A vacina da covid-19 ao “fundo do túnel”

O que aparentava ser uma conjuntura, um momento episódico nas nossas vidas, vai acabar por se tornar a longa espera de uma vacina miraculosa que, “por si só, não será suficiente” para derrotar este vírus.

Portugal registou esta segunda-feira o maior número de mortes desde a detecção dos primeiros casos de covid-19 e atingiu o seu número mais elevado de pessoas hospitalizadas e internadas em cuidados intensivos. Esta segunda vaga da pandemia tem a particularidade de afectar todos os países por igual.

A Áustria já não se pode vangloriar, como o fez no primeiro semestre do ano, da sua maior competência para lidar com o alastramento da covid-19 e propor corredores aéreos seguros entre países mais diligentes. A tácita clivagem entre Norte e Sul da Europa na forma como lidar com este vírus não é hoje um argumento sequer. Não há lições de moral que Viena ou Estocolmo possam dar ao resto do mundo. O agravamento das medidas restritivas decorre do agravamento de uma pandemia para a qual ninguém tem uma receita mágica.

O que aparentava ser uma conjuntura, um momento episódico nas nossas vidas, vai acabar por se tornar a longa espera de uma vacina miraculosa que, “por si só, não será suficiente” para derrotar este vírus, como alertou o director-geral da Organização Mundial de Saúde.

Cientistas, laboratórios e indústria farmacêutica dedicaram-se à procura de uma vacina como nunca o tinham feito antes na história mais recente. À medida que vamos tendo conhecimento dos desenvolvimentos das vacinas que a Pfizer e a BioNtech anunciaram como tendo uma eficácia de 90% e a Moderna com uma eficácia de 95%, a corrida parece aproximar-se do princípio do fim.

Mas a corrida tem os seus obstáculos. Este não é um processo normal de aprovação de uma vacina, dada a urgência sanitária e os proveitos daí resultantes, pelo que alguns passos serão acelerados em função disso, de modo a que as várias fases de testes sejam feitas em simultâneo.

Há também questões que se colocam quer do ponto de vista logístico, quer do ponto de vista da relação entre a capacidade de produção industrial versus o número de pessoas a vacinar. Mas nenhum destes obstáculos, nomeadamente a boçalidade dos movimentos antivacinas, que alimenta as teorias da conspiração mais imbecis, serve para desacreditar a ciência, num processo extremamente regulado.

Como diz o bioquímico David Marçal, é a logística que se apressa, não a ciência. Podemos prescindir dos negacionistas, mas não de uma meta; um horizonte, que se reforça com estes avanços: a possibilidade de regresso a uma vida normal, seja lá o que se isso for, no próximo Inverno.

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