Bastonários escrevem à ministra da Saúde: o SNS, como está, não poderá ajudar todos os doentes

O actual e cinco antigos bastonários da Ordem dos Médicos escreveram uma carta aberta à ministra da Saúde em que alertam para a urgência de mudar a estratégia do Serviço Nacional de Saúde.

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Mário Cruz/Lusa

O actual bastonário da Ordem do Médicos, Miguel Guimarães, e os antigos bastonários Gentil Martins, Carlos Ribeiro, Germano de Sousa, José Manuel Silva e Pedro Nunes escreveram uma carta aberta à ministra da Saúde na qual falam da angústia e da preocupação que sentem perante a segunda fase da covid-19 e da necessidade de fazer mudanças urgentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma vez que, tal como está, não poderá ajudar todos os doentes.

“O que nos move nesta carta aberta, senhora ministra da Saúde, é a angústia de quem conhece os doentes pelo nome e sabe que o SNS, como está, sozinho não os poderá ajudar a todos. Não há tragédia maior do que esta. É preciso mudar já”, lê-se na missiva, publicada esta quarta-feira no PÚBLICO.

Para os bastonários, o Ministério da Saúde não aprendeu a lição dos últimos meses. Isto, porque, segundo os autores da carta, apesar de estarmos na segunda semana de Outubro, nada mudou e não há ainda um plano de Outono/Inverno. “A DGS pôs à discussão no fim de Setembro uma versão inicial do plano que, além de ‘não consolidada’, nos parece insuficiente e incompleta em domínios fundamentais de operacionalização para responder de forma eficaz às necessidades dos doentes covid e não-covid”, lê-se.

Envolver o privado

O actual e os antigos bastonários defendem que o SNS lidere uma resposta global, “envolvendo, de acordo com as necessidades dos doentes, os sectores privado e social, que permita aumentar o acesso a todos os cuidados de saúde com uma resposta inequívoca a todos os doentes (covid, não-covid e gripe sazonal) e, através de programa excepcional alargado, recuperar as listas de espera e os potenciais doentes ‘perdidos”.

Defendem que é o momento de reforçar a capacidade de resposta da saúde pública, dos cuidados de saúde primários, da saúde ocupacional, da medicina hospitalar e de reforçar o acesso à saúde nas zonas mais carenciadas. E consideram que esta é a altura para “concretizar a verdadeira transformação digital na medicina à distância” e “integrar a Saúde e a Segurança Social nos lares para melhor proteger os nossos idosos”.

E deixam o alerta: “Não podemos voltar a deixar alguém ficar para trás.”

Os bastonários lembram que durante a pandemia houve 100 mil cirurgias atrasadas no SNS, a que se junta um milhão de consultas nos hospitais, milhares de rastreios que ficaram por fazer, designadamente em oncologia, 17 milhões de meios e exames de diagnóstico e terapêutica, cinco milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários. 

O número de óbitos não-covid disparou, com mais 7144 mortes entre Março e Setembro do que a média dos mesmos meses dos últimos cinco anos”, lê-se na carta.

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