O Cirque du Soleil promete voltar a brilhar

Companhia de circo canadiana concluiu processo de recuperação judicial e acredita que poderá retomar os seus espectáculos a partir da próxima Primavera.

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O espectáculo Corteo passou pela Altice Arena em Janeiro DR

Cinco meses após o pedido de insolvência e cerca de nove meses depois de ter interrompido os 44 espectáculos que tinha em cena por todo o mundo, e de ter despedido 95% do seu pessoal, o Cirque du Soleil anunciou o acordo com os seus credores, e perspectiva já um futuro mais soalheiro.

Ainda que garantido em Agosto, o acordo para o fim do processo de recuperação judicial que estava nas mãos de grupos empresariais multinacionais que em Julho tinham tomado o controlo da companhia canadiana foi anunciado apenas esta terça-feira pelo Cirque du Soleil Entertainment Group, e noticiado pela Reuters.

“Posso confirmar que a continuidade do Circo está assegurada e que vamos relançar os vários espectáculos conforme o mundo for recuperando a normalidade”, disse, por sua vez, ao jornal El País Daniel Lamarre, que se mantém como director executivo da companhia sediada em Montréal, no Quebeque.

O Cirque du Soleil passou para as mãos dos seus principais credores, em especial o Catalyst Capital Group, do Canadá, que em Julho espoletou o processo de insolvência, e mantém na presidência o seu sócio Gabriel de Alba e Jim Murren, da norte-americana MGM Resorts. A companhia vai também manter a sua sede em Montréal, pelo menos durante os próximos cinco anos.

“Pensamos, em primeiro lugar, em retomar os nossos espectáculos fixos em Las Vegas e Orlando, já que os técnicos e artistas vivem nestas cidades”, avançou Daniel Lamarre ao diário espanhol, manifestando a expectativa de que isso possa acontecer no final da Primavera ou início do Verão de 2021. “A vacina é fundamental para os nossos planos. Para as digressões, será um pouco mais tarde, possivelmente no Outono, porque temos de reagrupar os artistas que temos dispersos por 50 países”, explicou o director executivo do Cirque du Soleil, que conta já quase duas décadas à frente da companhia.

A operação agora anunciada ronda os 1,2 mil milhões de dólares americanos (mais de mil milhões de euros), montante da dívida acumulada e agravada com a pandemia da covid-19, que, no dia 11 de Março, obrigou a companhia a cancelar as 44 produções que tinha em cena de Las Vegas à cidade chinesa de Hangzhou, de Moscovo a Lyon, de Telavive a Melbourne (em Portugal, a última passagem do Cirque du Soleil tinha acontecido no início de Janeiro, na Altice Arena, em Lisboa, com o espectáculo Corteo), e ao corte de 3500 postos de trabalho.

Circo também em streaming

Durante estes meses de pandemia, enquanto a negociação do processo de recapitalização decorria nos bastidores e nas praças financeiras do Canadá e dos Estados Unidos, o Cirque du Soleil não quis deixar de manter a chama das suas produções, e apostou também no streaming, criando o CirqueConect, que, segundo Lamarre, chegou a 62 milhões de pessoas. Uma aposta no mercado digital que será também para continuar, em paralelo com o regresso dos espectáculos.

Fundado em 1984, em Montréal, por um colectivo de artistas das mais variadas disciplinas do circo — performers, dançarinos, ginastas, acrobatas, músicos... — liderado pelo ex-comedor de fogo Guy Laliberté, o Cirque du Soleil afirmou-se, através de sucessivas produções espectaculares, como uma marca incontornável do circo contemporâneo, tendo expandido a sua acção para cidades do mundo inteiro.

Em 2015, Laliberté fez um negócio milionário vendendo a maioria do capital do seu circo por 1,5 mil milhões de dólares a um fundo texano liderado pela TPG Capital, e integrando também aos chineses do Fosun Capital Group e um fundo de pensões do Quebeque. Mas a expansão e internacionalização trouxe consigo também novos problemas, e se a pandemia veio dar aquilo que parecia ser o “golpe de misericórdia” na existência do Cirque du Soleil, a verdade é que a agência Moody’s já tinha avisado, em 2019, que a companhia corria um “risco elevado de falência até ao final do ano”.

Resta saber se o acordo agora alcançado, acrescentado da expectativa sobre a eficácia das vacinas anunciadas contra a covid-19, permitirá que ela volte a brilhar.

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