Haja vacinas disponíveis

Venham, pois, vacinas mais “amigáveis”. Não será certamente por incapacidade logística que o SNS deixará de dar resposta atempada às necessidades da população.

Apesar de instado pela saúde ocupacional do hospital onde trabalho, recusava fazer a vacina da gripe sazonal. Pensava, porquê proteger-me de uma doença que normalmente resolvo com lenços de papel? E assim foi até ao dia em que um colega me alertou para a razão da convocatória residir na proteção aos doentes com que lidamos no dia-a-dia. É pelos outros, não é por ti que te deves vacinar.

Foi certamente este o principal motivo que levou à decisão de incluir os profissionais de saúde das áreas clínicas na primeira linha do programa de vacinação anti-covid, mais do que um prémio de “linha da frente” ou do risco elevado de mortalidade do grupo. Assim foi em muitos países; outros houve, porém, como é o caso da “racional” Alemanha, em que a idade, mais que a profissão, foi a pedra-de-toque para estabelecer prioridades.

É certamente pelo mesmo motivo que, entre nós, os profissionais do setor privado exigem prioridade na vacinação. Eles sabem que não há hospitais covid e não covid, há sim grupos profissionais com maior ou menor risco de contrair e transmitir uma doença infeciosa, sendo os trabalhadores de saúde das áreas clínicas um dos principais vetores de propagação onde quer que trabalhem.

Ainda sobre o risco covid, é tempo de reconhecermos que foi graças à sagacidade dos especialistas do setor e da decisão das instâncias políticas de seguirem as suas recomendações que devemos a baixa mortalidade verificada entre os profissionais de saúde. É a este “milagre” da inteligência nacional que se deve termos apenas uma fatalidade a registar entre médicos no ativo, quando em Itália se verificaram, só neste grupo da Saúde, mais de 160 mortes durante a primeira vaga.

E os idosos não residentes em lares, porquê excluí-los como prioritários sabendo que é no grupo etário acima dos 80 anos que a taxa de mortalidade é mais elevada? Esta é uma pergunta que deve ser endossada aos responsáveis pelo programa vacinal. Admito que haja razões logísticas na decisão tomada, uma vez que a primeira e ainda a única vacina aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (Pfizer/BioNTech) é exigente do ponto de vista de conservação, não sendo fácil estabelecer um plano vacinal urbi et orbi.

Quando outras vacinas igualmente seguras, de mais fácil conservação e manuseamento, forem aprovadas pela entidade reguladora europeia, como parece vir a suceder a curto prazo com as dos laboratórios Moderna e da Astrazeneca/Oxford, nada justifica que o plano de vacinação não seja alargado aos idosos, onde quer que residam, face à evidencia dos números de mortalidade da Direção Geral da Saúde.

Venham, pois, vacinas mais “amigáveis”. Não será certamente por incapacidade logística que o SNS deixará de dar resposta atempada às necessidades da população.

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