MAAT vai confrontar visitantes com pegada ecológica humana

Três novas exposições para mostrar ao público, com bases científicas, as implicações dos impactos tecnológicos e ambientais do consumo e vivência humana no planeta.

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Nuno Ferreira Santos

Três novas exposições do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, vão confrontar os visitantes, a partir de Março, com as consequências do impacto da pegada ecológica humana e as mudanças globais dos últimos cem anos. A nova programação, composta pelas exposições Earth Bits, Aquaria e X não é um país pequeno, além do trabalho de um Colectivo Climático, começa em Março do próximo ano, e ficará patente até Setembro, anunciou esta quinta-feira a directora, Beatrice Leanza, numa conferência de imprensa online.

“Vamos mudar completamente os espaços do museu com estas novas exposições, incluindo uma instalação de larga escala, resultado do cruzamento do design e das artes visuais, para mostrar ao público, com bases científicas, as implicações dos impactos tecnológicos e ambientais do consumo e vivência humana no planeta”, disse a responsável.

A nova temporada do MAAT, com abertura a 18 de Março de 2021, visa “envolver os visitantes no importante debate actual sobre o comportamento humano e o seu impacto ambiental”, com base em “vozes de várias áreas”, das artes, arquitectura, ciência e tecnologia. "Vivemos tempos críticos, e os museus são arenas públicas que devem servir para o debate dos temas actuais. As questões ambientais são fundamentais para a nossa sobrevivência”, justificou Beatrice Leanza, questionada pela agência Lusa sobre as razões da opção por este tema dominante na programação.

Em consonância, anunciou que as exposições se manterão durante cinco meses: “Não é ecológico apresentar exposições por períodos curtos, para poucos meses. Por isso decidimos que estas irão ficar até Setembro, e depois faremos nova programação”, acrescentou.

Além das novas exposições, começará o MAAT Explorations, um programa de longo prazo focado no tema da acção climática, com exposições e programas para públicos que incluem um recém-formado Colectivo Climático, e um projecto com a duração de um ano, com curadoria de T.J. Demos.

Sobre o impacto da actual pandemia no MAAT, desde que reabriu, em Junho — após cinco meses em obras devido a danos provocados pelo mau tempo e adaptação à programação deste ano — a directora do museu disse que a actividade online se “manteve muito intensa”.

“A actividade dos museus em todo o mundo baixou para 20% da sua capacidade devido à pandemia, e o MAAT não é excepção. As novas medidas restritivas e o começo do Inverno não estão a ajudar, mas estou confiante que as pessoas vão voltar. Vai ser um desafio interessante para todos”, declarou a directora que iniciou funções no MAAT em Setembro de 2019, sublinhando que o plano de contingência do MAAT, “tem sido muito eficaz” para enfrentar a covid-19.

Earth Bits - Sentir o Planeta é uma exposição desenvolvida pelo estúdio de design dotdotdot, com a colaboração científica da Agência Espacial Europeia (ESA), da Agência Internacional de Energia (IEA), e o apoio da EDP Inovação e da Direcção de Sustentabilidade do Grupo EDP. Esta instalação de quatro partes é uma viagem impulsionada por dados com apresentações gráficas e digitais, vídeos animados e uma estação interactiva que comparam as saídas energéticas de acções individuais e colectivas a nível ambiental, desde o uso da energia ao estilo de vida.

Aquaria - Ou a ilusão de um mar fechado, com curadoria de Angela Rui e design expositivo do estúdio 2050+ de Ippolito Pestellini Laparelli, inclui um filme comissariado a Armin Linke, e um programa público desenvolvido em colaboração com a TBA21-Academy. A exposição reflecte sobre a exploração do mundo marinho, e as novas relações que se podem estabelecer com esta dimensão da natureza, através de 11 instalações de artistas, designers, cineastas, compositores e investigadores: Revital Cohen & Tuur Van Balen, Julien Creuzet, Simon Denny, Marjolijn Dijckman & Toril Johannessen, Michela De Mattei, Alice Dos Reis, Eva Jack, Joan Jonas, Armin Linke, Superflex e Stef Valdhuis foram os convidados a participar.

Como parte da exposição, foi encomendado um filme a Armin Linke, realizado com a colaboração e dentro dos bastidores do Oceanário de Lisboa, que examina a multidimensionalidade da arquitectura aquática, descoberta através de tecnologia escondida.

X não é um país pequeno - Desvendar a Era Pós-Global tem curadoria de Aric Chen com Martina Muzi, e apresenta nove novas instalações, com design expositivo de Bureau. O futuro colectivo continua em foco nesta mostra, e ainda com profissionais de diversos pontos do mundo que trabalham em design, arquitectura e arte, investigando a partir de múltiplas perspectivas geográficas, nomeadamente territórios, cidades, infra-estruturas, plataformas e objectos. O título desta exposição refere-se a um mapa icónico de 1934 — “Portugal não é um país pequeno" — de Henrique Galvão para a Exposição Colonial de 1934, que promovia a ideia de um Portugal como nação “pluricontinental”, veiculada pelo Estado Novo, cujas possessões ultramarinas não eram colónias, mas sim partes integrantes do território soberano. As formas como muitas destas antigas relações coloniais foram alteradas formaram um ponto de partida para a exposição que conta com projectos de Bard Studio (Rupali Gupte e Prasad Shetty), Bricklab (Abdulrahman Hisham Gazzaz e Turki Hisham Gazzaz), Ibiye Camp, Revital Cohen e Tuur van Balen, He Jing, Liam Young, Paulo Moreira, Rael San Fratello Studio (Ronald Rael and Virginia San Fratello), e Wolfgang Tillmans.

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