Como se portaram os treinadores da I Liga no primeiro emprego

Prever o sucesso dos técnicos pelo que fizeram na primeira vez que dirigiram uma equipa sénior de futebol de 11 não é uma ciência exacta. Fica aqui um retrato dos que lideram actualmente as equipas da I Liga.

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Sérgio Conceição em 2012, como treinador do Olhanense Fernando Veludo/Nfactos

Há uma eternidade (Setembro de 2000) que um jovem de 37 anos chamado José Mourinho iniciou a sua carreira a solo num cargo de topo do futebol português, o de treinador do Benfica. Começou com uma derrota, só teve duas vitórias nos sete primeiros jogos e nem três meses aguentou no cargo. Mas esta entrada em falso não o deteve e, 20 anos depois, bem sabemos o que Mourinho alcançou. Também Tiago Mendes teve uma falsa partida no seu início de carreira como treinador principal, demitindo-se após três jogos no banco do Vitória de Guimarães, alegadamente por não concordar com a política de contratações do clube, mas irá por certo ter uma segunda oportunidade num futuro próximo. Como Mourinho teve em Leiria, poucos meses depois de sair da Luz.

Prever o sucesso dos treinadores pelo que fizeram no seu primeiro emprego a dirigir uma equipa sénior de futebol de 11 não é uma ciência exacta. Há exemplos para todos os gostos e os treinadores da I Liga tiveram os mais diversos primeiros empregos como chefes de equipa no futebol sénior – para este exercício, não contamos os cargos de treinador nos escalões de formação, ou como adjunto. Há quem tenha começado no futebol distrital, há quem tenha começado na I Liga, há quem tenha até começado noutro continente. O ponto em comum é que estão agora todos no primeiro escalão do futebol português.

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Em 2000, Mourinho ficou menos de três meses como treinador do Benfica Manuel Roberto

O caso de Sérgio Conceição

Comecemos por quem começou no topo. E não há melhor exemplo do que o treinador bicampeão nacional. Menos de duas épocas depois de ter terminado a carreira como jogador, um período em que foi director-desportivo do PAOK e adjunto no Standard Liége, Sérgio Conceição assumiu o comando de um aflito Olhanense, salvou a equipa algarvia da despromoção e ficou para a época seguinte, mas não ficou até ao fim, saindo em conflito aberto com o presidente Isidoro Sousa, uma situação que se repetiria em quase todos os clubes por onde tem passado. Mas mostrou sempre resultados e nunca esteve muito tempo desempregado. Passou por França (Nantes) e aterrou no Dragão para um ciclo que já vai na quarta temporada.

Para além de Conceição, João Pedro Sousa é o outro treinador da I Liga que começou na I Liga, mas depois de uma longa carreira como treinador adjunto. Antes de chegar ao Famalicão para dirigir a equipa minhota na sua melhor época de sempre, João Pedro Sousa andou pelo futebol de formação e fez parte da equipa técnica de Marco Silva no Estoril, Sporting, Olympiacos, Hull, Watford e Everton. O Famalicão foi o seu primeiro “disco a solo” e foi um sucesso enorme – sexto lugar na I Liga e o direito a tentar prolongar o sucesso por mais uma época.

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Começar por baixo

Dos dois (três, contando com Tiago Mendes) que começaram na I Liga, passamos para os quatro que começaram na base da pirâmide, o futebol distrital. Ricardo Soares, actualmente no Moreirense, arrancou a sua carreira nos distritais de Braga, em 2005, com o Clube Caçadores de Taipas, chegando 11 anos depois à I Liga para orientar o Desportivo de Chaves. Bem menos tempo levou Pepa a chegar à I Liga. O actual técnico do Paços de Ferreira começou na Sanjoanense, dos distritais de Aveiro, em 2013, mas já estava no escalão principal em 2016-17, começando a época no Moreirense e terminando no Tondela.

2012 foi o ano em que Vasco Seabra (Boavista) e Luís Freire (Nacional da Madeira) arrancaram a carreira de treinador principal. Nenhum deles teve carreira como jogador e ambos começaram nos distritais. Seabra começou no Lixa e foi logo campeão na AF do Porto, passando para a formação do Paços de Ferreira, que lhe daria, em 2016, o primeiro emprego na I Liga. Já Luís Freire, um estreante que é o treinador mais novo da I Liga (34 anos) começou a treinar o clube da sua terra, o Ericeirense, dos distritais de Lisboa, e foi-se mantendo em clubes da região (Pêro Pinheiro e Mafra) antes de chegar à II Liga, primeiro no Estoril, depois no Nacional, onde alcançou a promoção.

O estagiário

Muitos dos treinadores de I Liga saltaram directamente do relvado para o banco. Aconteceu, por exemplo, com Jorge Jesus, que, de um dia para o outro, deixou de ser jogador no algarvio Almancilense e passou a treinador do Amora, da Zona Sul da II Divisão B (terceiro escalão). O treinador do Benfica tinha, na altura, 35 anos e passou quase quatro épocas na equipa do Seixal que lhe deu a primeira oportunidade, seguindo-se um período igualmente longo no Felgueiras, que levou à I Liga em 1995 – mas desceu de divisão nessa mesma época.

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Jesus no banco do Amora, a sua primeira equipa como treinador Foto cedida por Isau Maia

Um pouco mais levou Rúben Amorim entre o final da carreira de jogador e o início das funções de treinador. Médio internacional com passagens por Belenenses, Benfica e Sp. Braga, Amorim terminou a carreira no Qatar em 2016 e, em 2018, foi contratado para treinar o Casa Pia no Campeonato de Portugal. Mas a sua falta de habilitações fazia com que tivesse de ter o estatuto de treinador-estagiário, não podendo dar ordens para o campo. Houve quem tenha reparado nisso e a FPF aplicou-lhe um castigo e ao clube (que seriam, depois retirados).

Antes de se demitir, Amorim lançou o Casa Pia para uma campanha que acabaria em promoção para a II Liga, sendo depois resgatado para a equipa B do Sp. Braga. A falta de habilitações continua a perseguir Amorim quando foi promovido à primeira equipa dos minhotos e na transição para o Sporting, que é obrigado a ter Emanuel Ferro na ficha de jogo como treinador principal.

A I Liga portuguesa tem apenas um treinador estrangeiro, o espanhol Pako Ayestarán, técnico do Tondela, ele que foi adjunto durante muitos anos de Rafa Benítez e que chegou a ser adjunto de Quique Flores no Benfica. Ayestarán lançou-se numa carreira a solo na segunda divisão mexicana, no Estudiantes Tecos e chegou a treinar o Valência, antes de aterrar no Tondela.

Também no continente americano foi onde começou Sérgio Vieira, treinador que levou o Farense de volta ao futebol português de primeira. Depois de aprender nas estruturas de Académica, Sp. Braga e Sporting, Vieira aventurou-se no futebol brasileiro, para treinar os sub-23 do Atlético Paranaense, mas passou rapidamente para o Guarantiguetá, da Série C do Brasileirão, clube que tinha uma parceria com o Atlético. Em 2017-18, estreou-se na I Liga (Moreirense), depois passou dois anos de sucesso na II Liga (Famalicão e Farense) e, mesmo sem ter ainda qualquer ponto em três jornadas, está a recolher muitos elogios pela qualidade do seu futebol.

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