Transmissão da covid-19 desacelera em Portugal, mas cada infectado continua a contagiar uma pessoa

O número médio de contágios a que um infectado dá origem diminuiu ligeiramente nível nacional, mas em todas as regiões do país está acima de 1 há mais de um mês. No caso da região Norte isto acontece há 113 dias.

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Baixa do Porto horas antes do recolher obrigatório que vigorou durante o passado fim-de-semana Paulo Pimenta

O índice de transmissão (Rt) da covid-19 em Portugal está acima ou perto de 1 desde o início de Agosto, o que revela “uma tendência crescente de novos casos a nível nacional”. Ainda assim, este valor, que mede o número médio de casos secundários resultantes de um caso infectado, desceu ligeiramente em relação à semana anterior, nota que já tinha sido deixada por especialistas durante a reunião de peritos no Infarmed, esta quinta-feira.

As conclusões, que incluem dados de 11 a 15 de Novembro, estão no relatório publicado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que tem feito uma análise semanal deste indicador. O valor médio do R(t) para estes dias foi de 1,10, uma descida ligeira em relação aos 1,11 do período anterior.

O R é um dos indicadores utilizados a nível internacional para perceber a capacidade de contágio de uma doença. Subdivide-se em R0 e Rt. O valor de R0 (lê-se zero) mede o número de contágios que acontecem quando a doença tem condições para se disseminar, sem qualquer medida de confinamento, e é calculado logo no início da epidemia. Já o valor de Rt (ou efectivo) é relevante nas fases posteriores da epidemia, depois de aplicadas as medidas para conter a propagação da doença e quando o número médio de contactos que um doente infeccioso começa a diminuir. 

Na prática, se o Rt for igual a 1 quer dizer que uma pessoa infectada vai dar origem a outro caso de infecção. Caso esteja acima de 1, o número de casos irá aumentar; se for inferior a 1, haverá uma diminuição das infecções.

Apesar da descida do número médio de contágios por infectado a nível nacional, todas as regiões de Portugal Continental foram destacadas no relatório por causa da subida de casos das últimas semanas. Segundo o INSA, o Norte apresenta valores de Rt superiores a 1 nos últimos 113 dias, com uma média de 3488 novas infecções por dia. Neste período o R(t) variou entre 1,01 e 1,38.

O Centro apresenta valores de R(t) superiores a 1 nos últimos 51 dias com uma média de 745 novas infecções por dia — o Rt variou entre 1,01 e 1,46. Em Lisboa e Vale do Tejo, o R(t) está acima de 1 nos últimos 87 dias e o seu valor variou entre 1,02 e 1,2. Esta região teve uma média de 1544 novas infecções por dia.

O Alentejo, que apresenta valores de R(t) superiores a 1 nos últimos 40 dias, teve uma média de 108 novas infecções diárias. E, nesse período, o R(t) variou entre 1,01 e 1,7. E, por fim, no Algarve, o R(t) está acima de 1 nos últimos 37 dias, tendo variado entre 1 e 1,3 — a região teve uma média de 92 novas infecções por dia.

Covid-19 com expansão mais lenta

Também o tempo médio de duplicação do número de casos de infecção, que permite medir a aceleração ou desaceleração da propagação do SARS-CoV-2, aumentou de 28 para 37 dias. Note-se que este valor já chegou a ser de 1,9 dias no início da pandemia. Neste caso, quando maior o número, melhor: significa que a doença não se está a espalhar tão rapidamente e a dar origem a um maior número de casos.

Esta quinta-feira, durante a reunião de peritos no Infarmed, o investigador e epidemiologista Manuel do Carmo Gomes defendeu que é preciso “descer o R(t) significativamente para um nível gerível em termos de entradas hospitalares”, porque se projecta que na transição de Novembro para Dezembro o número médio de novos casos por dia atinja os sete mil.

A questão, apontou, é que, mesmo que se consiga uma redução do R(t) para 1, a incidência de novos casos por dia pode manter-se em vários milhares, entrando-se “num planalto do qual não é fácil sair” e que se continuará a reflectir em mais doentes internados e mais mortes. Por isso, é preciso “manter o R(t) abaixo de 1 continuamente”.

Para calcular o factor R(t) entram em consideração a duração do período que uma pessoa infectada está entre a população, o número de contactos que mantém, a probabilidade de transmissão após o contacto e a susceptibilidade à infecção.

Portugal registou na quinta-feira mais 61 mortes por covid-19 e 6489 casos de infecção depois de, na quarta-feira, contabilizar o maior aumento diário de infecções desde o início da pandemia (6994 casos). No total, o país contabiliza 3762 óbitos e 249.498 infecções.

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