Centenas de trabalhadores da TAP pediram diálogo e transparência frente à AR

Trabalhadores reclamam que têm de ser ouvidos pela administração da companhia aérea e pelo Governo, no que diz respeito ao plano de reestruturação da transportadora. Reuniões dos sindicatos com ministro Pedro Nuno Santos continuam esta semana.

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Iniciativa foi promovida pelo movimento “os números da TAP têm rosto”, sem qualquer ligação aos sindicatos LUSA/ANDRÉ KOSTERS

Centenas de trabalhadores da TAP concentraram-se esta quarta-feira em frente à Assembleia da República, em Lisboa, a pedir diálogo e transparência, no âmbito do processo de reestruturação do grupo.

A iniciativa foi promovida pelo movimento “os números da TAP têm rosto”, sem qualquer ligação aos sindicatos que representam os trabalhadores da companhia aérea, na sequência de notícias sobre despedimentos e cortes salariais que têm sido anunciados. “Queremos transparência” foi uma das frases de ordem dos trabalhadores reunidos em frente ao Parlamento, que junta pilotos, tripulantes de cabine e trabalhadores de terra, que não estão esta quarta-feira de serviço.

“Nós estamos aqui não só pelas pessoas que não renovaram o contrato, mas pelos números que se avizinham ser catastróficos e pelos postos de trabalho e pelas empresas nacionais que têm de alguma maneira uma ligação directa à TAP”, disse à Lusa Elsa Fragata, trabalhadora da TAP e organizadora do movimento espontâneo que se concentrou em São Bento.

Para a tripulante de cabine, “não é só um problema da TAP, mas é um problema nacional. Da TAP, directamente, dependem 10.000 postos de trabalho e é muito importante que as pessoas tenham noção disso, por curiosidade ninguém faz ideia quantos litros de sumo Compal, isto para dar um exemplo, nós consumimos a bordo dos nosso aviões anualmente”, acrescentou.

Os trabalhadores reclamam que têm de ser ouvidos pela administração da companhia aérea e pelo Governo, no que diz respeito ao plano de reestruturação da companhia, e que querem “fazer parte da solução”. “Nós neste momento estamos numa situação de corte cego”, lamentou Elsa Fragata, referindo-se aos números avançados de despedimentos que irão acontecer, que, a concretizarem-se, serão superiores a 3000 postos de trabalho.

Para Maria Peres, supervisora de cabine e trabalhadora da TAP há 34 anos, a necessidade de uma reestruturação da empresa não está em causa, mas defendeu, em declarações à Lusa, “uma reestruturação sustentada e em que os trabalhadores tenham uma palavra a dizer”.

“O Governo não ouviu sequer os sindicatos, que tinham propostas a apresentar. Nós somos confrontados com números na ordem dos 3000 despedimentos, ou seja não só os contratados a prazo que já foram, mas ainda mais 750 [tripulantes] efectivos e 500 pilotos, ora isto surgiu sem qualquer enquadramento, não há qualquer referência a quem é que vai ser despedido, se são os mais novos, se vai haver lugar a pré-reformas, reformas antecipadas, estamos completamente no escuro”, acrescentou.

Os números avançados pelos sindicatos implicam também a redução de 750 trabalhadores de terra, o que faz subir para 2000 o número de postos de trabalho efectivos que a administração diz ser necessário extinguir de modo a reduzir os custos fixos com pessoal. A estratégia implica também uma redução de 25% dos salários. A empresa reduzir a frota para 88 aeronaves no ano que vem quando em Junho detinha 108 aviões, dos quais 102 estavam operacionais.

Depois de ter sido chamados na sexta-feira pela administração da TAP, os sindicatos começam a ter reuniões com o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, esta segunda-feira, numa ronda que irá decorrer pelo menos até amanhã, ou seja, oito dias antes do prazo final acordado com a Comissão Europeia. O PÚBLICO enviou várias questões à TAP e ao Ministério das Infra-estruturas, mas ficou sem respostas.

Trabalhadores criticam silêncio

Os trabalhadores reunidos esta tarde em frente ao Parlamento argumentam, ainda, que as previsões de uma retoma para o sector da aviação apontadas pela empresa não estão actualizadas com os mais recentes números do Eurocontrol, uma vez que a empresa aponta a retoma para 2025 e a Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea anunciou recentemente que espera uma retoma em 2023.

“Ontem [terça-feira], eu estava em casa e tive conhecimento que as escalas da TAP estavam a contactar colegas de folga, porque não tinham já suficientes para fazer os voos. Ora, ainda só foram embora alguns contratados a prazo, imagine-se o que será quando forem todos”, apontou Maria Peres.

O tripulante de cabine António Avelar reiterou que o que os trabalhadores querem é “transparência e diálogo” e lamentou que estejam a ser “mantidos em silêncio desde Março”.

“Não há esclarecimentos nenhuns da parte da empresa, da parte do Governo, nós não sabemos o que vai acontecer às nossas vidas”, disse, lamentando, ainda, os “cortes absurdos que penalizam, sem dúvida, a operação e a viabilidade futura da companhia”.

Recentemente, a companhia Delta Air Lines foi forçada a cancelar cerca de 500 voos, condicionada entre a evolução da procura no Dia de Acção de Graças, nos Estados Unidos, e a redução de pessoal devido à pandemia de covid-19, noticiaram vários órgãos de comunicação norte-americanos.

Este exemplo foi referido pela organização do protesto de hoje, que receia que a redução de trabalhadores na TAP leve a que não se consiga fazer face à procura, quando se der a retoma do sector e a procura voltar aos níveis de 2019.

O plano de reestruturação da TAP tem que ser apresentado à Comissão Europeia até 10 de Dezembro, sendo uma exigência da Comissão Europeia pela concessão de um empréstimo do Estado de até 1200 milhões de euros, para fazer face às dificuldades da companhia. Este plano é necessário, diz Bruxelas, porque a transportadora aérea já tinha resultados negativos antes da pandemia, apesar de ter sido o impacto de covid-19 a afundar a empresa, juntamente com o sector.

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