Covid-19: hotel de Paris sem hóspedes abre portas aos sem-abrigo

Com a pandemia a afastar os turistas, a empresa proprietária do económico mas bem localizado Avenir de Montmartre entregou a gestão à associação Emmaus. Por um ano, os hóspedes são pessoas em situação de sem-abrigo e que precisam de apoio para reconstruir as suas vidas.

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Reuters/CHARLES PLATIAU
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Com vistas para a Torre Eiffel e para a Basílica do Sacré-Cœur, o hotel Avenir Montmartre está habituado a não ter falta de hóspedes – é um duas estrelas e com preços mais económicos do que é habitual na zona. Mas a covid-19 afastou os turistas e no Avenir tomou-se uma decisão: abrir as portas aos sem-abrigo.

A empresa proprietária do hotel entregou a gestão do espaço, por um ano, à associação de solidariedade social Emmaüs Solidarité (o Movimento Emaús, também presente em Portugal​), que agora utiliza os quartos para alojar pessoas que não teriam outra alternativa senão dormir nas ruas. 

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Ibrahim no seu quarto temporário REUTERS/Charles Platiau

“Quando cheguei [a Paris], não conhecia ninguém. Andava de um lado para o outro em alojamentos temporários. Por vezes dormia na cozinha, outras ao lado do caixote do lixo”, diz Ibrahim, originário do Mali e que pediu asilo em França. Não fosse pelo hotel solidário, estaria a dormir no chão da cozinha de um restaurante onde por vezes consegue algum trabalho ocasional, ou, à falta deste, na rua.

“Às vezes consigo um trabalho e ganho 30, 40, 50 euros”, conta Ibrahim. “Quando arranjo um trabalho desses posso pagar uma cama para passar a noite, uns 30 euros. Mas não posso fazer isto para o resto da minha vida”. 

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O director-geral da Emmaus, Bruno Morel, no hotel REUTERS/CHARLES PLATIAU

No hotel Avenir Montmartre, as despesas são asseguradas pela instituição. Os residentes recebem três refeições por dia na sala de pequenos-almoços e cada quarto tem uma tv e uma casa de banho. 

Para a Emmaus, o hotel é um porto seguro que lhes “permite ajudar a reconstruir a vida das pessoas”. O projecto solidário é apoiado pelo Estado.  

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Muitos dos residentes têm problemas de saúde diagnosticados, físicos e/ou psicológicos, em grande parte decorrentes de viverem na rua e de traumas subsequentes, sublinhou o director-geral da Emmaus, Bruno Morel. O objectivo da instituição é ajudá-los a quebrar o ciclo da vida sem-abrigo.

“No dia em que cheguei, disse ‘fantástico!’”, conta Ibrahim. “Já consigo ver um futuro. Vai chegar o dia em que a minha vida vai mudar.”

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