Índice sobre a transmissão da infecção piora e alcança níveis de Março

Relatório do INSA confirma que o indicador sobre a transmissão da infecção em Portugal chegou a uma média de 1,27 entre os dias 7 e 11 de Outubro. A última vez que este indicador esteve assim tão alto foi a 24 de Março, quando o nível atingia 1,30. O valor mais elevado estimado nestes cálculos foi de 2,38.

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Rui Gaudêncio

A conclusão não é surpreendente. A evolução do valor do índice associado à transmissão da infecção por SARS-CoV-2 revela um aumento que acompanha a subida do número de casos confirmados, segundo o relatório mais recente do Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA). O valor médio do R(t) no país durante o período entre os dias 7 e 11 de Outubro é de 1,27 – ou seja, acima do 1, como não é de todo recomendável. Aliás, só esteve nesta ordem de grandeza no já distante dia 24 de Março quando era o valor registado foi de 1,30. O relatório faz uma “nota especial” à região Norte do país que “apresenta valores de R(t) superiores a 1 nos últimos 79 dias, com uma média de 909 novas infecções por dia”.

O relatório do INSA sobre as estimativas da curva epidémica da infecção por data de início de sintomas e as estimativas dos parâmetros de transmissibilidade R0 (número básico de reprodução) e R(t) (número de reprodução efectivo em função do tempo) não é animador. A média nacional é de 1,27 para o período analisado no relatório do INSA, “podendo o seu verdadeiro valor variar entre 1,25 e 1,28 com uma confiança de 95%”.

Na verdade, nenhuma região está numa situação que possa ser considerada como relativamente estável, num nível que significaria um baixo e menos preocupante nível de transmissão de infecção. Quando o nível de transmissão está acima de 1, isso significa que a epidemia está a crescer. O relatório do INSA só confirma e reforça o que já se sabia sobre a evolução da curva epidémica da infecção em Portugal. A região Norte – com valores de R(t) superiores a 1 nos últimos 79 dias, com uma média de 909 novas infecções por dia, como já se referiu – merece uma nota especial no documento, que conclui que no período analisado o R(t) variou entre 1,00 e 1,42.

O cenário também não é animador noutras partes do país. “A região Centro apresenta valores de R(t) superiores a 1 nos últimos 53 dias, com uma média de 155 novas infecções por dia. Neste período, o R(t) variou entre 1,04 e 1,35”, refere ainda o relatório.  A média da evolução do R(t) é de 1,33. Logo a seguir, na escala de gravidade, encontra-se a região de Lisboa e Vale Tejo com uma média de 1,16, que “apresenta valores de R(t) superiores a 1 nos últimos 52 dias, com uma média de 611 novas infecções por dia”, sendo que o R(t) variou entre 1,02 e 1,19. “Estes resultados revelam uma tendência de crescimento da incidência de SARS-CoV-2 nestas regiões”, conclui o relatório.

Os gráficos apresentados sobre a evolução do R(t) parecem indicar que o Alentejo é a região mais instável neste indicador, ainda que a média que diz respeito ao período de 6 a 10 de Outubro seja de 1,18, ligeiramente superior à registada na região de Lisboa. No Sul, a média do R(t) para os dias entre 6 de Outubro a 10 de Outubro foi de 0,99, estando o seu verdadeiro valor compreendido entre 0,94 e 1,05, com 95% de confiança.

“Após a correcção da curva epidémica para o atraso de notificação, com base nos dados recolhidos, estima-se que até 11 de Outubro tenham ocorrido 94.556 casos. O número médio de casos secundários resultantes de um caso infectado (R0) para o período de 21 de Fevereiro a 16 de Março de 2020 foi de 2,07. Este valor foi superior a 1 indicando, claramente, que houve um crescimento epidémico, na fase inicial da epidemia”, confirma o relatório, que indica ainda que no mesmo período o número médio de casos secundários resultantes de um caso infectado, medido em função do tempo (R(t)), variou entre 0,81 e 2,38.

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Nelson Garrido

Mais uma vez, o INSA explica a distinção que deve ser feita entre o indicador R0 (que deve ser calculado na fase inicial da epidemia, ainda sem todas as medidas de contenção e atraso implementadas) e o R(t), que deve ser calculado ao longo da epidemia e mede a transmissão ao longo do tempo. Desta forma, este índice R(t) pode ser usado para medir a efectividade das medidas de contenção na evolução da pandemia.

Numa breve recapitulação, o relatório nota que desde o início da epidemia de covid-19, “a estimativa do R(t) variou entre 0,81 e 2,37, tendo-se observado uma tendência de decréscimo desde o dia 12 Março de 2020 (anúncio fecho das escolas), com quebras mais acentuadas em 16 de Março (fecho das escolas) e 18 de Março (anúncio do estado de emergência)”. “Depois de 28 de Abril, o valor do R(t) volta a aumentar, ultrapassando o valor 1 a meio de Maio. A partir de 11 de Julho de 2020, o valor do R(t) volta a ficar abaixo de 1, situação que se manteve até 5 de Agosto de 2020”, acrescenta o documento.

Apesar destas oscilações, a verdade é que uma consulta às médias nacionais do índice do R(t) dos últimos meses leva a concluir que só a 24 de Março este indicador esteve mais alto do que agora, alcançando nessa altura 1,30.

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