Itália e Portugal encontram-se quando a Província vai à cidade

Novo restaurante do grupo Non Basta abriu na Avenida da República, em Lisboa. Há ostras do Sado, pizzas, carnes na grelha e uns gnocchi daqueles que nos salvam mesmo num Inverno de pandemia.

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Tagliolini, trufa, ovo e gema confitada dr

Pode parecer estranho que continuem a abrir restaurantes numa altura em que andamos de desconfinamento em confinamento sem saber bem com que contar. Mas o Província, o novo projecto do grupo Non Basta, estava há já algum tempo pronto a abrir as portas, adiou por alguns meses, e agora abriu-as mesmo, numa esquina da Avenida da República, bem no centro de Lisboa.

A cozinha italiana ainda é o ponto de partida, como nos outros restaurantes do grupo (os Pasta Non Basta, nas Avenidas Novas e em Alvalade, e o Memoria), mas aqui houve a vontade de alargar as fronteiras, ir um pouco mais longe e dar um palco maior aos produtos portugueses.

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Como transmitir essa ideia de que este é um espaço que quer “encurtar distâncias” e cruzar “a qualidade dos produtos do campo e a sofisticação da cidade”? Trazendo, literalmente, o campo até à Avenida da República. Foi o que fizeram, conta Frederico Seixas, um dos sócios, para uma sessão de fotografias que teve como estrelas uma galinha, uma cabra e um porquinho cor-de-rosa, que vemos nas fotos com um pedaço de massa fresca a sair-lhe da boca.

Depois da aventura de fotografar os animais no espaço, um antigo café que foi todo transformado pela arquitecta Inês Moura (também responsável pelo projecto do Memoria), as portas abriram-se finalmente. Antes de nos sentarmos numa das mesas para duas pessoas, em pequenos nichos perto das janelas, Frederico Seixas convida-nos a conhecer o bar, situado logo à entrada, onde, se se desejar, se podem comer umas ostras do Sado, acompanhadas por champanhe, ou simplesmente beber um cocktail (a ideia é que haja um sabor sazonal, em Novembro é a romã) antes de iniciar o jantar.

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Lula dos Açores, tomate marinado e agliata de pistácio dr

Um corredor em que a decoração marca a passagem de uma sala que se quer mais acolhedora para um espaço mais de trabalho leva-nos até à cozinha, dominada por uma mesa de mármore, onde é feita a massa fresca.

E, por falar em massa fresca, é altura de olhar para a carta e seguir algumas das sugestões que Frederico nos faz. Para começar, uma lula dos Açores com tomate marinado e uma delicada agliata de pistácio e uns bivalves abertos na grelha com alho e malagueta (uma alternativa ao Bulhão Pato).

Depois, um dos pratos que mais arrisca, fugindo do tradicional: carbonara de barriga de atum marinada e bottarga, uma ideia interessante talvez a precisar de ser mais bem afinada para se tornar um prato marcante. Já os gnocchi com rabo de boi assado no forno a lenha é um daqueles pratos de conforto perfeitos que nos faz ter vontade de voltar ao Província quando o frio apertar.

Outras opções seriam o tagliolini com trufa e gema de ovo confitada, zitti e ragu de costela mendinha, pici com amêijoas e limão, ravioli verde com aipo, mascarpone e cogumelos ou, no único prato de arroz, um “malandro de bivalves”. Do “fogo” poderá vir um tomahawk ou um t-bone, ou ainda borrego com polenta e abanicos de porco preto de Estremoz, carnes que podem ser acompanhadas por legumes na grelha, salada verde, polenta crocante ou batatas salteadas com ervas aromáticas.

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Gnocchi e rabo de boi dr

Voltando ao menu, para quem optar por uma pizza há a incontornável Margherita, e ainda a de cogumelos e trufa, a verde, a de cullatelo e a província (com nduja, a pasta de salame picante). É de sublinhar que cerca de 80% dos legumes utilizados nos quatro restaurantes do grupo são provenientes de uma horta biológica de três hectares, situada em Oeiras, uma parceria entre o Non Basta e a Semear, associação de integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho (existem cabazes disponíveis para entrega, que podem ser pedidos através do site da Semear).

Nas sobremesas, o granizado com lemon curd, geleia de citrinos e limoncello refresca dias mais quentes, mas se mantivermos o estado de espírito que nos leva a esquecermos pandemias e confinamentos na generosidade de uns gnocchi, então o caminho só pode ser um bolo de chocolate, caramelo salgado e mascarpone batido com baunilha ou uma tarte de noz com caramelo de mel.

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Zabaione gratinado com frutos vermelhos dr

A carta de vinhos oferece mais de 40 referências, com a particularidade de ter várias opções de vinhos italianos, e também alguns austríacos e franceses. É assim quando a “província” vem à cidade – e não se preocupe quem recear encontrar uma galinha em cima da mesa ou um porco a comer massa fresca. Os modelos fotográficos já regressaram a casa.

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