Estado de emergência: representantes do comércio e restauração alertam para “grande golpe” no sector

João Vieira Lopes pede medidas especiais para a restauração e que sobretudo entrem em vigor depressa

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Restaurantes queixam-se de que vai ser um "encerramento de porta aberta" rui gaudencio

Um “grande golpe” para o comércio e também para a restauração, que já está em “bancarrota”. O tom das associações representativas do sector do comércio e dos restaurantes foi de desespero ao tomarem conhecimento do recolhimento obrigatório mais alargado ao fim-de-semana nos próximos 15 dias. Já esta segunda-feira está previsto um protesto promovido por um grupo de proprietários de restaurantes, que se vão concentrar no centro da cidade do Porto, seguindo depois de marcha lenta até à VCI para o “desespero” do sector.

Em declarações à agência Lusa, Pedro Maia, um dos empresários do grupo dinamizador da iniciativa – que diz ter nascido “de forma espontânea” nas redes sociais – explicou que esta reúne cerca de cinco centenas de proprietários de restaurantes (sobretudo do Porto, mas também de Aveiro e Lisboa), que prometem levar os respectivos funcionários para o protesto, com início agendado para as 7h00.

“O objectivo é sensibilizar as pessoas para o que está a acontecer. Neste momento já não suportamos estas novas medidas, é impensável. Já temos casos de fome dentro de portas, investimos todos os lucros de 2019 no primeiro confinamento e não temos apoios”, disse.

Garantindo que “o sector está a pão e água”, os participantes no protesto vão simbolicamente depositar pão e garrafas de água na avenida dos Aliados, de onde partem depois, em marcha lenta, até à VCI, tendo regresso ao local de partida marcado para as 13h00, hora determinada pelo Governo para o início do recolher obrigatório nos próximos dois fins de semana.

Num comunicado enviado, de manhã às redacções, a Associação Nacional de Restaurantes PRO.VAR acusou o Governo de paralisar “quase por completo” um sector “à beira da bancarrota” e defendeu a criação de um gabinete de crise para acompanhar a actividade, deixando um aviso: “Será necessário um montante colossal” para evitar a “hecatombe”.

A Associação acusou o Governo de desenhar medidas “a bisturi” e considerou que as novas restrições anunciadas acabam por ser “um encerramento de porta aberta”: “Os restaurantes mantêm-se abertos, mas completamente vazios, pois a ordem é para os portugueses ficarem em casa e, nos próximos fins-de-semana, os restaurantes continuarão abertos, mas só com entregas ao domicílio”.

João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCP), por seu turno, afirma ao PÚBLICO que “qualquer restrição de mobilidade tem impacto” no sector, assumindo que a restauração “é o sector mais atingido”.

“Deve haver um plano de medidas especiais durante alguns meses para este sector porque as já anunciadas não chegam”, defendeu, propondo que é preciso reforçar o layoff simplificado, aliviar os pagamentos fiscais, além das moratórias já concedidas, e uma redução das rendas na ordem dos 40%.

João Vieira Lopes propõe ainda que os senhorios tenham uma redução ou isenção na taxa liberatória para poderem baixar as rendas dos estabelecimentos de comércio.

Lembrando que ainda esta semana o Governo anunciou medidas a fundo perdido para as empresas, o dirigente pede que “acima de tudo sejam operacionalizadas o mais rapidamente possível” para permitir que tenham efeito na economia.

Outro alerta para o “grande golpe” e as “graves consequências” do recolhimento obrigatório nas tardes e noites dos fins-de-semana veio da parte da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC).

Em comunicado, a associação reconhece ter sido “surpreendida” com esta medida do Governo e defende que “as empresas não suportam mais paragens de funcionamento forçadas” porque são situações que provocam prejuízos avultados, perdas de emprego e contribuem para o desacelerar da economia.

O presidente da APCC, António Sampaio de Mattos, lembrou que as novas medidas restritivas foram anunciadas dias depois de ter sido assinado um acordo para tentar antecipar as compras de Natal. “Na mesma semana em que assinámos com o Ministério da Economia e da Transição Digital um protocolo que tem como objectivo incentivar a antecipação das compras de Natal por forma a evitar concentrações de pessoas nos espaços comerciais, somos surpreendidos com uma medida que pode exactamente provocar essas aglomerações de pessoas noutros momentos do dia e da semana”, avisa o responsável, ressalvando, no entanto, compreender que a saúde pública está na primeira linha das prioridades.

Para a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), as restrições são “catastróficas” para a restauração e para o alojamento”. Ana Jacinto deu conta de que já recebeu, de vários empresários, “notas de que as reservas que tinham já foram todas canceladas”, pelo que os efeitos das restrições já se fazem sentir.

“Não acreditamos que o Governo, se tivesse alternativas, tivesse escolhido estas opções. Portanto considerou que estas opções eram cruciais para conseguirmos travar a pandemia”, disse, clamando por medidas inversamente proporcionais para apoiar as empresas.

Com Lusa

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