Sobe e desce

Paira no ar uma suspeita: o PÚBLICO estaria a preparar uma operação mais ou menos clandestina para matar a sua edição em papel, ao mesmo tempo que aposta tudo no digital…

O leitor João Elias, ao reflectir sobre a reformulação gráfica do jornal, interroga-se e interroga o provedor: “Se o jornal (em papel) não é feito e pensado para os seus leitores e para angariar novos leitores, vai acabar por se extinguir, talvez seja essa até a vossa intenção com as mudanças que foram efectuadas desta vez, com o crescente potenciar da edição online.”

O director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, assevera que não. “A aposta na edição impressa, criando um figurino gráfico mais compacto, mais exigente e mais difícil de editar, é a prova de que o PÚBLICO não desistiu nem vai desistir do papel. Mesmo que o futuro seja nas edições online, nós sabemos que a actualidade organizada das edições de papel continua a ser procurada por muitos dos nossos leitores e sentimos que é nosso dever prestar-lhes esse serviço. A aposta na edição impressa, por isso, não foi para potenciar a edição online, mas para potenciar uma parte fundamental do que é o nosso jornal e o nosso jornalismo: o jornal de papel.”

Grande amante da leitura do jornal em papel, o provedor regista com agrado o compromisso do director.

As suspeitas do leitor Francisco Luiz Gerês Pereira, de Vila Nova de Famalicão, são de outra natureza e centram-se em duas rubricas: “Refiro-me aos ‘negativo’ e ‘positivo’ que encabeçavam o Espaço Público. Porquê cortar o que está bem? Dá trabalho? Não querem ofender ninguém? Ou é antes uma opção por um jornalismo preguiçoso? Olhe, não sei.”

Sabe o director do PÚBLICO: “Por ser um espaço diário, o ‘Sobe e Desce’ tinha-se transformado numa rotina que em muitos dias carecia de justificação. Porque se há edições em que é fácil e óbvio encontrar várias personalidades com actos capazes de justificar a sua ‘subida’ ou ‘descida’, havia outros dias em que a procura de nomes se transformava num exercício penoso e carente dos melhores fundamentos jornalísticos. Como consequência, este exercício suscitava muitas vezes reparos e críticas merecidas por parte dos nossos leitores, pelo que decidimos que não faria sentido mantê-lo.”

O provedor compreende que o leitor goste dessa rubrica, mas já tem dificuldade em acompanhá-lo quando faz perguntas capciosas. Por outro lado, também sei, por experiência vivida, que a explicação do director é fundamentada e pertinente. Num jornal diário, repito, diário, é preferível não haver “sobe e desce” que ser confrontado com a obrigação de os atribuir, torcendo por vezes os critérios que presidiram à criação da rubrica de modo a nela encaixar uma personalidade que, em rigor, não subiu nem desceu.

O segundo espaço do jornal que merece críticas ao leitor é a meteorologia. “ (…) Há ainda uma questão que me perturba: porquê aumentar o espaço para a meteorologia? Então o leitor do PÚBLICO não tem smartphones com aplicações para lhe darem o tempo, na hora, minuto, segundo? É relevante? Para quê gastar papel naquilo? É o suplemento diário do Seringador? Acho que afinal vou fazer um luto do jornal.”

Responde o director Manuel Carvalho: “Percebemos que muitos leitores achem excessivo divulgar o mapa da Europa ou as temperaturas de cidades europeias. Mas acrescentámos ali também informações úteis sobre a qualidade do ar e um medidor de CO2. É uma página de utilidades que nos parece fazer sentido e cujo conceito gráfico permite aos leitores absorverem o essencial da sua informação em parcos segundos.”  

O provedor duvida que alguém vá consultar o PÚBLICO para saber que tempo faz nalgum recanto da Europa. Por outro lado, nestes tempos de globalização, uma visão da meteorologia no conjunto da Europa é algo que está na moda. Supostamente essa informação torna-nos mais europeus e cosmopolitas… (Nesse domínio, o palmarés vai para a informação meteorológica divulgada pela Antena1. Nela ficamos a saber que tempo fará amanhã em Talin ou em Liubliana, e a ignorar “se vai nevar ou fazer sol” em algumas regiões de Portugal.)

Ainda quanto ao novo grafismo do PÚBLICO, o provedor está em dívida para com os muitos leitores que colocaram questões bem pertinentes sobre as páginas de cultura e, em particular, sobre a agenda. Elas serão tema da próxima coluna – sem falta!

Não podendo fazê-lo individualmente e ainda que com atraso, aqui ficam os meus agradecimentos a todos os leitores e aos camaradas de profissão que, em termos por vezes muito calorosos, me desejaram as boas-vindas ao cargo de provedor do PÚBLICO. Respondo-lhes, como é da praxe, que espero não os desiludir.

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