Bücherverbrennung ou a queima dos livros no Reino Unido

O Governo britânico baniu das escolas todos os livros e materiais escolares associados à promoção do fim do capitalismo. Assim sendo, nas escolas não se deve ensinar ou promover princípios opostos a uma economia cujo objecto único e primordial é a obtenção de lucro, de capital.

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Bücherverbrennung, em alemão, significa queima dos livros. Este é um termo associado à propaganda nacional-socialista na Alemanha de Hitler, à data responsável pela organização de grandes piras em várias cidades para a destruição de todos os livros críticos ou contrários ao regime vigente. O objectivo? Purificar a literatura de todos os elementos estranhos passíveis de alienar a cultura alemã.

Em finais de Setembro, o Governo britânico baniu das escolas todos os livros e materiais escolares associados à promoção do fim do capitalismo. Assim sendo, e de acordo com os regentes deste muy nobre país, nas escolas não se deve ensinar ou promover princípios opostos a uma economia cujo objecto único e primordial é a obtenção de lucro, de capital.

O mesmo capital responsável pela desregulação desenfreada do mercado de habitação, incluindo o fim da habitação social bem como o direito universal à mesma, obrigando milhares de famílias a viver, literalmente, na rua. O capital responsável pelo desemprego acelerado, ainda para mais em tempo de pandemia, o capital do fim dos sindicatos, o capital dos trabalhadores despedidos em catadupa e rapidamente convertidos em colaboradores com metade do ordenado, sem contrato nem direitos para além do direito a trabalhar. Baixas? Férias? Reformas? O mundo quer-se moderno e viva o trabalho à jorna! Ou assim almejam fazer-nos entender.

O capital onde só estuda quem tem dinheiro para uma educação privada e quem não tem dinheiro não estuda, não aprende, não pensa, assina de cruz para o resto da vida. O capital da saúde apenas ao alcance dos bolsos mais fundos.

O capital da xenofobia, do populismo, da manipulação, da criação de campos de concentração para migrantes na ilha de Ascensão, território britânico a milhares de quilómetros de distância do tão desejado sonho, do tão desejado futuro para milhares de refugiados. O capital da homofobia, da não inclusão, da discriminação, da perda de direitos e liberdades. 

Infelizmente, o Governo britânico não partilha esta opinião e a primeira pedra está lançada. E se nos tempos do thatcherismo era defendida a não-promoção da homossexualidade nas escolas, semeando o terror e o medo entre a classe docente a quem o fizesse, ou fosse, os tempos que se avizinham não serão diferentes.

Antes pelo contrário: “A economia é o método. O objectivo é mudar o coração e a alma”. Assim dizia Margaret Thatcher. O primeiro passo? A reescrita do currículo escolar, o controlo primário e primitivo da informação a que os jovens têm acesso, começando desde logo pelo controlo dos professores e do ensino. Começando pelo controlo de quem ousa pensar. De quem ousa falar. Falar de política, de sonhos, uma vida melhor, algum sentido, o sorriso no rosto de uma criança. 

Estamos a caminho de Trafalgar Square. Vamos de bicicleta e ao fundo distinguimos algumas bandeiras da extrema-direita britânica, vulgo a English Defence League. “A meia dúzia de palermas do costume”, pensamos, habituados a ver mais polícias que extremistas ao longo dos últimos meses. Vinte mil vozes irrompem dos céus e não, não são meia dúzia, Trafalgar Square está cheia de ignorantes. Já falta pouco para o  Bücherverbrennung.

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