Vinhos de Portugal: descobrir o vinho português em 15 provas online que prometem desfazer mitos

Críticos portugueses e brasileiros mostram que há muitos perfis de vinho diferentes em regiões como o Alentejo e o Douro, dão a descobrir segredos de regiões menos conhecidas, convidam produtores e contam histórias. O Vinhos de Portugal deste ano será exclusivamente digital e decorre de 23 a 25 de Outubro.

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Nelson Garrido

O Vinhos de Portugal arranca já no próximo dia 23 e prolonga-se até 25 – este ano numa edição online, que pode ser acompanhada no Brasil e em Portugal, com a possibilidade de os participantes receberem os vinhos nas suas casas – e vai oferecer aquilo a que a organizadora, Simone Duarte, chama uma “Netflix do vinho”.

São 62 os produtores portugueses que vão participar em dezenas de conversas com críticos portugueses e brasileiros, neste evento organizado pelos jornais PÚBLICO, O Globo e Valor Económico, em parceria com a ViniPortugal. Serão três dias de provas, mas a plataforma com toda a informação sobre os produtores, vídeos e fotos ficará disponível depois disso e de forma permanente, sendo também possível ver as 62 conversas ao vivo mais tarde e voltar a elas todas as vezes que se desejar.

A Fugas falou com os cinco críticos que farão as 15 provas especiais (algumas delas com a presença do produtor) – disponíveis para os assinantes do PÚBLICO que residam em Portugal continental, até um limite de 20 por sessão, recebendo antecipadamente os vinhos em casa – para saber o que se pode esperar delas. Os preços variam entre os 37€ e os 67€.

Há grande variedade de temas, mas uma promessa comum: vão abrir-se muitas garrafas (de um lado e do outro do ecrã) para partilhar histórias e desfazer mitos. Com a possibilidade de se fazer perguntas aos críticos via chat. Toda a informação aqui. Inscrições aqui

Jorge Lucki

O crítico brasileiro acredita que o mais importante numa prova de vinho é contar histórias. E, mais do que isso, acredita que o fundamental são as pessoas. Por isso quis fazer provas em que as pessoas estão no centro – e assim irá desfazer o mito de que provas de vinho são uma conversa centrada em questões técnicas e métodos de produção.

Pessoas no centro, portanto. Será assim com “João Portugal Ramos, o grande nome do Alentejo", em que, com a presença do produtor, irá sublinhar “a importância do João Portugal Ramos, contar um pouco da trajectória dele e de como chegou até esse grau de importância no panorama vínico português”.

Outra das provas de Lucki tem como convidados Jorge Serôdio e Sandra Tavares, o casal responsável pelos vinhos Wine & Soul. O crítico recorda a música brasileira Eduardo e Mónica para afirmar que, tal como o casal que aí é cantado, também Jorge e Sandra se completam “como feijão com arroz”.

“A gente sabe que vinhas velhas são uma dádiva, mas se não houver intervenção humana não se vai conseguir fazer um grande vinho, tem que haver alguém que interprete isso e extraia delas o seu melhor”, diz, a propósito do papel incontornável do enólogo Pedro Baptista que faz o Tapada do Chaves, tema da terceira grande prova apresentada por Jorge Lucki.

Dirceu Vianna Júnior

O master of wine brasileiro, que vai apresentar quatro provas, destaca a de Vinhos do Futuro. “É um tema interessante, contemporâneo e de interesse para todos”, diz Dirceu Vianna Júnior. “Será incontornável falar sobre o futuro sem mencionar as alterações climáticas. Vou começar por isso, com algumas estatísticas e exemplos actuais.”

Assim, entre as explicações sobre cada um dos vinhos em prova, Dirceu irá “abordar os principais desafios que iremos enfrentar, e que em certos casos já estamos a enfrentar, tanto na viticultura como na enologia”. E, acrescenta, “mais importante do que isso será discutir o que pode ser feito para superar esses desafios e como isso ajudará a lapidar os vinhos do futuro”. Para isso, adianta, vai utilizar “exemplos e conhecimento do mundo todo, mesmo que o foco seja Portugal”.

Os outros temas de Dirceu Vianna Júnior serão: “Qual o melhor vinho? Varietal, de corte ou field blend?” e “Luís Pato, 40 anos de grandes vinhos e belas histórias” (com a presença do produtor, excelente contador de histórias).

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Luís Pato vai estar à conversa com o Master of Wine Dirceu Vianna Júnior Adriano Miranda

Manuel Carvalho

O crítico de vinhos da Fugas (e director do PÚBLICO) vai apresentar duas provas especiais, uma sobre “Vinhos Contemporâneos do Douro" e a outra que tem como tema “Quatro faces do Vinho do Porto”.

Na primeira, o objectivo é “apresentar o retrato de uma região que em menos de 30 anos se reinventou e hoje é capaz de produzir brancos de grande estilo, tintos de gama média de excelente qualidade e, ao mesmo tempo, topos de gama de classe internacional”.

Com esta prova, Manuel Carvalho propõe-se “ao mesmo tempo dar conta da extraordinária diversidade de terroirs e de castas, e também da sua capacidade de atrair investimento e talento de outras regiões e do mundo”.

A prova dos Porto é uma das tais que se propõe destruir mitos e preconceitos. “O grande objectivo é demolir a ideia que o apresenta como um vinho monolítico ou unidimensional”, explica o crítico. “Pelo contrário, pelos vinhos escolhidos, em função da idade e principalmente do processo de envelhecimento, pretende-se mostrar que o vinho do Porto é muito diverso e as suas categorias garantem experiências de prova capazes de se ajustar a momentos muito distintos”.

Desta forma, “a prova servirá também para constatarmos que, ao contrário da ideia corrente, o vinho do Porto não é apenas dedicado aos momentos solenes. É um vinho que dá prazer no quotidiano”.

Luís Lopes

“Portugal: excelência na diversidade”, a primeira das três provas especiais apresentadas pelo crítico Luís Lopes, da revista Grandes Escolhas, é precisamente o que o nome indica: um retrato de Portugal que pretende mostrar (desfazer o mito, mais uma vez) que o país é muito mais do que apenas Douro e Alentejo, as duas regiões de vinho mais famosas. E para isso apresentará vinhos da sub-região de Monção e Melgaço, assim como do Dão, do Tejo e da região de Palmela.

Na prova “Grandes Tintos do Douro" também quer ir mais fundo e valorizar “matizes e sub-regiões”, mostrando que o Douro é muito variado, porque inclui desde “a região mais seca e quente do Douro Superior” até à “mais clássica do Cima Corgo, com vinhas jovens, com 20 ou 30 anos, mas também vinhas com 70, 80 anos, algumas com mais de 40 castas juntas”.

Também no olhar que vai lançar sobre o Alentejo – na prova “Alentejo, clássicos e modernos” – pretende mostrar que existem na região “estes dois grandes perfis”, sendo os clássicos os que usam as variedades tradicionais do Alentejo, e na vinificação “apostam em vinhos com menos exuberância de fruta e mais notas vegetais e de especiarias”, e os modernos os que apostam em castas que não são da região, da Touriga Nacional à Syrah, e que têm “um perfil mais exuberante, de fruta jovem”.

Rui Falcão

Também o crítico Rui Falcão irá falar do Alentejo e também ele se propõe “desmistificar” algumas ideias feitas sobre a região. Vai para isso mostrar as diferenças entre a “terra fria” e a “terra quente”. “Há cada vez mais plantação de vinhas junto ao mar”, sublinha, “e algumas das vinhas mais altas de Portugal estão no Alentejo, na serra de São Mamede, e não no Douro”. Assim, vai quebrar o mito de que os vinhos alentejanos são “quentes e com muito álcool” e mostrar que há vinhos provenientes de terroirs e geografias completamente diferentes”.

Na prova “Vinhos de Verão" (mais pensada para o público do Brasil, onde o Verão está a começar), Rui Falcão irá destacar a qualidade dos vinhos brancos, dos rosés e dos espumantes que se fazem em Portugal (mais uma vez contrariando o mito de que somos um país de vinhos tintos). Mas, lembra, apesar do título da prova, estes são “vinhos que podem ser bebidos o ano inteiro” e (mais um mito) o espumante não tem que ser para ocasiões especiais – “é até o mais versátil de todos”, conclui.

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Para além das provas especiais, vão estar presentes no evento 62 produtores nacionais Fernando Donasci/Out of Paper

Tem mais duas provas, uma sobre “A arte do corte [blend] em Portugal”, na qual destacará esta “excentricidade” nacional, quando no mundo se fazem sobretudo monovarietais, e a prova “Um mundo de diferenças”, para mostrar a diversidade que existe em Portugal, onde há, inclusive, castas únicas no mundo como o Moscatel Roxo de Setúbal.

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