Pela primeira vez, mortalidade ultrapassou a natalidade na Coreia do Sul

Excesso de trabalho e elevado custo de vida são alguns dos factores apontados para a diminuição da natalidade, num país em que 46% da população terá mais de 64 anos em 2067. Covid-19 poderá agravar a situação, desincentivando os jovens a constituírem família.

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O alto custo de vida, o preço das casas e a cultura de trabalho demovem os casais coreanos a ter filhos Reuters/KIM HONG-JI

A população da Coreia do Sul diminuiu pela primeira vez na sua história, com o país a registar um número de mortes superior ao de nascimentos, de acordo com os dados do censo de 2020 divulgados esta segunda-feira.

A crise demográfica é um problema que a Coreia do Sul, tal como o vizinho Japão, enfrenta há vários anos, não só devido ao envelhecimento da população, mas também à baixa taxa de natalidade, o que tem levado o Governo a tomar medidas de incentivo às famílias. Os números têm vindo em queda na última década – em 2010, a taxa estava em 1,49%, enquanto em 2019 se reduziu para apenas 0,05%.

Mas, em 2020, foi a primeira vez em que o número de óbitos supera o número de nascimentos: o país registou 275.815 nascimentos (o número mais baixo de sempre) e 307.764 mortes, um aumento de 3,1% em relação ao ano anterior.

Além disso, os censos revelam que a população sul-coreana está a envelhecer rapidamente, com 32.7% dos seus habitantes entre os 40 e os 50 anos de idade, e quase um quarto com mais de 60 anos.

Caso a tendência se mantenha, escreve o The Guardian, o Governo sul-coreano prevê que a população caia para 39 milhões em 2067 – actualmente é de 51,82 milhões -, ano em que se estima que mais de 46% dos sul-coreanos tenham mais de 64 anos.

Perante estes números alarmantes, o Governo sul-coreano admite que são necessárias “mudanças fundamentais nas políticas do Governo, nomeadamente em termos de estado social, educação e defesa nacional”.

O relatório não menciona o impacto da covid-19 – 918 pessoas morreram na Coreia do Sul e 64.264 foram infectadas desde o início da pandemia , mas os especialistas têm alertado para as consequências ao nível da natalidade, sendo expectável que os casais se sintam desencorajados a ter filhos perante a incerteza quanto ao emprego causada pela pandemia.

Entre outros motivos para a crise demográfica que a Coreia do Sul seja um dos países com a taxa de fertilidade mais baixa do mundo estão a cultura existente do trabalho, que muitas vezes impede a conjugação da vida pessoal com a profissional, o custo de vida e o elevado preço das casas.

“As pessoas dizem-me que é mais seguro construir primeiro a minha carreira”, disse à BBC Hyn-yu Kim, uma jovem sul-coreana que gostava de constituir família, mas que está a reconsiderar os seus planos de ter filhos. “Para ter filhos, é preciso ter uma casa própria. Mas isso tornou-se um sonho impossível na Coreia”, lamentou Kim.

Além disso, de acordo com um estudo do Instituto de Saúde e Assuntos Sociais da Coreia do Sul (KIHSA), em 2018, a maioria dos sul-coreanos entre os 20 e 44 anos estavam solteiros, sendo que 51% dos homens e 64% das mulheres diziam que não pretendiam namorar ou casar para se concentrarem no trabalho ou na educação, acrescentando que não tinham tempo, dinheiro ou disponibilidade emocional para relações amorosas, segundo a CNN.

Para incentivar os sul-coreanos a constituírem família e terem filhos, o Governo tem vindo a tomar algumas medidas. Em 2018, por exemplo, diminuiu o máximo de horas de trabalho semanais permitidas de 68 para 52 horas, além de aumentar frequentemente os subsídios ou incentivos financeiros às famílias que decidam ter filhos, tendo o último pacote de medidas sido anunciado em Dezembro. 

Desde 2006, segundo a AFP, a Coreia do Sul já gastou mais de 166 mil milhões de dólares em políticas para fomentar a natalidade.

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