Já comeste plástico hoje? Podemos chegar a ingerir 20 quilos, ao longo da vida

Vamos comendo pedaços de plástico microscópicos que vão ficando nos alimentos. Por semana, ingerimos o equivalente a um cartão de crédito. Numa vida, podemos ter ingerido 20 quilos de plástico.

Foto
O plástico não é biodegradável, pelo que acaba por se dispersar por todo o lado, nomeadamente no mar e na nossa comida REUTERS/KIM KYUNG-HOON

Já comeste algo feito de plástico? O mais provável é que não o tenhas feito, felizmente, mas isso não te impede de ingerires plástico todos os dias. O plástico está em todo o lado: como não é biodegradável, ao partir-se desfaz-se em partículas minúsculas, infiltrando-se em todo o lado, especialmente no mar, nas praias e nos sistemas digestivos de muitos animais.

Ao comermos esses animais ou ao bebermos água engarrafada podemos estar a comer e beber pequenas quantidades de plástico. Individualmente, não reparamos nesse plástico em cada refeição. Mas os dados da World Wide Fund for Nature (WWF), referentes a 2019, mostram que o plástico que comemos é bem mais tangível do que se calhar pensávamos.

Segundo a WWF, uma das maiores organizações não-governamentais do mundo na área do ambiente, podemos estar a consumir, em média, o equivalente em plástico a um cartão de crédito por semana.

Dois cartões de crédito, que pesam um total de sete gramas, equivalem ao consumo médio de microplásticos em dez dias Kim Kyung-Hoon
Uma sopa de brinquedos de plástico não deve ser agradável, mas é o equivalente ao que devemos ter consumido ao fim de três meses Kim Kyung-Hoon
Um par de dados é o equivalente ao consumo de microplásticos durante um mês Kim Kyung-Hoon
Se tentares comer um tubo de um quilo, estarás a comer o equivalente ao consumo de microplásticos ao longo de um ano Kim Kyung-Hoon
Fotogaleria
Dois cartões de crédito, que pesam um total de sete gramas, equivalem ao consumo médio de microplásticos em dez dias Kim Kyung-Hoon

Ao fim de um mês, já comemos o equivalente a uma pequena peça de Lego rectangular. Num ano, teremos ingerido o equivalente a um capacete de bombeiro.

Kim Kyung-Hoon, fotógrafo da agência Reuters, ilustrou os dados da WWF com fotografias que alertam para as elevadas quantidades de microplásticos que consumimos regularmente.

Pode não parecer muito, mas o plástico no nosso sistema vai acumulando e, como não é biodegradável, vai fazendo estragos. Ao fim de uma década, podemos ter ingerido 2,5 quilos de plástico, o equivalente a dois pedaços de tubos de plástico.

Foto
Em cima da mesa está o equivalente à quantidade de plástico que consumimos numa década Kim Kyung-Hoon

Ao ritmo do consumo actual, um ser humano terá ingerido cerca de 20 quilos de microplásticos ao longo da sua vida.

A verdade é que é extremamente complicado reduzir em massa o uso de plásticos na comida, já que nos últimos 50 anos esse uso de plásticos baratos e descartáveis tornou-se a norma. Usamos em garrafas, usamos para embalar ou guardar comida e atiramos toneladas e toneladas de plástico para o oceano, que, eventualmente, vão intoxicar a vida marinha e voltam à terra, deixando um rasto na cadeia alimentar.

Em entrevista à Reuters junto a um pântano salgado protegido, um professor de Ciências do Ambiente na Universidade de Southampton, no Reino Unido, Malcolm Udson, mostrou os pequenos pedaços de plástico que se vão acumulando na costa, até em zonas onde a biodiversidade é protegida. Udson alertou que, além dos microplásticos, está a aumentar no ambiente a presença de “nanoplásticos”, cuja detecção é mais difícil.

Algum equipamento de protecção contra a covid-19, que equivale a oito meses de consumo de microplásticos Kim Kyung-Hoon
Um capacete de bombeiro equivale ao consumo de plásticos ao longo de um ano Kim Kyung-Hoon
Uma pequena refeição à base de objectos de plástico corresponde aos microplásticos que consumimos ao longo de cinco anos Kim Kyung-Hoon
Fotogaleria
Algum equipamento de protecção contra a covid-19, que equivale a oito meses de consumo de microplásticos Kim Kyung-Hoon

“Pode passar para o nosso sangue e para o nosso sistema linfático e acabar nos nossos órgãos. Estas partículas de plástico são como pequenas bombas-relógio, à espera de se partirem em pedaços pequenos o suficiente para serem absorvidas por animais ou por pessoas e causar consequências danosas”, disse Udson à Reuters.