos Estados Unidos, onde a vacina da Moderna – desenvolvida com um enorme auxílio financeiro dos Institutos Nacionais de Saúde – está a ser administrada desde o início do ano. Tem algumas vantagens sobre a da BioNtech-Pfizer em termos de distribuição: pode ser armazenada durante seis meses a 20 graus Celsius negativos, e não aos 70-80 graus negativos exigidos pela da rival. A vacina da BioNtech-Pfizer tem de viajar em caixas especiais, que as mantêm em temperaturas do pólo Sul, até aos pontos de vacinação, onde podem ser mantidas 20 dias. A da Moderna permanece estável durante 30 dias num frio entre 2 a 8 graus Celsius.

A vacina da Moderna só foi autorizada nos EUA, no Canadá e, nesta terça-feira, em Israel. A discussão sobre formas de a fazer render mais tem sido mais em torno da sua diluição, até porque usa uma maior quantidade de imunizante do que a da BioNtech-Pfizer (o que pode ter a ver com as características da cápsula de lípidos que o envolve, dizem analistas independentes).

Mas a Food and Drug Administration (FDA), a agência que regula o mercado do medicamento nos EUA, considerou “prematuro” autorizar alterações à forma de administrar as vacinas contra a covid-19 nos EUA. “Sem dados que o suportem de forma adequada, corremos o risco de pôr em risco a saúde pública”, diz o parecer da FDA.

Stepháne Bancel, administrador da Moderna, manteve-se lacónico nos comentários sobre a possibilidade de alterar a forma de administração da vacina, numa conferência online nesta terça-feira. “Os nossos ensaios clínicos de fase 3 permitiram obter aprovação para uma vacina de 100 nanogramas em duas doses administradas com 28 dias de intervalo. Para lá disso, não temos dados que convençam a comunidade científica.”

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