Oito mil testes em três dias: a “grande operação” para conter a covid-19 em Rabo de Peixe

Testes à população começaram a ser realizados esta sexta-feira por 230 profissionais de saúde e vão decorrer até domingo. Os rabo-peixenses estão a aderir “sem constrangimentos”, diz o director regional da Saúde ao PÚBLICO.

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Rui Pedro Soares
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Rabo de Peixe
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Depois de implementada a cerca sanitária em Rabo de Peixe, é tempo de testar (quase) toda a população de uma das maiores freguesias dos Açores. São cerca de 230 profissionais, entre médicos, enfermeiros, bombeiros e forças de segurança, mobilizados para estancar a propagação da covid-19 na freguesia com mais casos positivos do arquipélago. Numa região com 356 casos activos, Rabo de Peixe regista, até ao momento, 78 infectados.

“É uma grande operação, que envolve uma logística muito grande, com centenas de profissionais sobretudo médicos e enfermeiros”, explica ao PÚBLICO o director regional da Saúde, Berto Cabral, que na recta final do primeiro dia de testes já fazia um balanço “muito positivo” da medida. “Está tudo a correr bastante bem. As pessoas estão a aderir sem constrangimentos, nem problemas”.

No total, a estimativa é que sejam realizados cerca de “sete, oito mil testes” rápidos a uma população que, segundo os censos de 2011, era de 8,866 habitantes – um número que se prevê já ter aumentado para cerca de dez mil. Da testagem em massa, ficam de fora crianças até aos seis anos – “a não ser que tenham sintomas ou os pais queiram” – e “pessoas que tenham sido testadas nos últimos sete dias” e que, segundo as normas regionais, terão de fazer outro teste seis dias depois.

Toda a restante população é convidada a ser testada. E convidada é o termo correcto: a adesão é voluntária, pelo que a iniciativa das pessoas é “fundamental”. Para assegurar a participação, foram assegurados sete postos de testagem em diferentes pontos da vila com 16,98 quilómetros quadrados. 

“Há um drive thru em que as pessoas são testadas no carro, estacionam e aguardam uns minutos no carro pelo resultado. Há um posto fixo que está a funcionar no clube naval de Rabo de Peixe e há cinco postos móveis que vão andar pelas várias ruas a dar cobertura a diferentes zonas da freguesia ao longo da operação”, explica o director regional. Ou seja: existe um posto fixo, um drive thru e cinco carrinhas a circular por diferentes pontos da vila para garantir testes ao maior número de pessoas possível.

Ao final do primeiro dia, em conversa com o PÚBLICO, Berto Cabral assumia alguma dificuldade para quantificar o número de testes já realizados, devido à “complexidade” do sistema de testagem. “Alguns milhares, certamente”, avançando, ainda assim, que já foram detectados mais três novos casos positivos na freguesia no âmbito da testagem.

Antes, no terreno, Berto Cabral já tinha assumido que uma tão grande operação, sobretudo tendo em conta os recursos da região, obrigaria a um reverso da medalha: “Alguma actividade assistencial ficou suspensa”, disse aos jornalistas na freguesia a norte de São Miguel. “A operação é de uma envergadura tal que não seria possível operacionalizar se assim não fosse”.

Até porque não se limita à realização de testes à população. Com três dias de testes e uma cerca sanitária até 8 de Dezembro, o director regional ressalva que o “processo não acaba com a testagem”. Depois, assegura, irá existir um “acompanhamento aos casos positivos”, que irá “envolver assistentes sociais e psicólogos” e até a procura de “locais para alojar as pessoas que não tenham condições em casa para ter o devido isolamento”.

Ao PÚBLICO, o presidente da junta de freguesia, Jaime Vieira, mostrou-se orgulhoso pelo comportamento dos rabo-peixenses até ao momento: “As coisas estão a decorrer com normalidade que a situação exige. A vila está de parabéns pela maneira como está a encarar a situação”, afirma. Jaime Vieira também faz questão de enaltecer o trabalho dos profissionais de saúde e de agradecer o apoio de todos numa “operação muito complexa” que faz votos que coloque um “travão” na propagação da covid-19 na vila. “Pelo facto de testarmos em massa, sabemos que vai parecer mais casos, mas é uma forma de sabermos onde estão os focos de contágio e metermos um travão naquilo que tem sido, dia após dia, o aumento do número de casos em Rabo de Peixe”.

A propósito da pandemia, o autarca, também deputado à Assembleia Regional pelo PSD, procurou desconstruir o estigma em volta daquela vila piscatória, salientando que é “preciso conhecer a realidade” de uma terra tantas vezes mediatizada. “Esta situação em Rabo de Peixe não acontece por sermos diferentes dos outros, não é por aí. Acima de tudo, é preciso conhecer a realidade dessa terra”, afirmou, concluindo em seguida: “Acontece, sobretudo, porque uma pequena área geográfica concentra uma grande quantidade de pessoas.”

Ao PÚBLICO, o responsável pela comissão de combate à pandemia na região, Gustavo Tato Borges, já tinha considerado a situação em Rabo de Peixe como a “mais difícil” do arquipélago quanto ao controlo da pandemia. Na última quinta-feira, os Açores registaram o maior número diário de casos desde o início da pandemia: 42. Até ao momento já foram detectados 1.128 casos e faleceram 19 pessoas na região que em Julho chegou a registar zero casos de covid-19.

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