Testes de antigénio prometem diagnóstico rápido, mas especialistas avisam que há riscos

Estes testes são mais rápidos, mas especialistas alertam que podem originar “falsos positivos” devido à menor sensibilidade. É preciso evitar falta de orientação clínica que ajude as pessoas a interpretarem correctamente os resultados.

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O objectivo dos testes de antigénio é acelerar a detecção do vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19 Daniel Rocha

Os testes de antigénio para detecção do novo coronavírus, que Portugal começará a usar na próxima semana, são uma das modalidades de testes de diagnóstico rápido para a covid-19 possíveis, mas não são isentos de riscos segundo um artigo publicado esta quinta-feira na revista científica Nature Biotechnology.

O artigo elenca as ofertas de testes rápidos à covid-19 possíveis, numa altura em que aumentam de forma exponencial as infecções, nomeadamente em Portugal. Os testes rápidos, ao contrário dos laboratoriais, podem dar resultados “numa questão de minutos” e são mais fáceis de usar, o que é essencial nesta fase da pandemia, segundo o artigo, que cita Michael Mina, professor de epidemiologia na Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan, nos Estados Unidos.

De acordo com o docente, para que a contenção da covid-19 seja eficaz, as pessoas infecciosas (mesmo as assintomáticas) devem ser identificadas e isoladas o mais depressa possível. Tal, a seu ver, só será conseguido com testes rápidos e baratos à escala populacional, como os de antigénios. Michael Mina defende, por isso, o uso de testes de antigénios baseados no formato dos testes rápidos de gravidez.

O problema dos “falsos positivos"

No caso da covid-19, estes testes permitem detectar as proteínas do coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença respiratória. Comparativamente com os testes de diagnóstico PCR, que têm sido vulgarmente utilizados em laboratório para detectar material genético do vírus, os testes de antigénio têm uma sensibilidade inferior, podendo gerar, segundo o artigo da Nature Biotechnology, mais “falsos positivos”.

No reverso, os testes de PCR, apesar de “altamente precisos”, têm de ser realizados em laboratórios e requerem pessoal e equipamento especializado, tornando o diagnóstico de casos e o rastreamento de contactos mais complicado, assinala a publicação científica. Os testes rápidos à covid-19 baseados na técnica de edição genética CRISPR são mencionados como uma opção igualmente promissora, embora sejam uma tecnologia emergente, uma vez que permitem detetar o novo coronavírus de forma “menos complicada” do que os testes de PCR, sendo “altamente sensíveis e específicos” e, portanto, confiáveis.

Já os testes rápidos de anticorpos (anticorpos específicos para o coronavírus da covid-19) têm “pouco valor” na detecção de infecções activas devido ao intervalo de tempo que decorre entre o início da infecção e a produção de anticorpos. Os testes rápidos poderão, no entanto, ser adequados para uso em casa desde que os reguladores do medicamento e dispositivos médicos autorizem a sua venda livre.

Segundo o mesmo artigo, porém, os reguladores “têm sido historicamente lentos” em aprovar tais testes, alegando “falta de orientação clínica” que ajude as pessoas a interpretarem correctamente os resultados. A empresa farmacêutica alemã Pharmact começou a pressionar reguladores e legisladores, antes de concluir a validação clínica, para que o teste de antigénio BELMONITOR-COV-2 possa ser usado em casa, salienta a revista. 

Em Portugal, os testes arrancam na próxima semana. Na quinta-feira, no parlamento, a ministra da Saúde, Marta Temido, explicou que os testes serão utilizados “nos casos com indicação para tal” segundo Administrações Regionais de Saúde. A ministra da Saúde assegurou que os testes que serão usados “têm fiabilidade e especificidade adequadas”, permitindo “aprofundar o caminho de testar, rastrear e isolar o mais precocemente possível”.

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