Faltar a julgamento custou 1224 euros a João Rendeiro

Diplomata reformado quer recuperar em tribunal os 250 mil euros que investiu no BPP pouco antes de banco falir.

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João Rendeiro faltou ao julgamento evr enric vives-rubio

O banqueiro João Rendeiro foi multado esta quinta-feira em 1224 euros por ter faltado a um julgamento em que é acusado de ter burlado um embaixador em 250 mil euros. O diplomata, que já se encontra reformado, era cliente do Banco Privado Português.  

Para não comparecer em tribunal, João Rendeiro alegou ter sido operado à coluna e não conseguir por isso manter-se sentado por mais de meia hora seguida. Porém, a declaração médica que apresentou para comprovar a sua situação clínica foi assinada não pelo seu cirurgião mas por um médico da especialidade cardio-torácica.  

Depois de o advogado do embaixador Júlio Mascarenhas ter contestado a justificação do banqueiro para faltar ao arranque do seu julgamento, os juízes do Campus da Justiça, em Lisboa, decidiram multá-lo em 12 unidades de conta, ou seja, em 1224 euros, tendo-o ainda instado a informar o tribunal, num prazo de dez dias, de quando estará em condições de se sentar no banco dos réus.  

Hoje com 77 anos, em 2008 o diplomata investiu 250 mil euros em obrigações do BPP, poucos meses antes de João Rendeiro vir a público pedir uma resolução bancária. Mas o lesado garante ter sido enganado pela sua gestora de conta, em quem depositava total confiança: garante que ela o aliciou para investir não num produto de risco, como era o caso, mas sim num produto com juros e capital garantido. “Lançou-me um engodo, levando-me a subscrever as obrigações à má fila”, lamentou o embaixador, que até agora apenas conseguiu reaver dez por cento do dinheiro perdido. “Deu-me informações muito favoráveis sobre a solidez do banco.”  

Em tribunal, o queixoso pede também uma compensação por danos morais da ordem dos 30 mil euros, pelo sofrimento causado. Diz o embaixador que na sequência da perda destas poupanças – cerca de metade de todo o dinheiro que tinha guardado no banco – se viu agravarem-se-lhe problemas de saúde que já tinha.  

Uma filha do diplomata que também prestou depoimento em tribunal recordou que a situação podia ter sido ainda pior, uma vez que a mesma gestora bancária tentou aliciar o pai pouco tempo depois com novo investimento, desta vez de 40 mil euros. Mas isso implicava a transferência de dinheiro para um banco alemão, e nem pai nem filha conseguiram realizar a operação. “Foi a nossa sorte”, observou, recordando como a gestora lhes chegou a falar de Pinto Balsemão e de Cavaco Silva como sendo accionistas do BPP para credibilizar a instituição.  

Arguidos neste processo são também outros antigos administradores do BPP, Fezas Vital e António Paulo Guichard. Mas só o primeiro compareceu em julgamento, tendo-se escusado, por enquanto, a prestar declarações.  

Questionada pelos jornalistas sobre se pretende contestar a multa aplicada ao seu cliente, a advogada de João Rendeiro nada disse. Na sala de audiências, afirmou que não se importava de fazer imediatamente, no arranque do julgamento, as alegações finais.

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