Porto/Post/Doc: os prémios reais são em português

Partida, de Caco Ciocler, é o vencedor de um palmarés que premiou igualmente André Guiomar e a brasileira Moara Passoni. Premiados podem ser vistos em sala e online.

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Filme brasileiro "Partida", sugestivo híbrido entre o documentário e a ficção realizado pelo actor Caco Ciocler dr
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O melhor realizador da Competição Internacional foi o português André Guiomar, pelo seu documentário sobre o Bairro do Aleixo, "A Nossa Terra, o Nosso Altar" dr

É em português que é falado o palmarés do Porto/Post/Doc. A sétima edição do festival portuense do cinema do real, que se prolongará em online.portopostdoc.com durante mais alguns dias mas cuja edição física viu a cerimónia de encerramento antecipada para esta noite de sexta-feira, deu o prémio máximo da Competição Internacional ao filme brasileiro Partida, sugestivo híbrido entre o documentário e a ficção realizado pelo actor Caco Ciocler. O melhor realizador da Competição Internacional foi o português André Guiomar, pelo seu documentário sobre o Bairro do Aleixo, A Nossa Terra, o Nosso Altar; e o prémio Cinema Falado, para melhor filme em língua portuguesa, coube a outro filme brasileiro, Êxtase, de Moara Passoni. 

Foi uma boa escolha para marcar uma edição “truncada” pelas contingências da pandemia de covid-19, que levaram ao cancelamento das sessões do festival marcadas para as tardes e noites de fim-de-semana.  Partida e Êxtase são objectos que exploram com assinalável inteligência os percursos mais ou menos ínvios do “cinema do real”, conjugando vivências pessoais e olhares políticos sobre o Brasil contemporâneo. 

Partida, em especial, é um objecto profundamente desafiador: uma exploração lúdica dos territórios difusos entre ficção e documentário, cinéma-vérité e cinema inventado, à volta de uma viagem de camioneta encetada por um grupo de artistas desencantado com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro e que decide ir visitar Jose Alberto Mujica, o antigo guerrilheiro que foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. 

Georgette Fadel, a “líder” do grupo, ensaia a possibilidade de se candidatar à presidência do Brasil em 2022, “miragem” usada como motor de um filme que se improvisa literalmente em viagem e que, num fascinante jogo de espelhos, deixa à mostra os andaimes e os bastidores para melhor baralhar a realidade e a ficção, o pessoal e o político. É um vencedor particularmente feliz numa edição do Porto/Post/Doc que soube manter um olhar atento sobre o mundo em mudança pelo meio de todas as contingências deste ano atípico. 

O Porto/Post/Doc não termina ainda esta sexta-feira: sábado 28, pelas 11h, haverá uma última sessão do filme-concerto David Byrne’s American Utopia no Rivoli, e três dos filmes premiados serão exibidos na quinta feira, dia 3, no Passos Manuel: Êxtase às 16h, Partida às 18h e Niños Somos Todos, do espanhol Sergi Cameron, às 20h15. Este último, um documentário sobre a viagem do cantor de flamenco Niño de Elche à América Latina, foi o vencedor da competição Transmission, de entre os títulos apresentados na secção de filmes sobre música do festival que passou este ano a competitiva. 

Para além das exibições em sala, os filmes vencedores, bem como grande parte da restante programação do Porto/Post/Doc, poderá continuar a ser vista na plataforma online do festival até dia 7 de Dezembro. 

Palmarés
 Grande Prémio Vicente Pinto Abreu (Melhor Filme da Competição Internacional) – Partida, de Caco Ciocler (Brasil)
 Melhor Realizador (Competição Internacional) – André Guiomar, por A Nossa Terra, o Nosso Altar (Portugal)
Prémio Cinema Falado (melhor filme em língua portuguesa) – Êxtase, de Moara Passoni (Brasil)
Prémio Transmission – Niños somos todos, de Sergi Camerón (Espanha)
Prémio Cinema Novo (competição de filmes de escola) – Há Alguém na Terra, de Francisca Magalhães, Joana Tato Borges e Maria Canela

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