As mulheres representam um terço do tecido desportivo português

A expressão das atletas no total de federados subiu 61% desde 2003, mas o mesmo não pode dizer-se de outras funções.

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Patrícia Mamona é uma das mais renomadas atletas portuguesas Reuters/DYLAN MARTINEZ

Já foi percorrido um caminho significativo desde o início do século, mas há ainda muita estrada pela frente para equilibrar a balança de género no desporto em Portugal. As mulheres representam actualmente um terço dos desportistas federados no país e isso reflecte-se na representação nacional nas grandes provas planetárias, como os Jogos Olímpicos.

Os dados que constam do estudo ALL IN: Towards balance gender in sport, um projecto conjunto da União Europeia e do Conselho da Europa que abarca 18 países, apresentado nesta sexta-feira numa conferência promovida pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), mostram que se, por um lado, há uma evolução no número de atletas das diferentes modalidades ao longo dos últimos anos, a mesma tendência não é visível quando se trata dos quadros técnicos ou de direcção.

Em 2018, data dos dados mais recentes disponíveis sobre o tema, apenas 10% dos treinadores portugueses eram mulheres, valor que subia para os 15% se analisado apenas o universo do alto rendimento. Uma percentagem que acaba por ficar em linha com o que tem acontecido nos Jogos Olímpicos, por exemplo, que nas duas últimas edições (Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016) contaram apenas com 11% de mulheres acreditadas como treinadoras.

“De há quase 20 anos para cá, o valor das treinadoras estabilizou. A quase ausência de treinadoras nos níveis mais elevados de competição também limita as oportunidades de carreira no desporto. Há alguns estudos que identificam a prática de discriminação como barreira para a entrada das mulheres”, aponta Paula Silva, professora na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, referindo-se a questões culturais enraizadas no sector, que contribuem para esta subrepresentação.

Num país que é o quinto mais sedentário da Europa, entre a população que nunca ou raramente pratica desporto a percentagem de mulheres é de 78% (contra 68% dos homens), enquanto noutras áreas os números também são pouco animadores — a arbitragem no feminino, em Portugal, representa 24% do total e as mulheres em cargos de direcção ficam-se pelos 14% nas federações, sendo que há sete com órgãos sociais exclusivamente masculinos (no Comité Olímpico de Portugal, o valor sobe ligeiramente, para os 20%).

O estudo indica, de resto, que a maioria das acções tomadas para mudar este paradigma têm apontado “no sentido de aumentar o número de raparigas e mulheres a praticarem desporto (68%)”. E nesse capítulo a subida tem sido progressiva, como comprovam os dados reunidos pela Pordata: em 2003, as atletas federadas representavam 18,6% do total, em 2008 eram 23,4%, em 2013 25,4% e em 2018 atingiam os 30%.

Esta variação também se aplica ao contingente olímpico e paralímpico. Há quatro anos, Portugal participou no evento, no Rio de Janeiro, com 68% de homens e 32% de mulheres, sendo que nos Jogos Paralímpicos, das 11 modalidades em que se obtiveram mínimos, seis não possuíam qualquer participante feminina. 

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