Sacos e embalagens são os plásticos mais mortais para animais marinhos

Investigadores analisaram centenas de estudos científicos e concluíram que os sacos de plástico e as embalagens flexíveis são os principais responsáveis pela morte de diversos animais marinhos. “Morrer por ingerir algum destes itens não é uma morte rápida e não parece ser indolor”, relembra ecologista.

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REUTERS/Jill Gralow

Sacos de plástico e embalagens flexíveis (bolsas, película aderente ou tubos, por exemplo) são os principais responsáveis pela morte de diversas espécies, como baleias, tartarugas ou aves marinhas. A conclusão é de um estudo da agência científica governamental australiana, CSIRO, que, depois de avaliar centenas de artigos científicos sobre o tema, refere que o plástico é responsável por matar animais de 80 espécies.

Além dos sacos e das embalagens flexíveis, também linhas de pesca, redes, luvas de látex e balões foram consideradas desproporcionalmente letais quando comparadas com outros detritos que os animais marinhos ingerem por engano. Estes materiais são especialmente perigosos para as focas e os leões-marinhos.

E se as baleias, golfinhos e tartarugas são os que mais correm risco de comer película aderente, as aves marinhas ingerem mais frequentemente peças de plástico duro ou balões.

“Morrer por ingerir algum destes itens não é uma morte rápida e não parece ser indolor”, disse ao Guardian a ecologista marinha Lauren Roman, que liderou o estudo. “É uma maneira bastante horrível de morrer.”

O objectivo do estudo, que foi publicado na revista Conservation Letters e analisou 655 artigos científicos sobre detritos marinhos, era entender que espécies de animais corriam mais riscos com os diferentes tipos de detritos que existem nos oceanos. Principalmente de plástico.

É que apesar de haver toneladas de plástico nos mares — em 2016, estimava-se que existissem entre 19 e 23 milhões nos rios e mares —, nem todos os resíduos são igualmente letais para os animais. “Por exemplo, microfibras não vão, provavelmente, matar uma baleia. Mas pela primeira vez quantificámos o que está a ser comido, o que é letal, e, depois, procuramos saber quais deles podem ser controlados com medidas”, referiu Lauren.

O plástico flexível, usado nos sacos e algumas embalagens foi considerado especialmente perigoso, por ser ubíquo. “O plástico flexível pode ficar amassado e ficar preso em diversos pontos do sistema digestivo de um animal”, explicou a investigadora. “Pode ser encontrado em todos os tipos de profundezas na coluna de água que se sobrepõe aos locais onde os animais se alimentam.” 

Os artigos usados para as conclusões deste estudo tiveram em consideração a morte de 1328 animais, sendo que apenas foram claramente identificados detritos como a causa da morte de 159. Mas Lauren justifica que a falta de dados de animais que morrem asfixiados pelo plástico é circunstancial — até porque a maioria nunca chega a ser encontrada por humanos. É que para a morte de um animal marinho ser estudada em detalhe, ele tem de ser encontrado num local onde possa ser examinado rapidamente por pessoas com as habilitações necessárias. E saber os números reais de animais que morrem devido a detritos é um desafio que ainda não foi resolvido pelos cientistas.

O que já se sabe, contudo, são algumas medidas que podem ser tomadas para reduzir a quantidade de resíduos nos oceanos. “Para reduzir a mortalidade da megafauna, recomendamos que os políticos se foquem na redução, proibição e substituição, através de regulamentação, de itens de alto risco de mortalidade, como os sacos, embalagens e folhas de plástico, corda de pesca, redes e balões”, aponta Lauren. “Reduzir a abundância destes itens no ambiente iria directamente reduzir a mortalidade da megafauna marinha.”

A pandemia trouxe também um aumento do uso de plástico, principalmente os de uso único. Richard Leck, director do departamento dos oceanos da WWF Austrália, disse ao Guardian que “estamos a usar mais plástico agora do que no início do ano” e que o estudo mostra que precisamos de voltar ao ponto em que estávamos, sendo necessária uma “abordagem global” para resolver o problema. “É importante relembrar o que acontece a estes animais quando ingerem estes plásticos. É uma morte horrível.”

Em Outubro, investigadores australianos estimaram que existissem 14 milhões de toneladas de pequenos pedaços de plástico no fundo dos oceanos. O que corresponde a 30 vezes mais do que aquele que está à superfície.

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