Covid-19: República Checa com mais restrições, Paris pode ter recolher obrigatório

Pandemia cresce na Europa, e antigos países exemplares estão agora muito pior, como a República Checa, que como a Bélgica, parece estar perto de um segundo confinamento.

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Escola no dia anterior ao encerramento, em Praga MARTIN DIVISEK/EPA

Com anúncios de potenciais medidas drásticas, como um recolher obrigatório a ser considerado para Paris, muitos países europeus estão a tentar conter a pandemia, mas a aproximar-se de um potencial segundo confinamento que até agora, ainda não aconteceu em nenhum Estado da Europa. 

De várias capitais europeias têm surgido anúncios de mais restrições, invocando sobretudo o aumento na ocupação de camas de cuidados intensivos. Cada vez mais responsáveis não põem de parte um segundo confinamento nacional o que, até agora, não foi feito por nenhum país europeu e é raro mesmo a nível mundial (Israel foi o primeiro a tomar esta medida uma segunda vez).

Um dos países que parece estar mais perto é a República Checa, inicialmente um modelo de boa resposta à pandemia, mas que é agora o país com maior crescimento da transmissão.

O país teve a mais alta taxa de casos por cem mil habitantes em 14 dias, 493,1, seguido pela Bélgica e Holanda (364). De seguida vêm os que até há pouco eram os países mais afectados, França (299,8) e Espanha (299,7), segundo os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.

Na segunda-feira a República Checa, que tem pouco mais de 10 milhões de habitantes, registou 4311 novas infecções e 64 mortes (na sexta-feira teve um pico de 8618 novas infecções num só dia), e Espanha, que tem quase 47 milhões de habitantes, 9286 novos casos e 65 mortes.

Na segunda-feira à noite, o primeiro-ministro checo, Andrej Babis, anunciou novas medidas: o encerramento de todas as escolas e ensino à distância, com a excepção das creches, que se mantêm abertas, de todos os bares e restaurantes, e vai ser proibida a venda de álcool em locais públicos. Vai ainda ser restrito qualquer evento desportivo, cultural ou religioso com mais de dez pessoas em interior ou 20 em exterior. 

Na semana passada tinham já sido encerrados ginásios, piscinas e jardins zoológicos. “Só temos esta tentativa, por isso, tem de ter sucesso”, disse Babis sobre as medidas.

Babis vinha garantindo que não voltaria a decretar um confinamento - o seu país foi um dos primeiros a impor esta medida, assim como encerrar fronteiras e usar obrigatoriamente máscaras até no exterior - mas no fim-de-semana disse que o faria se os peritos o recomendassem.

A Bélgica também já apresentou medidas esta segunda-feira que foram vistas como um último passo antes de um confinamento, que o ministro da Saúde disse ser impossível de excluir. As medidas actualmente em vigor incluem um limite máximo de contacto a três pessoas que não morem juntas, por exemplo, e a antecipação da hora de encerramento de bares, que em Bruxelas foram entretanto fechados, assim como os cafés (apenas estão abertos restaurantes).

A conselheira do conselho nacional de saúde Erika Vlieghe disse que a situação é “dramática” e “assustadora”. Especialistas começam a levantar dúvidas sobre a capacidade de resposta do serviço de saúde.

De França, o anúncio de uma possibilidade de recolher obrigatório em Paris e noutras grandes cidades apanhou todos de surpresa. Segundo o jornal Le Point, o recolher poderia começar às 20h, 21h ou 22h. É uma medida brutal, mas que teria, segundo especialistas, efeito na diminuição do contágio. Por outro lado, também teria pesados efeitos económicos.

As medidas em França deverão ser anunciadas esta quarta-feira pelo Presidente, Emmanuel Macron.

Já a Itália confirmou, entretanto, esta terça-feira novas restrições, incluindo os restaurantes não poderem servir bebidas alcoólicas a pessoas que se sentem à mesa depois das 21h e a obrigatoriedade de encerrarem à meia-noite, restringir a 30 o número de pessoas em casamentos e baptizados, limitando ainda o número de convidados em casa a seis, e estabelecendo ainda o uso de máscara obrigatório também no exterior.

O primeiro-ministro, Giuseppe Conte, disse que estas medidas pretendem evitar um aumento de casos que possa levar a um novo confinamento. “Temos de evitar levar de novo o país a um confinamento geral, a economia já começou a andar de novo”, disse o chefe de Governo, citado pela agência Reuters. Os novos surtos estão sobretudo ligados a família e amigos, disse, e não às escolas.​

Bruxelas quer regras uniformes para viagens 

Enquanto isso, os países europeus concordaram em harmonizar as restrições para pessoas que viajem entre Estados-membros, após uma recomendação da Comissão Europeia que estabelece critérios e propõe medidas adaptadas à situação da pandemia em cada local.

Com base num sistema de semáforo conforme o risco em cada região, são determinadas medidas como testagem ou quarentena. Além das cores normais do semáforo, há um nível cinzento, para os casos em que não há dados suficientes. 

A gestão das medidas de saúde é, no entanto, competência nacional - e ainda, em alguns países como a Alemanha, competência dos estados federados - e os países têm tido dificuldade em coordenar medidas quando as competências são nacionais, como aconteceu no início da pandemia com o encerramento das fronteiras.

A proposta da Comissão aprovada esta terça-feira pelo Conselho prevê que os níveis do semáforo sejam determinados tendo em conta três critérios: o número de novos casos por cem mil habitantes dos 14 dias anteriores, o número de testes por cem mil habitantes na semana anterior e a percentagem de testes positivos entre os testes realizados da semana anterior.

A ideia é acabar com a situação actual em que há uma série de restrições e medidas diferentes conforme os países, e ajudar ao regresso, sempre que possível, da liberdade de circulação dentro da União Europeia. 

Muito poucas zonas cumprem, no entanto, critérios para ter um “sinal verde”, que segundo a proposta, permite viagens sem restrições: de momento, apenas a maior parte da Alemanha Oriental, algumas partes de países nórdicos e bálticos, algumas zonas na Bulgária e Grécia e uma zona só em Itália, enumera a Reuters.

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