Portugal está a “vermelho” no mapa de risco europeu e tem maior incidência do que Espanha nos últimos 14 dias

Tendo em conta a enorme disparidade, a nível regional e entre concelhos, da taxa de incidência cumulativa nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes, a Ordem dos Médicos propõe que se pondere a hipótese de “confinamentos selectivos”.

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Miguel Manso

Portugal surge totalmente “pintado” a vermelho no último mapa de risco de infecção pelo novo coronavírus, que foi actualizado nesta quinta-feira pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês). As cinco regiões de Portugal continental, a Madeira e agora também os Açores não escapam à classificação de risco máximo de transmissão de covid-19 neste mapa que usa uma espécie de semáforo e que foi criado depois de a União Europeia ter decidido adoptar critérios uniformizados para definir restrições de viagens. Na última actualização, há uma semana, a região autónoma dos Açores surgia a amarelo (risco intermédio).

Mas quase todos os países considerados — além dos Estados-membros, o mapa inclui o Reino Unido, a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein - surgem actualmente a vermelho. Olhando para os dados actualizados desta quinta-feira, Portugal já tem uma taxa de incidência acumulada nas duas últimas semanas superior à de Espanha (620.8 por 100 mil habitantes contra 599.1), apesar de estar longe dos países que lideram esta lista (a República Checa, o Luxemburgo e a Bélgica, que têm mais de mil novos casos por 100 mil habitantes). Para classificação do risco são considerados três indicadores conjugados: a taxa de incidência, os testes por 100 mil habitantes e a percentagem de testes positivos.

O novo mapa europeu é conhecido no dia em a Ordem dos Médicos (OM), na sequência de uma reunião do seu gabinete de crise para a covid-19,  propôs que fosse ponderada a hipótese de se avançar para “confinamentos selectivos” por NUTS (unidades territoriais) a nível regional e por períodos de entre duas a três semanas, no mínimo, tendo em conta a enorme disparidade da taxa de incidência cumulativa e de forma a que seja possível a “manutenção da actividade, ajustada ao nível de risco, dos sectores primários e secundários, do comércio de bens essenciais, das creches e do ensino pré-escolar e primário”.

O primeiro-ministro também admitiu que vai ser necessário proceder a um escalonamento das medidas por haver situações muito díspares entre os diferentes concelhos e adiantou que isso mesmo vai ser pedido à Direcção-Geral da Saúde (DGS). No final do Conselho de Ministros desta quinta-feira, António Costa sublinhou que há concelhos com pouco mais de 240 novos casos por 100 mil habitantes (valor acumulado nos últimos 14 dias), enquanto há outros com um valor substancialmente superior, não devendo, assim, as medidas restritivas ser iguais. Há um concelho, enfatizou, em que a taxa de incidência cumulativa ascende a “3698 novos casos”.

Tal como muitos autarcas têm feito nos últimos dias, a OM voltou a reclamar que sejam divulgados os dados sobre os novos casos por concelhos que a DGS deixou de publicar nas duas últimas semanas. A OM argumenta que estes dados detalhados permitiram intervir antecipadamente nos “actuais concelhos em estado de emergência” que apresentam “uma grande variação dos indicadores epidemiológicos”.

A última vez que a DGS actualizou estes dados — e era suposto que o fizesse todas as segundas-feiras — foi em 26 de Outubro, alegando que está em curso “uma reformulação dos indicadores relativos aos novos casos de Covid-19”. “Pretende-se que esta seja a principal métrica utilizada na avaliação de risco de cada concelho para que os cidadãos possam acompanhar a evolução da pandemia nos concelhos”, acrescenta a DGS, que prevê que estes dados serão divulgados esta sexta-feira.

Título alterado: Portugal tem mais novos casos (incidência) do que Espanha em valor acumulado nos últimos 14 dias, não em geral

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