2001-2011-2021: a síndrome socialista dos anos “um”

Em 2001, seis anos de governação socialista desaguaram no pântano. Em 2011, seis anos de governação socialista resultaram na bancarrota. Resta saber o que nos reserva 2021, depois de mais seis anos de gestão socialista.

1. A crise da pandemia, seja no plano sanitário, seja no plano económico, revelou o esgotamento e a exaustão do Governo PS e do seu primeiro-ministro.

Logo aquando da formação do Governo, eram já ostensivos os sinais de fadiga e de falta de fôlego e visão. António Costa resolveu fazer o maior e mais flácido Governo de sempre, duplicando pastas ministeriais e atropelando tutelas e competências. Fez escolhas de personalidades de segunda linha, sem força política e sem reconhecimento entre os pares. Insistiu na solução Centeno, que sabia temporária e que sabia que, a prazo, lhe infligiria um revés político. Um Governo minoritário, sem suporte parlamentar garantido, como é o Governo Costa II, só poderia ter sucesso se fosse um Governo de combate. Composto por ministros com peso político, com vasto reconhecimento no meio, tão pequeno quanto possível, marcado pela coesão e pelo dinamismo. O Governo que saiu das eleições de 2019 é tudo menos isso; está mesmo nos antípodas disso.

2. É verdade que este Governo teve de se defrontar com uma das crises mais graves das nossas vidas. Uma crise de saúde pública sem paralelo nos últimos cem anos, que atinge todos os recantos do globo e que tem consequências económicas e sociais devastadoras. Para lá delas, terá também consequências políticas, civilizacionais e até psicológicas, cujos sentido e direcção são difíceis de entrever. Este contexto hostil, seguramente mais exigente para um país com as fragilidades do nosso do que para vários outros, pedia e pede um Governo forte e determinado, capaz de gerar e propiciar consensos alargados. Um Governo capaz de prever, de planear, de organizar, de dirigir a administração pública em tempos de excepção, de mobilizar toda a sociedade civil e de se concertar com os sectores social e privado para enfrentar os enormes desafios que lhe foram postos. Um Governo capaz de motivar o país para se superar. Numa palavra, num só adjectivo: um Governo capaz.

3. Já em Março de 2020 se podia ver que o Governo tinha dificuldades em antecipar e prever alguns desenvolvimentos. Mas aí, para sermos justos, ainda se podia compreender que a evolução vertiginosa dos acontecimentos pudesse explicar inércia no arranque, alguma imprevidência, muito improviso. A partir de Maio, porém, tornou-se claro que o Governo era incapaz de estar à altura dos desafios. Primeiro, no aproveitamento dos fundos europeus do Portugal 2020 que ainda não foram executados. Como é que um Governo com a autorização para a quase livre reprogramação dos fundos e a dispensa da obrigação de co-financiamento, com dois ministros para o mesmo pelouro, não adoptou um plano de emergência que, tudo devidamente conjugado, podia ultrapassar os dez mil milhões de euros? Como foi possível não preparar desde Março-Abril o plano de recuperação para a “bazuca” europeia com uma equipa de luxo (que até podia ter sido chefiada por Costa e Silva)? Em Maio e Junho, o país começou a ser gerido – “governado” é outra coisa – ao ritmo do optimismo irritante de Costa. O excesso de confiança traduziu-se logo na negação dos surtos na grande Lisboa (com resposta muito tardia) e na invenção de um inimigo externo (inglês, por sinal). Mas também, e muito gravemente, na convicção de que não era preciso preparar o advento de uma provável segunda vaga. Viu-se isso na educação; mas exagerou-se na saúde. Nada de fazer acordos com os hospitais do sector social e privado, em especial para acorrer às necessidades dos doentes não-covid. Nada de tratar das equipas de rastreamento, que eram as únicas que poderiam travar surtos nas suas fases iniciais. Nada de organizar um programa de voluntários – que os há – para ajudar nos lares ou integrar os grupos de rastreamento.

4. Se olharmos para o momento presente, que é muito preocupante, vemos quão tarde chegam as medidas tomadas; quão confusa, ambígua e prolixa é a comunicação; quão pouco se aproveitam as virtualidades de aplicação maciça dos testes rápidos. Muito grave é já o que se passa em torno da preparação da recepção, distribuição e administração da vacina, que indicia outra vez atraso, amadorismo, falta de planeamento. A ausência do envolvimento substancial das Forças Armadas nas várias frentes revela também um desperdício de saber, de experiência e de recursos absolutamente inexplicável.

Tudo isto se situa apenas na esfera da governação da saúde e de domínios conexos. Se entrarmos no hemisfério económico, em sectores como a restauração, a cultura ou o comércio, a situação é ainda mais caótica, com muitos dos portugueses com iniciativa (dos quais dependem muitos mais trabalhadores) deixados à sua sorte, à álea de promessas não executadas, expostos à maior derrocada das suas vidas. Se formos ao domínio orçamental, encontramos um exercício altamente condicionado pelos partidos que contestam a iniciativa privada e uma total indisponibilidade de Costa para considerar os contributos do PSD (a célebre “linha vermelha”). Pode dizer-se muito coisa do PSD, mas não que não tenha estado sistematicamente disponível para cooperar com o Governo.

5. O nosso espaço público está ocupado ou até, às vezes, barrado com outros temas (do congresso do PCP aos Açores ou a Biden), todos eles dignos de debate sério e profundo. Mas ninguém se iluda: em casa, os portugueses estão centrados na saúde e na sobrevivência económica – e é aí que esperam urgentemente sentido da responsabilidade, capacidade e competência deste ou doutro Governo, das instituições, dos partidos e dos responsáveis políticos. Os sinais de claudicação que dá o Governo impõem ao PSD o dever de se preparar para oferecer uma alternativa capaz e mobilizadora, que, sem demagogias, terá de inspirar e reerguer um país exangue e depauperado.

6. Em 2001, seis anos de governação socialista desaguaram no pântano. Em 2011, seis anos de governação socialista resultaram na bancarrota. Resta saber o que nos reserva 2021, depois de mais seis anos de gestão socialista.

SIM e NÃO

SIM. Donald Tusk. O Presidente do PPE é o maior defensor do mecanismo do Estado de Direito. Lembrou-o minutos depois do veto polaco e húngaro. Ao contrário de António Costa que, em Julho, visitou Orbán e apoiou a sua posição.

NÃO. António Costa. Se se insta as empresas a dispensarem os trabalhadores durante as “pontes”, porque não se apela ao PCP para adiar o Congresso? Ou será que passou a vigorar a regra “um país, dois sistemas”?

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