Os perigos de nos sentirmos perdidos em tempos de pandemia — e como nos encontrarmos

Hoje quero falar-vos de bem-estar e espiritualidade, que é como quem diz sentirmo-nos bem seguindo a nossa natureza mais humana e menos tecnológica.

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Não importa a idade, onde vives nem o título de trabalho. Não importa se vives sozinho, partilhas a casa com amigos, desconhecidos ou família, na cidade ou no campo, se estás de pijama ou de fato. Estamos todos metidos numa grande alhada. É como se estivéssemos a viver uma ​Vipassana​ intensiva ou a tirar uma pós-graduação em Desenvolvimento Pessoal, mesmo quem foge da espiritualidade a sete pés. 

Bem-vindos ao ano do coronavírus, a era da produção de conteúdos em massa, da massa mãe produzida em casa e dos gurus virtuais, onde o ​online dating​ e a Marie Kondo estão trending ​em todo o planeta. Hoje quero falar-vos de bem-estar e espiritualidade, que é como quem diz sentirmo-nos bem seguindo a nossa natureza mais humana e menos tecnológica. 

Mesmo quem é novo nisto do bem-estar e da saúde mental sabe que manter a ​mente saudável é​ tão importante quanto ter um corpo ​fit. No entanto, com tanto conteúdo duvidoso online, associado a uma ​toxicidade positiva​ suportada pela pressão de “que vai ficar tudo bem”, é simples cair-se no ​FOMO​ (fear of missing out) e ficarmos desconectados do que é realmente importante para nós mesmos. 

Pois que não estão sozinhos. Mas felizmente podemos dar a volta. 

Estou a apanhar seca. Então vou: 

Comer chocolate? Ver mais uma série na Netflix? Limpar a casa pela 11.ª vez? Talvez um passeio a pé resolva. Talvez, mas primeiro vou espreitar o Instagram. Qualquer que seja a tua primeira reacção, tenta identificar o que te provoca esse sentimento de seca e aponta-a no caderninho. Se calhar precisas de uma pausa no trabalho, se calhar de um trabalho novo. Passado um par de semanas, tens um padrão e uma lista de gatilhos de seca. Depois é transformá-los em algo mais interessante. 

Sinto-me perdida (ou perdido) 

Outra emoção comum é sentirmo-nos perdidos. Muitos perdemos os nossos trabalhos e rotinas, tivemos que cancelar planos e abafar sonhos. Passamos demasiado tempo connosco mesmos, o que nos leva a ter pouca perspectiva e voltar a fantasmas e medos do passado, muitos que já nem sabíamos que estavam lá — obrigada, bully​ da segunda classe. Assim, a ​síndrome do impostor​ ou uma extrema necessidade de validação externa podem tomar conta de nós. Nestes casos, é óptimo pedir ajuda mas devemos ter atenção a quem. Uma boa opção é meditar. Mas tens que praticar.

Vou pedir apoio a um guru que não conheço de lado nenhum 

Atenção a quem pedes ajuda. Diferentes necessidades precisam de diferentes pessoas. Por exemplo, se te sentes sozinho e vulnerável, com quem vais falar? Todos temos diferentes amigos, conhecidos e membros da família com quem fazemos umas coisas e não outras. Temos ainda acesso a informação profissional de todos os tipos e feitios online, não sendo necessariamente a melhor para nós. Em caso de dúvida, ouçam a vossa intuição. Tu sabes o melhor para ti, melhor do que ninguém.

Validação nas redes sociais

Repete comigo. Espreitar as redes sociais uma vez mais, confirmar cem vezes quantos likes tiveste (ou não) e espreitar as ​stories​ de pessoas que não estão emocionalmente disponíveis não te vai fazer sentir bem. Muito menos comparar peras com ervilhas, ou seja, a tua vida com a da vizinha. Ao invés, pára e respira. Vai respirar ao parque, dar um passeio à beira-mar ou colher flores na mata. Isso sim, acalma a alma.

E coma de lixo digital 

Todos nos deparamos com vazios durante o dia. Como ocupar o tempo do percurso para o trabalho, aquela conversinha com o colega do lado, ou namorar as montras? É bem tentador ir procurar este afecto nas redes, seja com mais um post filtrado ou um vídeo do TikTok. Nestes casos, em vez de te encheres de porcaria digital, mais vale comer um croissant bem lambuzado, ligar a um amigo ou beber uma bica distanciada ao balcão.

Qualquer que seja a tua escolha, escolhe viver a vida. Com cuidado, mas com todo o sabor.

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