Síndrome de Noé: acumuladores de animais estão a aumentar e precisam de ajuda

Estudo mostra que a acumulação de animais está a aumentar. Investigadores apontam que os cuidados prestados a pessoas com a Síndrome de Noé acontecem, essencialmente, em situações de emergência, em que “a degradação e a negligência estão já em níveis extremos”.

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REUTERS/Thomas Peter

Um estudo desenvolvido por investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis) alerta para o aumento de “acumulação de animais” e recomenda que se melhorem “urgentemente” as intervenções às pessoas com a Síndrome de Noé.

Em comunicado, o centro de investigação do Porto explica que o estudo, publicado no Journal of Mental Health pela equipa de Óscar Ribeiro, alerta para o aumento de “acumulação de animais em todo o mundo”. “Os profissionais querem apoiar as pessoas que têm este problema, mas enfrentam várias dificuldades devido, sobretudo, à falta de informação sobre estratégias de intervenção eficazes”, referem os autores do estudo.

Os acumuladores de animais são, segundo os investigadores, pessoas que vivem, muitas das vezes, “em situação de precariedade”, sobretudo mulheres, mais velhas e “frequentemente em condições de vulnerabilidade e isolamento”, que tendem a acumular apenas uma espécie de animal. “Estas pessoas tendem a negligenciar-se a si e aos animais, que podem passar fome, adoecer e até morrer sem os devidos cuidados”, indicam.

A acumulação é reconhecida como uma perturbação mental, integrando o Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais da Associação Americana de Psiquiatria.

No estudo, os investigadores afirmam que os cuidados prestados a pessoas com a Síndrome de Noé têm estado “demasiadamente” direccionados para dar resposta a situações de emergência, em que “a degradação e a negligência estão já em níveis extremos”.

Como principais problemas os investigadores apontam a “falta de coordenação entre os vários organismos intervenientes” e a existência de objectivos prioritários que divergem entre as associações de animais, veterinários, serviços socais e de saúde, autarquias e tribunais.

Paralelamente, consideram que ainda existe “falta de formação e de treino” para os profissionais de saúde que “lidam com esta população”, bem como “escassez de reconhecimento” da componente de saúde mental deste problema.

Citada no comunicado, Sara Guerra, a primeira autora do estudo, defende que, “sem uma abordagem concertada e a longo prazo, a taxa de recidiva está, actualmente, perto dos 100%”. “Praticamente todos os acumuladores são ou virão a ser reincidentes. Esta é uma realidade que frusta os profissionais e a própria comunidade”, sublinha a investigadora do Cintesis.

A equipa de investigadores defende, por isso, a necessidade de “colocar os acumuladores de animais, enquanto pessoas com um problema de saúde mental, no centro da intervenção, não circunscrevendo o foco da atenção nos animais acumulados”. Nesse sentido, deixam no estudo uma série de recomendações, como planos de intervenção multidisciplinares, formação de profissionais e da comunidade através de campanhas de sensibilização.

Os investigadores pretendem agora dar continuidade ao estudo, nomeadamente perceber que estratégias e intervenções são usadas pelas entidades e profissionais para procederem a uma “sistematização nacional” e à “criação de directrizes de intervenção”.

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