Funchal quer ser Capital Europeia da Cultura e tem em Rigo o seu comissário

Capital madeirense é a décima cidade a avançar com uma candidatura à organização que decorre em 2027.

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Rigo com o autarca Miguel Gouveia

Já são 10, as cidades. Depois de Coimbra, Braga, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Évora, Aveiro, Guarda e Oeiras, o Funchal também já manifestou a intenção de apresentar uma candidatura à organização da Capital Europeia da Cultura 2027.

O anúncio foi feito já em Agosto pelo presidente da autarquia, Miguel Gouveia, durante a sessão solene comemorativa dos 512 anos da cidade, e vem ganhando força nas últimas semanas.

O último passo, foi o convite feito a Rigo para ser comissário da candidatura do Funchal. O artista plástico madeirense, nascido Ricardo Gouveia, ficou entusiasmado com a ideia. “O Funchal, pelas suas características atlânticas, pela proximidade com o continente africano, e por ser, desde sempre, um ponto de encontro, pode despoletar um diálogo sobre o que é a identidade europeia hoje”, diz ao PÚBLICO, considerando que essa reflexão sobre o que é ser europeu, e sobre a possibilidade de definir uma cultura comum é cada vez mais actual.

“A Europa vive (novamente) numa espécie de impasse. Com a China a crescer de um lado, a Inglaterra a recolher-se e os Estados Unidos a afastarem-se, tem de olhar para dentro.” O Funchal, sendo Capital Europeia da Cultura, pode contribuir para esse debate, ao mesmo tempo que procura reposicionar-se no espaço cultural e geográfico europeu.

A capital madeirense, que foi a primeira cidade construída por europeus fora do continente, participou juntamente com as outras candidaturas, esta quinta-feira numa reunião no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, com a ministra da Cultura, Graça Fonseca. Foi, explica ao PÚBLICO fonte da autarquia, a primeira oportunidade para abordar oficialmente a marca ‘Funchal 2027’, que, sob o lema ‘Ir mais além’, procura capitalizar as características diferenciadoras da cidade.

“O Funchal é a única cidade candidata que está localizada num território ultraperiférico, distante dos meios de decisão continentais portugueses e europeus, e que pode simultaneamente estar no centro da Europa e ser Capital Europeia”, situa o gabinete da presidência do município, com Rigo a reforçar o aspecto geográfico da candidatura. “É um lugar interessante para pensar a Europa, e o que é entendemos por cultura”, diz, acrescentando: “Daqui, podemos olhar a Europa com um certo distanciamento, o que fundamental para o diálogo que pretendemos e as respostas que queremos encontrar: O que é a cultura? O que é ser europeu”.

Rigo, que começou a trabalhar nos Estados Unidos, é pintor, muralista e activista político. Entre os seus trabalhos mais conhecidos contam-se diversos murais em São Francisco e esculturas, quase sempre com forte carácter político. Exemplo, é a ‘Victory Salute’ que recorda o protesto protagonizado por dois atletas negros norte-americanos na cerimónia de entrega de medalhas dos 200 metros em atletismo nos Jogos Olímpicos de 1968 no México, ou, mais recentemente, a estátua de 3,6 metros do activista nativo americano Leonard Peltier, preso nos Estados Unidos desde 1977, instalada no terraço do San Francisco Art Institute, em frente à baía da antiga prisão de Alcatraz.

O autarca do Funchal pediu recentemente contributos aos agentes culturais da cidade, para a preparação do programa da candidatura, depositando na reabilitação do antigo Matadouro municipal, que vai transformar-se num espaço de empreendedorismo e criatividade, e no Teatro Municipal Baltazar Dias, que tem sido casa dos principais eventos culturais, como pilares para sustentar o projecto de Capital Europeia da Cultura.

Depois de Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012), Portugal volta acolher a organização da Capital Europeia da Cultura, juntamente com uma cidade da Letónia. A decisão da escolha da cidade é feita pelos respectivos países até 2023.

Este ano, as cidades Capital Europeia da Cultura são Rijeka (Croácia) e Galway (Irlanda).

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