Norte pode atingir os sete mil casos diários de covid-19 na próxima semana

Investigadores dizem não ver ainda sinais de desaceleração do contágio, mas também salientam que o índice de transmissibilidade está muito abaixo do valor que chegou a atingir na primeira fase da pandemia.

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Os hospitais do Norte estão a sentir a pressão do aumento crescente de contágios na região, nas últimas semanas Rui Oliveira

A região norte poderá atingir sete mil novos casos de infecção pelo SARS-CoV-2 na próxima semana, alertaram nesta quarta-feira especialistas, afirmando existirem “vários concelhos” num “patamar semelhante” aos três do Tâmega e Sousa onde foram impostas medidas mais restritas.

Em declarações à Lusa, Milton Severo, responsável pelas projecções do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), afirmou que, a manterem-se as previsões, a região norte pode “chegar aos sete mil novos casos” de infecção pelo novo coronavírus e atingir um índice de transmissibilidade (o designado RT) de 1,6.

“Quando olhamos para o RT efectivo, continuamos mais ou menos como estávamos na semana passada, com um RT efectivo de 1,4 (a variar entre 1,2 e 1,6), o que quer dizer um crescimento a cada cinco dias de 40%, o que é bastante elevado, sendo que as regiões norte e centro são as que têm valores mais elevados”, esclareceu o investigador.

Óscar Felgueiras, matemático especializado em epidemiologia da Universidade do Porto, afirmou que na região norte existem “vários concelhos” que estão "num patamar semelhante” aos concelhos de Felgueiras, Paços de Ferreira e Lousada, onde foram implementadas medidas mais restritivas para conter a pandemia.

Há vários concelhos que estão com incidências muito elevadas e seria perfeitamente natural que houvesse extensão de medidas tendo em conta a evolução da situação”, salientou o matemático, dando como exemplo os concelhos de Vizela, Penafiel, Paredes e Porto. 

De acordo com o investigador do ISPUP Milton Severo, ainda que os modelos matemáticos sejam “como as previsões meteorológicas”, uma vez que dependem da “variabilidade do que vai acontecer”, os mesmos apontam para cerca oito mil casos diários de novas infecções em Portugal na primeira semana de Novembro, dos quais sete mil a norte, com os internamentos no país a poderem variar entre os 2500 e três mil, e o número de doentes nas unidades de cuidados intensivos a ascender aos cerca de 300.

Ainda assim, Milton Severo salientou que o índice de transmissibilidade “na primeira vaga da doença foi bastante mais elevado” (tendo atingido os 2,5) e que tal reflecte que as medidas implementadas “tiveram uma redução efectiva do RT”.

A manter-se esta trajectória, Óscar Felgueiras traça um cenário de, em média, 3500 novos casos diários durante esta semana para a região norte e não descarta a hipótese de “existirem dias com mais de quatro mil" novas infecções pelo novo coronavírus, que provoca a covid-19. “Gostaria muito que a previsão desta semana falhasse porque era sinal de que, de facto, alguma coisa estaria a mudar, mas ainda não vejo isso reflectido nos modelos”, afirmou o matemático.

Questionado sobre se eram perceptíveis alterações nos modelos no decorrer das medidas implementadas pelo Governo para mitigar a evolução da pandemia, Óscar Felgueiras afirmou que, apesar “de uma pequena melhoria”, tal “não é suficiente para sair do intervalo das previsões estatísticas”.

 A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 43,5 milhões de casos de infecção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 2371 pessoas dos 124.432 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direcção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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