Ensaio sobre a história do livro, de Irene Vallejo, vence Prémio Nacional de Literatura espanhol

Doutorada em Filologia Clássica, a espanhola Irene Vallejo é apaixonada pela mitologia grega e romana desde pequena. Neste seu livro, apreciado pela crítica, que é um fenómeno de vendas em Espanha desde que foi publicado e está a ser traduzido para 26 países, investiga a história dos livros e porque é que alguns deles se transformaram em clássicos.

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Irene Vallejo quando em Fevereiro passado recebeu o prémio Ojo Critico em Madrid Samuel de Roman/Getty Images

O Prémio Nacional de Literatura espanhol, na modalidade de ensaio, foi para a espanhola Irene Vallejo, revela o El País, pela obra O Infinito num Junco, editada em Espanha há cerca de um ano, onde é um best-seller, e que acaba de sair em Portugal pela Bertrand Editora. É mais um prémio, entre os quais o El Ojo Crítico de Narrativa que recebeu em Fevereiro, para aquele que é um fenómeno de vendas em Espanha: uma obra elogiada pela crítica e que foi definida pelo escritor Luis Landero como um “ensaio de aventuras”.

Publicado no final de 2019, foi o livro mais vendido durante o período de confinamento por causa da pandemia de covid-19 e segundo o editor português Eduardo Boavida conta no país vizinho já com 18 edições (100 mil exemplares impressos). Foi considerado o melhor livro do ano passado pelo El Mundo, La Vanguardia e pela edição do The New York Times de Espanha.

O júri do Prémio Nacional de Literatura espanhol, no valor de 20 mil euros, considerou que este ensaio oferece “uma viagem pessoal e erudita e instrutiva sobre a história do livro e da cultura do mundo antigo” e “transmite um sentimento de colectivo em que tanto a própria autora como os leitores se reconhecem”. Foi elogiada a “magnífica capacidade narrativa”, a forma como “conjuga rigor e sentido histórico” num conteúdo que “revela um extraordinário gosto pela escrita e projecta um olhar novo” incorporando no ensaio elementos de outros géneros. 

Irene Vallejo tinha seis anos, agora tem 41 pois nasceu em 1979, quando a mãe lhe começou a contar a história de Ulisses, todas as noites. Ela hoje acha que foi aí, com as aventuras de A Odisseia, de Homero, que se converteu numa filóloga sem o saber. Vem de uma família que adora os livros, uma “maravilhosa invenção”, costuma dizer. Actualmente assina uma crónica no  El País Semanal e diz que O Infinito num Junco é “uma pequena homenagem” a todas as pessoas que ao longo dos tempos protegeram e salvaram os livros.

No prólogo, Irene Vallejo escreve: “O livro superou a prova do tempo, demonstrou ser um corredor de longas distâncias. Sempre que acordámos do sonho das nossas revoluções ou do pesadelo das nossas catástrofes humanas, o livro continuava ali. Como diz Umberto Eco, pertence à mesma categoria do que a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Depois de inventados, não se pode fazer nada melhor.”

Eduardo Boavida, numa carta de lançamento da obra em Portugal que enviou à imprensa, considera o livro “uma ode à leitura, que agarra desde a primeira página, e uma viagem pelo tempo e pelos espaços da Antiguidade ao presente, tendo como companheiros personagens tão reais como Alexandre, o Grande, e Mark Twain e tão familiares como Ulisses e Frankenstein.” E lembra que a autora acredita que nas horas mais negras somos todos Quixotes ao contrário: mantemos a sanidade por meio de histórias - e de música, filmes e séries. 

“Não esqueçamos que o livro foi nosso aliado, há muitos séculos, numa guerra que os manuais de história não registam. A luta para preservar as nossas criações valiosas: as palavras, que são apenas um sopro de ar; as ficções que inventamos para dar sentido ao caos e sobreviver nele; os conhecimentos verdadeiros, falsos e sempre provisórios que vamos arranhando na dura rocha da nossa ignorância”, acrescenta a escritora no início do seu livro. 

Para Alberto Manguel, que escreveu sobre esta obra no El País, esta é uma homenagem ao livro feita por uma leitora apaixonada. O Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa considerou-o “obra-prima”. E para o escritor espanhol Juan José Millás este é “um daqueles livros que nos desbravam, que nos domesticam, que nos impõem o seu ritmo de leitura, que nos dão cabo dos nervos... e que são tão necessários”. 

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